INTERNACIONAL
Catalunha: A Tropa Espanhola Arrasta as Botas…
- Publicado em 19.11.2014
Apesar de informal, não vinculativo e meramente consultatório, o referendo popular sobre a independência da Catalunha, em 9 de Novembro passado, saldou-se, como já tivemos oportunidade de frisar neste espaço, por uma histórica e retumbante vitória política, tanto mais que o referendo, a despeito da sua informalidade, não deixara de ser proibido, sob a ameaça de severas penas, pelo caquético tribunal constitucional de Espanha.
Mas quando, mesmo sob a chantagem de penas de prisão, o povo catalão, unido como uma rocha de granito, conseguiu mobilizar 40 930 voluntários anónimos para organizar, em todo o país catalão, um referendo nacional, e o referendo atraiu, às oito mil urnas improvisadas em 6 625 mesas informaticamente controladas, quase metade dos eleitores inscritos no último sufrágio e 81% dos votantes escolhe para a sua amada Catalunha o estatuto político de um país independente, ninguém, na Espanha e no Mundo, pode ficar indiferente ao processo soberanista catalão.
Precisamente porque proibido e ilegalizado pela corte constitucional e atacado pelo governo reaccionário de Mariano Rajoy em Madrid, o referendo independentista de 9 de Novembro na Catalunha iniciou uma nova etapa – a última – que só terminará com a independência política do Estado Catalão e a sua completa separação do reino de Espanha.
Catalunha, igual que Portugal!
A primeira consequência da demolidora vitória do referendo informal de 9 de Novembro foi a inesperada palinódia de Rajoy, ao confessar, no último fim de semana em Madrid, os seus erros na forma como tem abordado a questão catalã e, designadamente, na maneira como se tem oposto ao desejo soberanista do povo da Catalunha. Rajoy prometeu visitar Barcelona e discutir aí, com os dirigentes regionais, os problemas em aberto, ele, Rajoy, que, através da vice-presidente do governo do PP, tinha rejeitado liminarmente discutir com pessoas que queriam a independência.
Esta pequena auto-crítica de Rajoy levou logo os generais de Espanha a desembainharem as espadas e a escarvar com as botas cardadas do franquismo os salões de Madrid.
O chefe do estado-maior do Exército de Terra, o General Jaime Dominguez Buj, na conferência ontem proferida em Madrid, no Instituto das Questões Internacionais e da Política Exterior, sob o tema Um Exército para o Século XXI, começou logo por deixar bem sublinhado que lhe duele España.
Dói-me Espanha é uma expressão provocatoriamente roubada por Dominguez Buj a Miguel de Unamuno, grande sábio, filósofo e homem de cultura espanhol, que a pronunciou em Salamanca num contexto absolutamente oposto, justamente quando as tropas fascistas de Franco tomaram Barcelona e massacraram os últimos resistentes republicanos na Guerra Civil de Espanha.
Saída provocatoriamente conspurcada da boca nojenta do general Dominguez Buj, alcança-se bem o tom e a ameaça que o grosseiro chefe do estado-maior do Exército de Terra de Espanha pretendeu vomitar sobre o povo catalão, quando usurpou a Unamuno a bela expressão me duele España.
No campo ideológico, a luta do povo da Catalunha pela sua independência já vai neste ponto.
Dominguez Buj não se ficou por aqui sobre a situação na Catalunha, e disse ainda que “estes processos ocorrem quando o poder central é débil”; e lembrou que a perda das colónias (Cuba e Filipinas), na guerra hispano-americana de 1898, “aconteceu quando e porque a metrópole se fez fraca”.
Com este discurso franco-fascista, o general Dominguez Buj, designadamente no ponto em que fez equivaler a Catalunha a uma colónia, provocou o mais vivo repúdio entre os partidos políticos espanhóis, mas nem uma única palavra até agora, na Catalunha.
Os catalães sabem muito bem que a independência da Catalunha dificilmente será – ou nunca será! – um processo pacífico! Os arrotos dos generais franquistas não os intimidam, porém.
O partido socialista operário espanhol (PSOE), através do seu porta-voz no grupo socialista no Congresso, António Hernando, exigiu ao general Dominguez Buj que retirasse imediatamente os seus comentários sobre as questões catalãs e exigiu ao ministro da defesa, Pedro Morenés, que impusesse explicações ao chefe de estado-maior.
Como quer que seja, e por mais que ameacem com o desembainhamento das suas toledanas e por mais que arrastem as botas nas estrumeiras das casernas, as forças armadas franco-fascistas espanholas serão esmagadas pelo povo da Catalunha, unido, como está, com os povos e nações oprimidas do mundo.
Em Espanha, uma constituição monarco-fascista, negociada com a capitulação ideológica de pretensos comunistas e falsos socialistas, não chegou nunca a reconhecer o princípio fundamental do direito político constitucional e internacional moderno: o direito dos povos à autodeterminação e independência e ao desenvolvimento, bem como o direito à insurreição contra todas as formas de opressão, direito fundamental este que está inscrito no n.º 3 do art.º 7.º da Constituição da República Portuguesa.
Quanto a nós, portugueses, apoiamos incondicionalmente a luta do povo irmão catalão pela sua independência, quaisquer que sejam as formas que essa luta tenha de assumir.
Em frente pela independência da Catalunha!
Espártaco
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