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PAÍS

O Manifesto dos Setenta

1. Agora que foi integralmente publicado o texto do manifesto para a reestruturação da dívida, cumpre precisar que o número dos tartufos que o subscreveram é de setenta e cinco e não de setenta, como fora antecipadamente anunciado na comunicação social e disso aqui se fizera eco o Luta Popular. Mais cinco ou menos cinco, nada altera a substância ou o significado político do documento, que agora se examinará mais de espaço, começando por uma breves palavras sobre o fácies político de alguns dos seus subscritores.

E a primeira palavra é para sublinhar o facto de que, muito embora não tivesse sido previamente denunciado, o hipócrita número setenta e cinco e último da lista – o Dr. Victor Ramalho – é o único soarista entre todos os assinantes do documento.

Ora, toda a gente sabe que o Dr. Mário Soares nunca propôs nem a linha geral nem as medidas políticas avançadas neste manifesto para a reestruturação da dívida, tendo aliás, e por mais do que uma vez, tanto nos discursos proferidos nas notáveis assembleias unitárias da Reitoria, como nas múltiplas e frequentes intervenções políticas na imprensa falada e escrita, sempre chamado a atenção para a impossibilidade de pagar a dívida – Não pagamos!, escreveu ele num dos seus artigos no Diário de Notícias – impagabilidade que, em última análise, se ficou unicamente a dever à suicidária ajuda da Tróica e à traição do presidente Cavaco e do seu governo de direita.

O soarista Vítor Ramalho tem a estrita obrigação de saber que o seu tutor nunca mendigou à Tróica nenhum haircut (corte de cabelo ou perdão parcial) da dívida, e que aquilo que sempre tem exigido é a imediata demissão do próprio Cavaco e do seu governo, com a eleição imediata de um governo democrático e patriótico (a expressão foi usada pelo Dr. Soares), que tome a direcção do País e o arranque das garras da Tróica, dos seus credores e da ditadura da dívida.

Os abaixo-assinados subscritos, entre outros, pelo Dr. Soares e pelo soarista Victor Ramalho e enviados à Assembleia da República no ano transacto são totalmente diferentes e estão os dois à esquerda deste mendicante manifesto sobre a reestruturação da dívida.

Claro está que não vai aqui perder-se tempo com o exame da personalidade política dos tartufos que subscreveram o manifesto dos setenta e cinco, mas convirá lembrar, mesmo que só de passagem, que entre eles se contam uns pândegos como o marcelista, depois socialista, Engº João Cravinho, redactor do manifesto em apreço, e que foi o ministro de Guterres que mais endividou o País, com o lançamento das ruinosas primeiras parcerias público-privadas (PPP) e com a execução dos igualmente ruinosos projectos do comboio pendular Lisboa-Porto, do comboio na ponte sobre o Tejo e das auto-estradas ditas sem custos para os utilizadores (as famigeradas SCUTs), tudo manigâncias de engenharia económico-financeira que liquidariam a curto prazo todo e qualquer equilíbrio orçamental e que criaram uma dívida que nos está hoje a custar os olhos da cara e irá também custar os olhos da cara aos nossos filhos, netos, bisnetos e tetranetos. Ou filisteus como o salazarista-marcelista-eanista-socialista Dr. Silva Lopes, ministro das finanças responsável pelo primeiro governo de bancarrota depois do 25 de Abril e pela vinda da primeira Tróica.

Tudo gente que, como se vê, é capaz de tudo, menos de ter vergonha na cara.


2.
Tal não significa, porém, que os subscritores do manifesto sobre a reestruturação da dívida pública não tenham o direito de livre e publicamente se exprimirem, conforme entenderem, sobre a matéria em apreço.

A dívida é, de momento, o mais grave e importante problema nacional. A política de traição nacional do governo Coelho/Portas e do presidente Cavaco é uma política que, em nome de um pretenso dever sacrossanto de honrar escrupulosamente o pagamento das dívidas aos credores, pôs em marcha, como em 1926, um movimento contra-revolucionário destinado a liquidar a democracia, a impor uma ditadura de tipo fascista, o roubo aos operários e a todos os trabalhadores do trabalho, dos salários, do descanso, das reformas e das pensões.

