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PAÍS

Pela boca morre o peixe

Na importante palestra que proferiu recentemente na Galeria Geraldes da Silva, no Porto, o camarada Arnaldo Matos reafirmou com clareza a posição marxista de que a dívida pública é um instrumento utilizado pelas classes dominantes capitalistas e pelos poderes imperialistas para intensificar a exploração das classes trabalhadoras. Através da dívida pública, o dinheiro dos impostos extorquidos aos trabalhadores é usado como meio fácil e seguro de valorização do capital financeiro. Os défices públicos que daí resultam representam por sua vez um factor permanente de pressão para submeter os povos e nações aos ditames do imperialismo internacional, para fazer diminuir o salário real dos trabalhadores e para provocar fome, miséria, desemprego e privação dos bens mínimos essenciais a quem vive do seu trabalho. É em épocas de crise aguda, como a actual, que a natureza da dívida pública capitalista se revela com nitidez e com igual nitidez se impõe a justeza da posição dos comunistas de repúdio operário e popular dessa dívida pública, consubstanciada na palavra-de-ordem “Não pagamos!”.

Por mais que os oportunistas de todos os matizes pretendam convencer os operários e os trabalhadores em geral de que a sua atitude face à dívida pública deve ser a de exigir uma “boa gestão” e um “pagamento suave” da mesma, sempre vai aparecendo quem, de entre a própria classe capitalista, se encarregue de tornar claro aquilo que o oportunismo se esforça por obscurecer. Coube agora (o que aliás acontece com alguma frequência) ao aprendiz de Salazar que chefia o governo a vez de cumprir esse papel. Instado a comentar uma chamada “derrapagem” do défice nas contas públicas registado no primeiro trimestre, tendo em conta os objectivos fixados pela tróica para este ano (7,9% e 4,5%, respectivamente), Passos Coelho não se mostrou preocupado com esse facto e afirmou textualmente o seguinte: “Os resultados que estamos a observar são positivos, na medida em que indicam que estamos a fazer um ajustamento bem sucedido”.

Nem mais. Depois de, em nome do objectivo de redução do défice público, o governo e a classe capitalista massacrarem o povo trabalhador com austeridade em cima de austeridade, despedimentos em massa, roubos contínuos nos salários, aumentos de preços e impostos, e privação de serviços básicos essenciais, vem agora o principal arauto dessas medidas terroristas e da sua justificação dizer que, afinal, o que é bom é o défice aumentar em vez de diminuir. Ou seja, para o governo e para a tróica que nele manda, o “ajustamento” (leia-se a fome, a miséria, a emigração e a morte para a população trabalhadora), para ser “bem sucedido”, deve traduzir-se em novo agravamento das condições e dos motivos que o geraram, de forma que tal “ajustamento” nunca tenha fim. Venha o “excesso” de dívida pública, venham os “défices excessivos”, que isso é o melhor que nos pode acontecer – diz o Coelho, em nome da classe que representa.

E agora, senhores do PCP, do BE e das organizações sindicais da CGTP e da UGT, serão precisos mais motivos para chamarem os trabalhadores para uma luta sem quartel pelo repúdio da dívida e pelo derrubamento do governo? Ou querem antes esperar até às eleições de 2015 para virem caçar votos a um povo esgotado por “ajustamentos” atrás de “ajustamentos”, que só servem para que os ricos fiquem cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres? Que papel querem desempenhar afinal?

Seja qual for esse papel, convosco ou contra vós, os operários e os trabalhadores conscientes já perceberam o caminho que é preciso seguir. Há que concentrar esforços no derrubamento do governo vende-pátrias PSD/CDS, na expulsão da tróica germano-imperialista e na formação de um governo democrático patriótico – um governo que recuse o pagamento da dívida pública capitalista, que nacionalize a banca e os principais sectores da economia, que retire o país do euro e que defina e execute um programa de desenvolvimento do país, sem desemprego e ao serviço dos interesses e do bem-estar das classes trabalhadoras.


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