PAÍS
O Caso dos Submarinos
- Publicado em 09.10.2014
Antes de abordar o que se passou ontem, na Assembleia da República, com o caso dos submarinos, é necessário que o leitor me autorize a fazer aqui uma declaração prévia: quanto eu saiba, sou o primeiro comunista português – e não sei se não serei ainda o único – que entende que as principais ameaças à soberania e independência de Portugal concentram-se na posse da nossa zona marítima exclusiva, incluindo os recursos da correspondente plataforma continental. Em consequência, sou o único comunista português que defende o reforço substancial e urgente da nossa marinha de guerra, incluindo a guarda costeira, tanto em homens, para o recrutamento dos quais deve voltar-se à conscricção popular, como em material.
Não sou pois contra a aquisição de submarinos. Entendo mesmo que dois submarinos são poucos para a marinha de guerra que o País precisa, e que os dois submarinos já adquiridos são uma sucata que não presta para nada.
Bom: quando houver tempo voltaremos a isto.
O que agora me ocupa é o escândalo ocorrido ontem na Assembleia da República, onde foi discutido e encerrado o caso dos submarinos.
O caso dos submarinos resume-se a isto: uma série de negociantes alemães corromperam, por diversas formas, incluindo luvas e dinheiro, um conjunto de cidadãos portugueses, do primeiro-ministro Durão Barroso a alguns oficiais de marinha e da família Espírito Santo ao então ministro da defesa Paulo Portas, vendendo a Portugal, por preços absolutamente exorbitantes, submarinos que não prestam nem para a aquacultura de anchovas, e tão exorbitantes que dariam para comprar um porta-aviões, se a nossa marinha porventura precisasse desse sistema de armas, o que não é o caso.
Na Alemanha, os tribunais julgaram já, e condenaram, os corruptores dos portugueses, e impuseram-lhes penas pesadas.
Em Portugal, a procuradora-geral da República não consegue encontrar os criminosos da corrupção passiva, os que receberam dinheiro e luvas, nem consegue levá-los a julgamento.
A coisa é tanto ou mais escandalosa do que o arquivamento do processo da ocultação da dívida pública da quadrilha de bandidos de Alberto João Jardim, a que me reporto noutro artigo aqui publicado hoje no Luta Popular Online.
É que até um dos corrompidos, o então chefe do bando Espírito Santo, Ricardo Espírito Santo Silva Salgado, já fez declarações à imprensa sobre o montante das luvas recebidas pelos membros da família, pela empresa que intermediou o negócio, e até foi ao ponto de indicar a quantia global que coube ao primeiro-ministro e ao ministro da defesa, embora sem indicar as respectivas somas e nomes.
A imprensa também já descobriu, e tornou público, um movimento de mais de meio milhão de euros na conta bancária do CDS naquela altura, e ninguém é detido, preso ou interrogado, tudo graças à procuradora-geral da República e ao glorioso ministério público que temos.
Foi constituída, por agendamento potestativo da esquerda parlamentar, uma comissão de inquérito ao caso dos submarinos. E foi escolhida para a direcção dos trabalhos uma tal Mónica Ferro, deputada do PSD, que não tem a mínima noção dos direitos que cabem à minoria parlamentar no agendamento e condução de uma comissão de inquérito, onde está em causa a questão de saber quem foram os portugueses que se deixaram corromper pelos alemães corruptores e que, por isso, até já foram julgados e condenados na Alemanha.
Em todo e qualquer país democrático, estas comissões de inquérito destinam-se a apurar a verdade, doa a quem doer e seja qual for a maioria.
Em Portugal, sob a direcção de um presidente da República inculto, analfabeto e reaccionário, e com um governo lacaio e a soldo dos banqueiros, como é o governo de traição nacional Coelho/Portas, as comissões de inquérito, quando está em causa o apuramento de factos criminosos cometidos por gente do partido ou dos partidos da maioria, pura e simplesmente não funciona.
Para a direita portuguesa, Portugal não vive numa democracia; Portugal vive sob uma ditadura da maioria.
A maioria pode roubar, pode receber luvas, pode vender o País, que ninguém pode válida e eficazmente apurar os crimes da maioria ou impedi-la de governar e de roubar.
Assim, quando a comissão parlamentar de inquérito entrou no passo de determinar as condutas de Durão Barroso e de Paulo Portas, os trabalhos foram encerrados e votado o relatório da presidente da comissão, Mónica Ferro do PSD, que já o trazia escrito de casa ou da Rua de São Caetano.
Desta vez, a esquerda parlamentar não se portou mal de todo: trazia também um relatório já pronto e juntou-o, como declaração de voto de toda a esquerda, incluindo aqui o PS.
Mas o escândalo aí está na mesma: em Portugal reina a ditadura da maioria; mesmo quando estão em causa crimes, as comissões de inquérito parlamentares param no preciso momento em que se vão descobrir os criminosos da maioria.
Só por este escândalo, que mostra eloquentemente como a democracia e a constituição não funcionam em Portugal, o nosso presidente de Boliqueime deveria dissolver a Assembleia da República, por conter uma maioria que protege criminosos.
É por isso que eu aproveito para repetir: internem-me esse gajo! E não esperem nada da procuradorazinha…
Espártaco
Leia também:
O Escândalo da Dívida Pública da Madeira. - Mais Uma da Procuradora-Geral da República!...
Rua com a Procuradora-Geral da República!
A Família Espírito Santo Embolsou 5 Milhões de Euros de Comissões dos Submarinos Afinal, Quem, Uma Vez Mais, Tinha Razão?
Comentários
E dando o exemplo da Suécia , não faz parte da hegemonia dos Estados Unidos (NATO) e desenvolve os seus próprios submarinos .
Carlos Pais
Assine o RSS dos comentários