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Radar da Madeira: Um Monte de Sucata no Pico do Areeiro

pico do areeiro 02O Pico do Areeiro, com 1818 metros de altura, é o terceiro pico mais alto da ilha da Madeira, depois do Pico Ruivo, com 1861 metros, e do Pico das Torres, com 1851 metros.

Os três picos constituem o topo da cordilheira central da ilha da Madeira, razão por que, a partir dos anos oitenta do século passado, a Chefia do Estado-Maior da Força Aérea (CEMFA) e o Ministério da Defesa Nacional (MDN), com a aquisição de nova tipologia de aeronaves para dotação e armamento da força aérea portuguesa, nomeadamente os caças F16, decidiram escolher um daqueles três picos para aí instalar uma estação de radar que passasse a fazer parte integrante do projecto de extensão do Sistema de Comando e de Controlo Aéreo de Portugal (SICCAP) ao arquipélago da Madeira.

Dos três picos do topo da cordilheira central, acabou por ser escolhido o Pico do Areeiro, por ser o mais próximo da cidade do Funchal e por dispor já de uma estrada de acesso.

Foi assim construída a Estação de Radar n.º 4 da Força Aérea Portuguesa, no Pico do Areeiro, na Região Autónoma da Madeira. Como o estimado leitor saberá, a Estação de Radar n.º 1 está localizada na Serra de Monchique, no Algarve, a Estação de Radar n.º 2 está situada na Serra do Pilar, em Paços de Ferreira, e a Estação de Radar n.º 3 está instalada na Serra de Montejunto, nos arredores de Lisboa, que funciona também como Centro de Operações Aéreas Alternativas e que tem como missão garantir a capacidade de operações, como centro de controlo na defesa aérea de Portugal.

A escolha do Pico do Areeiro para a construção da Estação de Radar n.º 4 gerou uma acesa polémica na Região Autónoma da Madeira, com a esquerda e a oposição em geral a expressarem-se contra a proposta da Força Aérea e do Ministério da Defesa.

O secretário-geral do PCTP/MRPP à época tomou nesse debate posição favorável à construção da Estação de Radar n.º 4 no Pico do Areeiro.

Eram dois os argumentos da oposição local: em caso de guerra, o Radar atrairia os mísseis do inimigo sobre a Madeira e os madeirenses; além disso, e entretanto, o Pico do Areeiro fora definido pelo governo regional como um sítio integrante da Rede Natura 2000 na Região Autónoma da Madeira, opondo essa qualificação obstáculos ecológicos à construção da estação.

Como se sabe, a Rede Natura 2000 é uma rede ecológica para o espaço comunitário da União Europeia, resultante da aplicação de duas directivas – a Directiva Aves e a Directiva Habitats – que se destinam a garantir a protecção das espécies e dos seus habitats, com o objectivo de assegurar a biodiversidade.

freira da madeira 01Ora, com a Rede Natura 2000, todo o maciço central da Madeira ficou a constituir uma Zona Especial de Conservação (ZEC) e precisamente toda a área do Pico do Areeiro ficou a constituir uma Zona de Protecção Especial (ZEP) para a freira da Madeira, a ave europeia mais ameaçada de extinção e que nidifica nas imediações do Pico do Areeiro.

O então secretário-geral do Partido passou por um mau bocado, pois entendia que, por um lado, a freira da Madeira (Pterodroma faea), ave marinha pelágica da família das procelaríidas, jamais desapareceria enquanto continuassem a existir as espécies piscícolas de que ela se alimentava – e, na verdade, o número de casais tem vindo a aumentar mesmo depois da construção da estação de Radar - e, por outro lado, a instalação de uma central de radar para a força aérea na Madeira, e também na Região Autónoma dos Açores, era altamente vital para o controlo e segurança do espaço aeronaval da nossa Zona Económica Exclusiva.

Para convencer uma parte da oposição madeirense a aceitar a construção da Estação de Radar n.º 4 no Pico do Areeiro, foi muito importante a palestra proferida no Funchal pelo general Loureiro dos Santos.

A estação lá foi construída, e a cerimónia de activação do radar realizou-se no dia 9 de Maio de 2013, já sob o reinado do governo de traição nacional Coelho/Portas e do ignorante ministro da defesa nacional José Pedro Aguiar Branco.

Como já se deixou assinalado um pouco atrás, a criação da Estação de Radar n.º 4 (ER4) é parte integrante e fundamental do projecto de extensão do Sistema de Comando e Controlo Aéreo de Portugal (SICCAP) ao arquipélago da Madeira, incluindo as Selvagens.

Para tanto, a operacionalidade efectiva do ER4 terá de durar 24 horas por dia, todos os dias do ano, com todas as suas capacidades próprias, que além de ampliar o alcance da defesa aérea nacional, permitirá a vigilância e o controlo do Espaço Estratégico de Interesse Nacional. Assim, para além de factor persuasor e determinante na afirmação da soberania nacional, a ER4 permite aumentar a eficácia e segurança de outras missões de interesse público, como as de alerta, busca e salvamento, a fiscalização da pesca e de ilícitos marítimos e aéreos e a protecção do ambiente.

