PAÍS
Adivinhem Quem Preside à Comissão de Inquérito ao BES!
- Publicado em 14.10.2014
Foi preciso chegar a Outubro de 2014, para que a Assembleia da República, por iniciativa da esquerda parlamentar, decidisse constituir uma Comissão de Inquérito ao Caso BES.
Esta demora é absolutamente escandalosa, atendendo a que o Banco Espírito Santo faliu em fins de Julho passado, já lá vão quase três meses, e estão directamente em causa cerca de sete mil milhões de euros do erário público, investidos na tentativa antecipadamente gorada de salvar o banco e a que ainda por cima são, por enquanto, incomensuráveis as consequências da falência do grupo Espírito Santo na economia nacional.
Se medirmos o tempo decorrido não a partir da bancarrota do BES (30 de Julho de 2014), mas a partir da data em que, pela primeira vez, foi publicamente denunciada a falência do banco da família Espírito Santo e exigida a constituição de uma comissão de inquérito à Assembleia da República, o que ocorreu num escrito da minha autoria aqui publicado em 15 de Abril de 2014, então passaram-se seis meses até que o parlamento português criasse a referida comissão, o que torna ainda mais escandalosa a evidente conivência dos nossos deputados com os crimes da quadrilha de gatunos da família dos Espírito Santos.
Temos pois uma assembleia da República que levou mais de meio ano a acordar para o cumprimento dos seus deveres de averiguar o que se estava a passar com um dos mais importantes sectores da economia nacional.
Neste entretanto, os gatunos da família passeavam-se impunemente pelo país, prestavam declarações à imprensa e davam-se até ao luxo de explicar quando e quem recebera luvas de corrupção na compra de dois submarinos a um consórcio alemão, insinuando até que algum desse dinheiro teria ido bater aos bolsos de Durão Barroso e de Paulo Portas, respectivamente, primeiro-ministro e ministro da defesa do governo então em funções.
E há menos de duas semanas, o actual primeiro-ministro, Passos Coelho, jantava em Vilamoura, no Algarve, com um dos gatunos da família Espírito Santo, José Maria Ricciardi, a quem prestava a vassalagem devida de afilhado a padrinho da máfia lusitana.
Mas o escândalo da comissão parlamentar de inquérito ao Caso BES não está apenas na inusitada demora da sua constituição. O escândalo maior atingiu-se agora, com a escolha do presidente da comissão pela Assembleia.
Claro está que, ao menos parcialmente, os meus estimados leitores já adivinharam quem é o presidente: é com certeza um presidente afecto à maioria parlamentar…
Certo! Acertaram, pois em Portugal não há democracia, mas ditadura da maioria. Se houvesse democracia, a Assembleia teria escolhido para presidente da comissão de inquérito um deputado da minoria, ou, no mínimo, um deputado independente, imparcial, incorrupto e incorruptível. Se houvesse lá disso…
Só por aqui já se vê que a comissão de inquérito ao Caso BES terminará com uma decisão de arquivamento, como terminou a comissão de inquérito ao Caso dos Submarinos.
Mas não são apenas estes - inusitada demora e presidente da maioria – os escândalos da comissão de inquérito ao BES.
É que o deputado escolhido para presidir à comissão foi o licenciado Fernando Negrão, ex-magistrado judicial e antigo director da Polícia Judiciária, de onde saltou para o PSD e, aí, até chegou a ministro da Segurança Social.
Mas não foi por causa desse currículo que Negrão foi escolhido. Não! Negrão foi escolhido para presidir à comissão parlamentar de inquérito ao BES, porque Negrão é um homem de mão do BES!...
É verdade: Negrão foi, depois que deixou a magistratura, sócio da sociedade de advogados Albuquerque & Associados, e ainda está inscrito na Ordem dos Advogados como advogado daquela sociedade.
Ora, a sociedade de advogados Albuquerque & Associados teve e tem como cliente – adivinhem! – o Banco Espírito Santo, claro…
Negrão está inscrito na Ordem como advogado de uma sociedade de advogados que tem por cliente o BES.
E Negrão foi escolhido – e aceitou – ser presidente da comissão parlamentar de inquérito ao Caso BES.
Negrão não tem vergonha na cara, está visto; mas como poderemos falar em democracia, num País onde a maioria parlamentar utiliza métodos como este para proteger os gatunos?
A assembleia deve ser imediatamente dissolvida pelo presidente da República e convocadas eleições legislativas, porque uma assembleia como a actual, funcionando como funciona, é a negação da democracia e um obstáculo à aplicação do regime político constitucional em vigor.
A esquerda democrática parlamentar deve pura e simplesmente recusar-se a integrar e a participar em comissões de inquérito fantoches como é a comissão de inquérito, presidida por Negrão, lacaio do BES, com o objectivo de investigar o Caso BES.
A Comissão de Inquérito ao Caso BES é um escândalo.
A Assembleia da República actual é uma vergonha.
E o presidente da República é um farsante, pois só por conivência com ele há comissões escandalosas numa assembleia sem vergonha.
Espártaco
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Comentários
Abaixo a ditadura da maioria!
Carlos Correia
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