PAÍS
- Publicado em 30.06.2024
António Costa, o Ungido!
Como se vinha anunciando desde a queda do governo (11 de novembro 2023) a que presidia, e que jurara não abandonar para ir para a Europa, (“Já expliquei a todos que não aceitarei uma missão que ponha em causa a estabilidade em Portugal. Alguma vez eu poria em causa a estabilidade que tão dificilmente conquistei? – 26 de junho 2023), António Costa foi, afinal eleito, dia 27 de Junho, embora por maioria qualificada, presidente do Conselho Europeu, cargo que assumirá a partir de Dezembro e no qual se manterá, pelo menos, durante dois anos e meio.
Portanto, até para António Costa era difícil dar o dito por não dito, sem perder a face. Por outro lado, todos nos lembramos de o presidente da República ameaçar com a interrupção da legislatura e novas eleições caso Costa aceitasse um cargo europeu! Contudo, António Costa ocupa um cargo europeu! E com o apoio expresso de Marcelo! Malhas que o império tece.
António Costa diz que não acredita em milagres. Os comunistas muito menos!
Então, o que aconteceu para aqui chegarmos?
Convidamos os nossos leitores a revisitarem o artigo do Luta Popular no qual se apontam as várias causas que determinaram a queda de um governo PS de maioria absoluta afogado em situações opacas de corrupção, isolado do povo pelas medidas reaccionárias e anti-populares que tomou, desde a destruição do Sistema Nacional de Saúde até à negação do direito à habitação, impondo uma carga fiscal opressiva e que tornaram insustentável a vida dos trabalhadores portugueses, apesar dos milhões que diariamente entram em Portugal, no âmbito do PRR.
O certo é que, sem condições para continuar a governar, com a queda do governo, Costa ficou liberto para atingir o seu objectivo e cumprir a sua missão na Europa e, assim, receber o prémio por ter sido o bom aluno das políticas europeias.
Nos últimos meses, assistimos ao chamado quarto poder – a comunicação social – exercer sem limites e de forma despudorada a sua função de fazedor e manipulador de ideias, de criação de opinião pública a favor de Costa que praticamente é entronizado e levado em ombros para a Europa, enquanto os seus apoiantes lhe tecem as maiores loas, criando, de forma completamente provinciana, servindo alegremente o capitalismo europeu, o seu “herói” português, o tal “habilidoso” que é capaz de cozinhar as unidades mais difíceis, mas que não terá qualquer pejo em as desfazer sempre que estiver em causa a sua existência.
E se os resultados das legislativas antecipadas não foram ainda os esperados para se constituir o parlamento favorável a um sector da burguesia, os resultados das eleições europeias, tanto a nível nacional como europeu obrigou a que certos sectores da burguesia se aliassem para se manterem no poder e dar continuidade à política em que a guerra é o único meio para resolver as gravíssimas contradições de um sistema em crise, de um modo de produção em falência.
Hoje, alguém tem dúvidas de que esta eleição foi bem preparada? Como diz o próprio Costa, muita água correu para se chegar a este acordo de partilha de poder na União Europeia: aliança entre socialistas e conservadores que permitiu manter no cargo Ursula von der Leyen que também tem problemas para resolver com a Justiça e eleger Costa que nem sequer é primeiro-ministro!
No país, assistimos a uma aliança semelhante, com o governo AD a apoiar António Costa, circunstância que tornará mais fácil estabelecer acordos futuros com o PS. Cavaco é que parece não estar a gostar desta circunstância e pede novas eleições antecipadas!
Da operação Influencer pouco ou nada resta! Tudo indica que se vai desvanecer, devagarinho…
Agora toda a atenção está concentrada à volta de Costa, do seu perfil, da sua eleição e quão importante é para os portugueses ter Costa no conselho europeu!!! Certamente que é importante para alguns, tudo o resto é mero nacionalismo populista.
A vida do povo português não teve qualquer melhoria com Costa no poder, sozinho ou com as suas muletas. Não há razão nenhuma para o povo português se orgulhar de Costa como presidente de um Conselho Europeu de uma União Europeia, dominada por contradições e interesses em conflito, parte activa numa guerra a escalar vai para dois anos, e em que o objectivo de uma coesão social justa está cada vez mais longínquo, se é que alguma vez foi objectivo. Agora o aspecto principal é o bélico.
O povo português conhece bem António Costa e, por isso, sabe que ele é o indicado para servir caninamente os interesses do capitalismo europeu e americano. Na realidade, Costa vai apenas cumprir o que já está decidido, como sempre fez.
Mas não esqueçamos que tudo começou com a queda do governo, na sequência do famoso terceiro parágrafo, e que, segundo Costa, teria sido, o tal milagre que o colocou no Conselho Europeu. Mas como nem ele nem nós acreditamos em milagres, não podemos deixar de referir que dos três actores que intervieram como responsáveis pela queda do governo: o próprio António Costa, que apresentou a demissão; Marcelo Rebelo de Sousa, que aceitou a demissão e Lucília Gago, que supostamente escreveu o famoso terceiro parágrafo, apenas Costa beneficiou da situação, como é fácil de compreender. Lucília Gago está atolada no pântano que criou e em que se enredou e o presidente da República perdeu credibilidade e confiança, continuando envolvido em situações cada vez mais opacas, que lhe estão coladas à pele por mais que as tente sacudir.
Razão tinha o camarada Arnaldo Matos – É tudo um putedo!