No dia seguinte ao da activação da ER4, os aviões de caça F16 fizeram a sua aparição na Madeira, utilizando a pista do Porto Santo, dado que a pista da Madeira é insuficiente para a operacionalidade daquele tipo de aeronaves.

E no dia 9 de Maio de 2014, a ER4 celebrou o primeiro aniversário da inauguração daquela unidade da força aérea e o segundo ano da transmissão do sinal de radar para o Centro de Relato e Controlo em Monsanto. Naquela ocasião, procedeu-se à entrega do Centro de Comando e impuseram-se várias condecorações, a lataria do costume…

pico do areeiro 01Parecia que corria tudo bem com a Estação de Radar n.º 4 da Força Aérea Portuguesa, brinquedo que custou ao orçamento geral do Estado a módica quantia de 28 milhões de euros.

Até que, aqui há dias, nos últimos dias da última semana de Outubro, o comando militar da Nato na Europa (Shape), não conseguindo ocultar uma profunda surpresa, comunicou ter detectado a presença simultânea de dezanove aviões militares russos de diversas tipologias, entre bombardeiros estratégicos Tupolev 95, caças SU27 e reabastecedores Ilyushin 78, em manobras no espaço aéreo europeu sobre águas internacionais, o que ocorria pela primeira vez na história militar do Velho Continente.

As manobras aéreas russas com aviões idênticos continuaram na sexta-feira seguinte, dia 24 de Outubro, sobre o mar Báltico, o mar do Norte, o mar Negro e o oceano Atlântico, acontecendo que, em qualquer destes dois dias (24 e 26 de Outubro), as aeronaves da Federação Russa atravessaram durante longas horas, de norte para sul e de sul para norte, o espaço aéreo da zona económica exclusiva portuguesa.

Não se conhecem ainda em pormenor as operações levadas a cabo pela força aérea russa naquela última semana de Outubro, pois o comando político e militar da chamada Aliança Atlântica – Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) – manteve silêncio sobre uma manobra militar global da Federação Russa que parece tê-lo surpreendido tanto pela envergadura como pela ousadia.

A única coisa que verdadeiramente se sabe é que, de entre todas as operações aéreas efectuadas pelos russos, cada uma das duas que nos passaram pela porta era inicialmente constituída por uma esquadrilha de quatro bombardeiros estratégicos Tupolev 95, com quatro aviões-tanque Ilyushin 78 para reabastecimento, que descolaram da cidade báltica de Kalininegrado, enclave russo entre a Lituânia e a Polónia, que a partir daí sobrevoaram o mar Báltico e o mar do Norte, que contornaram pela Noruega e pela Escócia as Ilhas Britânicas e que, por aí, metade da esquadrilha derivou no Atlântico para sul, sobrevoando espaço aéreo sobre a zona económica exclusiva de Portugal, seguindo o meridiano que fica a duzentas e sessenta milhas a oeste de Peniche, até ao paralelo de Sagres, zona onde inverteram o rumo para norte e regressaram, ao fim do dia, à cidade onde nasceu e ensinou Immanuel Kant, o filósofo idealista das críticas da razão e do juízo…

Entre a panóplia do seu armamento, cada um dos bombardeiros estratégicos que nos visitou naquela semana de Outubro – e que tem o nome civil de Urso – pode também transportar uma bomba de hidrogénio.

Portugal acabou participando nos exercícios russos, quando fez descolar da base aérea de Monte Real, ali perto de Leiria, dois caças F16, que comprámos aos americanos e nos custou os olhos da cara e do orçamento e que, ao fim de longa pesquisa, se aconchegaram civilizadamente à rectaguarda dos Ursos, enquanto puderam…

A Federação Russa estará deveras muito grata a Portugal pela sua valiosa colaboração no exercício, pois assim ficou a saber duas coisas da máxima importância: que a Estação de Radar n.º 4 do Pico do Areeiro não funciona, pois cada vez que o nosso F16 procurou chegar ao alvo, o alvo – o Urso – já não estava lá; e que, assim, nenhum dos nossos F16 dispõe de autonomia de vôo para encontrar e acompanhar um Urso no Espaço Estratégico de Interesse Nacional.

Deste modo, contando apenas com as Estações de Radar n.os 1, 2 e 3, foi preciso mobilizar dois F16, para encontrar e acompanhar um Tupolev 95.

O que é que aconteceu então à Estação de Radar n.º 4 da Força Aérea no Pico do Areeiro?

