PAÍS
CÂMARA DA VIDIGUEIRA EXPULSA COMUNIDADE CIGANA
- Publicado em 22.07.2014
As cerca de 15 famílias ciganas, a maioria das quais a viver há mais de trinta anos na Vidigueira, junto ao castelo da vila, foram vítimas de um golpe de mão inqualificável por parte do presidente da câmara do PCP Manuel Narra.
Num total de 70 pessoas, tinham sido, há cerca de 2 anos, alojadas nuns autênticos pardieiros, pomposamente designados de Parque de Estágio, sem água e sem esgotos: um verdadeiro armazém onde foram encafuados, tendo apenas uma espécie de casa de banho comum no exterior.
Mas sucede que, como nos relatou um cigano da comunidade de Moura, aquilo que estava ali foi feito ilegalmente... a Câmara comprou os terrenos…mas a construção era ilegal.
Sempre escondendo este facto e nunca tendo uma outra alternativa em vista, o presidente da câmara, aproveitando o afastamento temporário desta comunidade, no seguimento de um desentendimento entre as duas famílias que compunham aquele grupo – comportamento que é normal - decidiu pura e simplesmente arrasar o edifício destruindo juntamente todos os haveres e objectos pessoais dos ciganos.
Como foi relatado aos jornalistas do Luta Popular que ali se deslocaram, a Câmara e a GNR foram ao local inteirar-se da situação e perante os acontecimentos, decidiram já para aqui não vêm. Derrubaram tudo, demoliram, aquilo era de fácil demolição, mas como eles sabiam que mesmo derrubando continuava a ter os telheiros, riparam a terra toda senão eles voltavam...
Um outro cidadão da Vidigueira dizia-nos, a respeito do incidente que levou o presidente da câmara a aproveitar-se para expulsar os ciganos: às 4 da manhã houve miúdos que foram pedir abrigo à vizinhança. Havia mulheres e crianças a fugirem por todo o lado. Porque é mesmo assim. Eles são como nós, também têm medo. Isto deixa bem claro que nem todos participaram na discussão. Muitos até nem criam problemas.
Ainda na opinião de um elemento da comunidade cigana de Moura, mediador comunitário, o presidente tentou encontrar lá um pretextozinho para dar cabo daquilo e ao fim e ao cabo há famílias desalojadas, há mulheres grávidas, há crianças de dois três anos que não tinham nada a ver com a discussão e que andam por aí… a câmara não facilita aquelas pessoas e aquelas pessoas não têm muitos conhecimentos a nível de direitos, são enganadas com a sua humildade.
E acrescenta: O presidente é populista, ganhou votos com os ciganos e agora já estava com eles pelos cabelos. Havia lá um projecto que não deu grandes passos, não sei se eles chegaram a trabalhar com as pessoas, mas as pessoas não estão inseridas … ali é uma coisa que não se percebe mesmo, aquele presidente é uma coisa que não se percebe. Aqui em Moura é diferente. Aqui funciona muito bem, há muitos ciganos a trabalhar em vários sítios.
Mesmo aqueles cidadãos da Vidigueira que reflectem pontos de vista preconceituosos relativamente aos ciganos, mostram que muitas ideias erradas resultam precisamente da política e atitude discriminatória, oportunista e incorrecta que indivíduos como este presidente da câmara adoptam.
“… Havia 2 ou 3 famílias que já estavam integradas… na escola conseguem conviver com eles, com os miúdos até era fácil. O problema são os que vêm de fora… Isto é complicado. Nós aqui, na Vidigueira, sabemos que temos de conviver com eles, … não os podem mandar embora, Já estão aí todos outra vez. Não tenho nada contra eles. Sabemos que há dificuldades em inserirem-se, por outro lado os tribunais não funcionam e há muito dinheiro à volta desta questão.”
“ Dizem que o negócio deles é roubar, mas não são só eles que roubam,(…) os sucateiros e todos os que adquirem estas mercadorias têm culpa, é fácil comprar aos ciganos, vendem mais barato.”
A situação gerada pela actuação persecutória do presidente da câmara é agora a de que estas famílias de ciganos, que contam com 35 crianças, encontram-se sem qualquer espécie de assistência e sem nenhuma alternativa para voltarem a fixar-se na terra onde viviam há mais de trinta anos.
A propósito da posição que os comunistas devem ter a respeito da questão dos ciganos, transcrevemos excertos do trecho da intervenção do camarada Arnaldo Matos proferida numa reunião da organização do MRPP no Alentejo em Dezembro de 1975. ( …) Eles são concidadãos nossos. A classe operária e os camponeses vão ter um problema a resolver com essa gente. E tanto pior será de resolvê-lo, se adoptam posições erradas logo à partida. A classe operária e os camponeses têm uma lei, que é a de que toda a gente deve trabalhar e o trabalho é obrigatório para todos e, portanto, será tanto para o alentejano, como para o minhoto, será tanto para o cigano como para o negro que porventura exista no nosso país. Não há que atribuir ao cigano mazelas que são da sociedade em que vivemos, que não são deles em particular . (…) Mas não podemos resolver isso a machado. Nunca ninguém resolveu isso assim.
Pois é, Manuel Narra tentou resolver o problema à machadada e agora, apesar de quase todos os dias tentar justificar, através dos órgãos de comunicação, a sua actuação oportunista , está entalado entre a comunidade cigana, a população da Vidigueira e demais instituições que se reclamam de defensoras dos direitos do ciganos.
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