PAÍS
RTP: Na rota do corsário António Borges
- Publicado em 25.08.2012
Apesar de já muito desgastada, a estratégia saloia deste governo de traição que consiste em delegar num seu mais “qualificado” funcionário, num qualquer “opinador” de serviço ou “politólogo” encartado, carreirista, a tarefa de colocar em circulação o “rumor” de que uma política ou medida vão ser executadas, para testar o nível de impopularidade das mesmas ou “amortecer” a oposição que se espera que elas venham a merecer, ainda continua a ser utilizada.
E esta estratégia repete-se a propósito do anúncio do destino que o corsário António Borges revela que deve ser dado à RTP. Este personagem, que foi encarregue pela tróica germano-imperialista (é necessário relembrar que foi o director operacional do FMI para a Europa até há poucos meses atrás) e pelo governo dos seus serventuários Passos e Portas, de liquidar os activos públicos, colocando-os, a preços de saldo, nas mãos dos grupos privados.
O mesmíssimo que vem agora, em entrevista à TVI, defender que a melhor solução é a de concessionar a RTP a uma empresa privada que, para além de se locupletar com os milhões das taxas de radiodifusão que advêm do saque que todos os trabalhadores e elementos do povo se vêem obrigados a pagar com a sua factura energética, como empresa que busca, apenas e tão só, o lucro – eufemisticamente referido como “ganhos de competitividade” – teria as mãos livres para dispensar todos os trabalhadores que considerasse estarem “a mais”, incluindo os da RTP2, canal que se anuncia como sendo para encerrar.
Em política não existem coincidências. Como afirma a Comissão de Trabalhadores da RTP, “extinguir uma das licenças de televisão da RTP e concessionar outra, durante 20 anos, a uma entidade privada” é tudo menos coincidência. Tanto mais quando se sabe que no mercado do audiovisual surgiu, ontem, uma nova empresa – a NewsHold – que já se mostrou muito interessada nesta concessão, anunciando que pensa “conservar” 1.500 dos 2.300 trabalhadores da RTP (e isto sem contar com o que se passará na RDP), isto é, despedir 800 trabalhadores, se essa licença lhe vier a ser atribuída.
Sendo, portanto, clara a intenção, a manobra consiste, agora, em dar à escolha duas “alternativas”:
• Ou bem que é seguido um modelo “tradicional” de venda do património, que, segundo alguns oportunistas, mormente da área do PS - o qual, recorde-se, assinou o memorando com a tróica germano-imperialista que impõe esta operação - iria contra a letra da constituição;
• Ou, então, opta-se pelo modelo, da preferência do PSD e do presidente Cavaco, o modelo das PPP’s, isto é, privatizar os lucros e fazer com que o erário público, os impostos roubados aos trabalhadores e ao povo português suporte os prejuízos.
Ou seja, a velha e estafada história da muito “democrática” escolha entre ser morto por fuzilamento ou por enforcamento.
Quanto ao papel da actual administração, e apesar da “letargia” em que caíram as organizações dos trabalhadores da RTP, era por demais evidente que era o de tornar a empresa mais atractiva para o capital privado, seja diminuindo o número de trabalhadores, seja o de baixando o nível de qualidade da “grelha” de programação, seja emagrecendo os custos operacionais, seja, ainda, aplicando o princípio geral do roubo de salários e do trabalho.
Neste processo, sindicatos representativos dos diferentes sectores de trabalhadores e Comissão de Trabalhadores, estiveram de olhos e ouvidos encerrados para o que se passava à sua volta. Apesar de todos os sinais e sintomas de qual iria ser o desfecho, não se vislumbrou, por parte destas estruturas representativas dos trabalhadores, qualquer esforço para mobilizar, organizar e dirigir as lutas destes contra o que se estava a congeminar nas suas costas e contra os seus interesses de classe.
A pedra de toque que distinguirá aqueles que, de facto, querem organizar e dirigir a luta dos trabalhadores contra os objectivos deste governo, dos que com ele, como de costume, compactuam, passa pelo que será proposto, discutido, aprovado e levado à prática no próximo plenário que a Comissão de Trabalhadores da RTP, através do seu Secretariado, convocou para a próxima 4ª feira, dia 29 de Agosto, às 14 horas.
É que, sobre a mesa, só duas propostas poderão estar em discussão:
• Ou a proposta capitulacionista, tão cara a toda a sorte de oportunistas, consistente em saltitar de “concertação” em “concertação” com a administração e o ministério que tutela a RTP, até à derrota dos interesses dos trabalhadores;
• Ou bem que uma proposta firme e decidida, que passa pela imediata convocatória de paralisações e greves que só terminarão com a vitória dos trabalhadores.
Este é o único caminho a seguir, um caminho que concitará certamente o apoio dos trabalhadores dos outros sectores da empresa – nomeadamente da RDP, mas não só -, o apoio e a solidariedade de todos os trabalhadores e do povo português que ganham cada vez maior consciência da necessidade do derrube deste governo de traição e da constituição de um governo democrático patriótico para que se possa avançar no repúdio da dívida, uma dívida que não foi contraída pelo povo, nem foi contraída para seu benefício, o mesmo caminho que assegurará que activos e empresas públicas estratégicas nunca irão parar às mãos dos grandes grupos financeiros e bancários.