O povo português tem o estrito dever de tomar consciência da contra-revolução que está em curso e de, erguendo-se como um só homem, derrubar, por todos os meios ao seu alcance, sem excluir a força, o presidente da República e o governo de traição nacional Coelho/Portas, substituindo-o por um governo democrático e patriótico que repudie imediatamente o pagamento da dívida pública, decida da imediata saída do euro e reassuma imediatamente toda a soberania política, económica, financeira, monetária e cambial perdidas mediante tratados assinados, sem consulta popular, por governos de traidores.

Com efeito, o tartufo de Belém – leia-se Cavaco Silva – tem vindo, sobretudo nos últimos dois anos, a convocar reuniões, designadamente do Conselho de Estado, para ser discutida a política a aplicar no que ele próprio apelida de período post-Tróica.

Sempre que abre a boca, Cavaco não perde a oportunidade de, no meio dos disparates que profere, chamar a atenção dos partidos ditos do arco-do-poder para discutirem e estabelecerem um consenso para os tempos posteriores à saída da Tróica, prevista para Maio deste ano.

No prefácio do seu livro Roteiros, Cavaco discute consigo mesmo (não se diga que discute com os seus leitores, porque, afora o signatário deste texto, duvida-se que mais alguém o leia) aquilo que acha que mais ninguém pode discutir, nem sequer os membros da sua casa civil e militar.

Na verdade, no prefácio do seu oitavo volume dos Roteiros, dado a conhecer no passado fim-de-semana, Cavaco calculava que, mesmo quando Portugal conseguisse todos os anos um excedente primário de 3% [num cenário de crescimento anual do PIB nominal de 4% e com juros da dívida de 4%] só em 2035 – - daqui a 21 anos! - é que o País conseguiria alcançar o rácio de 64% da dívida em relação ao PIB, imposto pelo tratado de Maastricht.

Ora, como nunca houve, à face da Terra, nenhum país que, ao ano, continuamente e durante 21 anos, tivesse um excedente primário de 3% do PIB, segue-se que, mesmo para um indivíduo um bocado chapado como o Cavaco de Boliqueime, não restariam dúvidas de que levaríamos várias vidas a pagar a parte excessiva da dívida.

Teríamos, como o homem já uma vez disse a respeito da sua apregoada mas discutível seriedade, que nascer várias vezes para poder pagar, entre outras, a dívida do banco de Cavaco e dos cavaquistas à nação.

Mas a questão imediata é esta: se Cavaco acha que pode gizar os cenários que quiser, como o fez no prefácio do VIII volume dos Roteiros, e pode concluir que a situação é tão má que, à cautela, o melhor será negociar já com a Tróica um programa cautelar, com o apoio do PS, de modo a que a Tróica continue, vigilante e austeritária, mais vinte e um anos em Portugal; se Cavaco pode pensar e escrever cenários e propostas destas, em nome de que princípio ou de que norma mais ninguém, senão Cavaco, pode exprimir-se livremente sobre a dívida?

Por que é que os setenta e cinco pilantras que subscreveram o manifesto para a reestruturação da dívida não haveriam de poder subscrevê-lo?!

E por que é, então, que Cavaco achou que deveria exonerar os seus conselheiros Drs. Sevinate Pinto e Victor Martins, só por terem assinado aquele manifesto?

Como é evidente, os conselheiros do presidente da República são recrutados e pagos para dar os seus conselhos, não para adivinhar e concordar com as ideias absconsas do inquilino de Belém.

E o mesmo se haverá de observar quanto ao carácter ditatorial do actual governo: ele, governo, e só ele, como aliás no tempo de Salazar, pode ter ideias sobre a dívida; o resto do País, e designadamente os partidos da oposição, ou se abstêm de ter ideias, ou, tendo-as, não as revelam, ou então, o que é até mais fácil, limitam-se a concordar com os governantes das bandeirinhas na lapela...

Chegámos, pois, a uma situação em que o mais grave e importante problema político nacional – o da dívida – só poderia ser debatido e tratado no espaço público pelos traidores que actualmente ocupam Belém e São Bento.

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