INTERNACIONAL
Catalunha: Ara És L’hora
Publicado em 10.11.2014
Contra tudo e contra todos, o nobre povo catalão realizou ontem, em toda a região autonómica da Catalunha, o referendo sobre a independência do território, há muito marcado para o dia 9 de Novembro.
Em 27 de Setembro último, Artur Mas, presidente da Generalitat, governo da Catalunha, assinou em Barcelona os dois diplomas, votados no parlamento catalão, que permitiam levar a cabo o referendo sobre a independência da Catalunha, conforme aqui noticiámos aos nossos leitores em 30 de Setembro.
Tratava-se do diploma regional sobre a lei das consultas (Lei n.º 10/2014 da Catalunha), para poder inquirir os catalães com mais de 16 anos sobre as suas opções independentistas, e o decreto sobre o Referendo, aprovados pelo Dec. 129/2014 da Catalunha, regulador do regime jurídico das consultas eleitorais da Região, nomeadamente a do referendo 9N.
Bravo como um Miura, o fascisto-franquista Mariano Rajoy, presidente do governo de direita no Poder em Madrid, recorre daquela legislação eleitoral autonómica catalã para o caquético tribunal constitucional de Espanha, o qual, pelo simples facto de admitir a interposição do recurso, suspende a eficácia da legislação recorrida.
Aos soberanistas catalães abriram-se duas vias de diálogo, chamemos-lhes assim: a via da desobediência civil ao tribunal constitucional, como defendia a Esquerda Republicana Catalã (ERC), avançando com o referendo e conferindo-lhe carácter vinculativo, ou a via da transformação do referendo vinculativo num referendo informal, auscultativo da vontade de independência dos catalães.
Rajoy e o governo de Madrid recorreram também desta decisão para os juízes monarco-fascistas do tribunal constitucional, o qual, admitindo o recurso, suspendia imediatamente a decisão impugnada, como já fiz notar acima.
Chegadas as coisas a este ponto, os partidos soberanistas catalães resolveram avançar com o referendo auscultativo sobre a independência, borrifando-se no tribunal constitucional de Espanha e nas prepotências do governo cripto-franquista de Madrid.
Fazendo um apelo ao voluntariado cívico dos catalães, de modo a que ninguém pudesse vir a ser acusado e punido por violar as imposições do tribunal constitucional, os partidos soberanistas montaram um poderoso e espectacular referendo com base em 40 930 voluntários sem nome, que foram distribuídos por toda a Catalunha, onde montaram 8 000 urnas, algumas de cartão, distribuídas por 6 625 mesas, com computadores em cada uma delas, para registar cada um dos eleitores e impedir que pudessem votar mais do que uma vez, mediante a digitalização do bilhete de identidade ou passaporte de apresentação obrigatória.
A ordem foi mantida pelos próprios cidadãos, auxiliados por 6 692 mossos de esquadra, - a polícia da Generalitat catalã - mossos que foram bem necessários para desarmar e deter um grupelho de energúmenos fascistas encapuchados que, na cidade de Girona, irromperam pelo Instituto da Escuela de Hosteleria aos gritos de Arriba Espanha, e derrubaram as mesas de voto aí instaladas.
O referendo, muito embora informal e consultatório, foi uma verdadeira festa da independência em todo o território da Catalunha.
Mas, para além de uma massiva festa popular e cívica, o referendo saldou-se por uma espectacular vitória política. Mais de dois milhões e meio de catalães votaram no referendo, quase metade dos eleitores inscritos no anterior acto eleitoral.
Como já tive aqui a oportunidade de vos referir, num texto anterior respeitante à luta dos nossos irmãos catalães, o boletim do referendo trazia duas perguntas impressas:
1. Quer que a Catalunha seja um Estado?
2. Se sim, quer que a Catalunha seja um Estado Independente?
O duplo sim – o voto dos eleitores que quiseram que a Catalunha seja um estado independente - alcançou 81% dos votos expressos.
Rajoy, o Partido Popular e o governo cripto-franquista de Madrid rejeitaram imediatamente o referendo, alegando a sua ilegalidade e inconstitucionalidade. O Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) não reconheceu expressamente os resultados, mas propugna que, com ele, se iniciem negociações que poderão levar, segundo o seu secretário-geral, à hipótese da elaboração de uma nova constituição para estabelecimento de um Estado Federal em Espanha, contemplando a hipótese de englobar, como estados federados, as outras regiões actualmente em luta pela independência: País Basco, País Valenciano, Galiza.
A proposta do PSOE chega manifestamente tarde, pois o País Basco/Navarra, a Galiza e o País Valenciano, não deixarão de continuar, conjuntamente com a Catalunha, a luta pela respectiva independência.
A vitória espectacular obtida ontem no referendo de 9 de Novembro colocou a Catalunha no caminho da sua independência total, luta que o povo catalão vem a travar há mais de trezentos anos.
Ara és l’hora. Agora é a hora!
Viva a justa luta do povo irmão da Catalunha pela sua independência nacional!
Espártaco
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