O que aconteceu é que um dos mais importantes instrumentos de defesa do País – o Radar da Força Aérea no Pico do Areeiro - não tem capacidade para desempenhar a missão para a qual foi instalado no maciço montanhoso central da ilha da Madeira…

Segundo informações facultadas por fontes da própria Força Aérea, “o radar detecta aviões ou navios com eficácia, mas depois não é capaz de transmitir os dados para o Comando Aéreo, ou melhor, transmite-os, mas com atraso e pouca qualidade” “Na prática, se o radar tiver de ajudar um F16 a chegar a um alvo, quando o caça chega ao ponto designado, já o alvo não está lá!”...

Nesta conformidade, se a determinação da rota dos bombardeiros estratégicos da Federação Russa estivesse apenas dependendo do radar instalado na Madeira, os F16 e a Força Aérea Portuguesa não saberiam nunca que uma frota aérea de Tupolev 95 e de Ilyushin 78 se passeava no nosso Espaço Estratégico de Interesse Nacional.

Assim, o Sistema de Comando e Controlo Aéreo de Portugal, o SICCAP, está capado…

Agora, adivinhe o leitor onde e a quem é que a Defesa Nacional foi comprar este radar!

Exactíssimo! Eu sabia que o leitor adivinharia… Sim senhor, foi comprá-lo a Espanha e aos espanhóis. O radar é um 3DLanza, que também equipa a força aérea espanhola…

Mais uma vez, das grandes às pequenas coisas, todos os dirigentes políticos portugueses, do primeiro-ministro ao ministro da defesa e ao presidente da República, se comportam, em todas as questões fulcrais, como miguéis de vasconcelos. Perfeitos patifes e traidores.

Ora, a Força Aérea Portuguesa precisaria de um radar militar que reforçasse o sistema de comando e controlo aéreo português. Radar militar com capacidade de contramedidas electrónicas, de tal modo que, se o tentassem cegar, o radar anulasse o ataque electrónico.

O único inimigo histórico que os portugueses têm é o Estado Espanhol e o Estado Espanhol é ainda hoje a principal ameaça à independência e à soberania portuguesas.

pico do areeiro 03No caso da Região Autónoma da Madeira, Portugal tem, a sul do arquipélago, uma séria ameaça quanto à soberania sobre o pequeno arquipélago das Selvagens. O radar instalado no Pico do Areeiro é o radar que se destina a vigiar o espaço aéreo e marítimo da zona económica exclusiva e da plataforma continental, que inclui as Selvagens.

Como é que o ministério dito da defesa nacional vai adquirir a Espanha um radar que se destina a vigiar a Espanha?!...

Só na cabeça de um traidor, como é a do ministro Aguiar Branco, e, pelo visto, na do chefe de estado-maior da força aérea, pode passar a ideia de comprar ao inimigo a tecnologia e o armamento com que nos iremos um dia defender desse inimigo.

O general Loureiro dos Santos deve voltar urgentemente à Madeira para explicar aos madeirenses, que da primeira vez o ouviram com atenção, como é que o radar instalado no Pico do Areeiro, de fabrico e tecnologia espanhóis, constitui um reforço da independência e da soberania de Portugal. Quando um general está disposto a vender a Pátria, a Pátria deve desembaraçar-se desse general.

Gastámos pois 28 milhões de euros não para termos mais uma Estação de Radar, que reforçasse o sistema de comando e controlo aéreo de Portugal, mas sim para que a Espanha tenha mais uma unidade no seu sistema espanhol de controlo do nosso País.

Em abono da verdade, diga-se que alguém na Força Aérea teria proposto, para garantia não da segurança militar do equipamento, mas para garantia da eficácia da ligação entre o radar da Madeira e o Comando da Força Aérea em Lisboa, o estabelecimento de uma linha dedicada e exclusiva, que custaria mais cinco mil euros mensais do que uma linha partilhada, paga à PT. Aguiar Branco recusou esta solução por ser mais dispendiosa. E, de passagem, permitam-me chamar aqui a atenção para o crime de lesa-pátria que foi a privatização integral da PT.

O que os madeirenses – os portugueses, claro está - têm hoje no Pico do Areeiro não é um radar, mas um monte de lata, de sucata, - que esse, sim, mata de medo as pequenas procelárias - à espera de um Manuel Godinho que a venda pelo melhor preço ao primeiro sucateiro que apareça.

Espártaco 

 

 

 

 

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Comentários   

 
# Manuel de Lima Silva 27-11-2014 10:28
Cada vez chego mais facilmente à conclusão que os generais e governantes mais depressa estão ao serviço das potencias alheias do que do país que fazem parte e que participam em negociatas do qual só Portugal perde para alem de avultadas quantias em euros perdem também a identidade (Defesa aérea e marítima?!!) Que é um atentado à pátria.

Saudações.
 
 
# Rui Mateus 28-11-2014 18:29
Só um governo vende-pátrias se comporta assim... os democratas e patriotas têm com urgência lutar pelo derrube deste governo.
 

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