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PAÍS

Lutar é a única coisa que resta aos operários da Orfama (Braga)!

orfama 01De nada serviu aos operários da Orfama, têxtil pertencente ao grupo francês Montagut, terem cumprido a promessa de não mais fazerem greve. Confiar no oportunismo é o que dá. É certo que o aumento obtido na altura acima do CCT, há vinte anos, parecia compensador, mas não passou de ilusão. Primeiro, uma gerência “esqueceu-se” que também tinha parte no compromisso e passou a roubar todos os meses uma parte desse aumento de salário dos operários (literalmente, segundo a administração francesa que, com esse argumento, veio a despedir esse gerente, mas, mesmo assim e estranhamente se tem escusado a pagar essa diferença tendo recorrido para o tribunal superior de sentença favorável aos operários para continuar a não pagar, caso que ainda não está resolvido). Agora vieram os despedimentos. Há quem pense que os despedimentos são uma retaliação por os operários terem posto em tribunal a casa em razão desse roubo. Mas a verdade é que no momento em que reduziram os salários, terrorista e unilateralmente, já tinham aberto a fábrica no Bangladesh e o destino estava traçado.

Sobram ainda cerca de 150 operários e trabalhadores das duas empresas do grupo em Braga, a Orfama e a French Fashion, que ainda existem das 6 que chegaram a existir: para além das duas eram a Montagute em Amares que já fechou, a Netex em Padim da Graça que também fechou, a Marrantex que em S. João do Souto já fechou, e a Parinter, sociedade gestora das participações do grupo em Portugal criada em dado momento provavelmente para fugir aos impostos e que se calhar já se escapuliu também para a Holanda ou outro local do género quando isso se tornou mais lucrativo do que cá ficar. E tudo fechou apesar do crescente êxito comercial no mundo (particularmente na China, dizem) de que se gaba o grupo francês. Sobram 150 trabalhadores e a fazerem todos os dias uma hora extraordinária e a ser “convocados” também para os Sábados. Mas percebe-se porquê: o preço actual dessas horas por razão da fórmula de cálculo da remuneração horária normal é mais baixo que o preço/hora normal verdadeiro mesmo que nominalmente seja dito que é pago a 25%. Vejamos porquê.

O custo real da hora normal aproximado é: RBX14/(46XN)+SRX5/N. A fórmula legal para o pagamento de cada hora extraordinária é: RBX12/(52XN), onde RB é a remuneração base mensal, N o horário semanal e SR o subsídio de refeição. Como todos sabem a remuneração de base anual é 14xRB e não 12xRB. Também todos sabem que o horário anual normal são aproximadamente 46XN e não 52XN, já que o ano tem 52,1 semanas, mas tem que se descontar 4,5 semanas de férias e cerca de 1,6 semanas de feriados. Mas para determinar o custo real da hora de um trabalhador, ao custo derivado da remuneração base ainda há a juntar o custo derivado das outras parcelas da remuneração, nomeadamente as de base diária, como o subsídio de refeição, para já não falar dos chamados encargos da empresa com a segurança social, que é uma parte “escondida” da remuneração, paga apenas quando o trabalhador vai para a reforma ou para o desemprego, e que fazem parte real da remuneração do trabalhador. Ou seja, horas pagas a 25% saem mais baratas pelo menos 17% do que o custa uma hora normal. Está-se mesmo a ver por que razão tudo o que é patrão e gestor quer que toda a gente trabalhe mais uma hora por dia, aumentando realmente o horário de trabalho em 5 horas por semana. Trata-se apenas de reduzir custos unitários, mantendo a ocupação máxima dos trabalhadores que ficaram, ou seja, trata-se “apenas” de assegurar uma exploração máxima.

Quanto aos 121 despedidos, 99 da Orfama e 22 da French Fashion (curiosamente o mesmo nome da fábrica aberta no Bangladesh), todos ainda longe da idade da reforma, vêem-se com uma indemnização e um mísero subsídio de desemprego por alguns meses nas mãos e um futuro feito ou de carimbos para provarem que andaram à procura de emprego ou formações profissionais para “plantar caracóis” para fingir que não estão desempregados. Para já, a indemnização recebida tapa as primeiras angústias, mas todos sabem que se não houver rendimentos, depressa acaba e que não há negócios alcançáveis pela indemnização que possam assegurar esse rendimento.

No meio ainda o facto de, como praticamente todas as empresas, estas também terem recebido subsídios de toda a natureza provenientes dos impostos pagos pelos trabalhadores portugueses e dos descontos da segurança social que a descapitalizaram, e concedidos pelos sucessivos governos burgueses a propósito de terem empregado mão-de-obra à procura de 1.º emprego, de “formarem” os trabalhadores “no posto de trabalho”, etc., ou seja, a propósito de tudo e de nada.

Em suma: vidas devastadas de trabalhadores em contraponto da satisfação de capitalistas suportados por um governo vende-pátrias. Eis os resultados de uma política. Eis o que é necessário derrotar, e que a classe operária com os seus aliados e a sua luta derrotará!

Por um governo democrático patriótico!

Derrube do governo de traição PSD/CDS!


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