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PAÍS

Que 25 de Abril?

Quando anualmente se assinala o 25 de Abril, os oportunistas e pequeno-burgueses tentam sempre mistificar a verdadeira natureza do que esteve e está em causa em redor desta data.

Com efeito, lá aparecem a associação de inválidos que dá pelo nome de Associação 25 de Abril e os partidos ditos da esquerda parlamentar, todos de cravo ao peito, a identificar o derrube do regime fascista ocorrido em 25 de Abril de 1974 com uma revolução e o MFA e o inefável Vasco Gonçalves como os libertadores do povo.

Ora, o 25 de Abril de que estes senhores falam não foi mais do que um golpe de Estado organizado e desencadeado por um grupo de capitães, movido acima de tudo por interesses de natureza profissional e corporativa, golpe de Estado esse que foi realizado naquela data para deliberadamente não coincidir com o 1º de Maio que, principalmente, o MRPP – enfrentando a repressão da ditadura fascista – se preparava para comemorar com acções de rua amplamente convocadas em todo o país.

Contrariando as instruções do MFA no dia do golpe para ninguém sair à rua, a classe operária, os trabalhadores e as massas populares desencadearam um amplo e profundo movimento revolucionário que se desenvolveu e alastrou pelo país inteiro, sempre contra as tentativas dos golpistas, do PCP e outros abrilistas.

Esse movimento revolucionário pretendeu usar das liberdades democráticas entretanto instauradas, para levar até ao fim a revolução democrática popular, afastar o sector da burguesia que, com o golpe, se tinha apoderado do Estado fascista, desmantelar este Estado, realizar a reforma agrária e, com base na aliança operária-camponesa, e não na traidora aliança povo-MFA, tomar o poder político e constituir um governo democrático e popular.

Foi precisamente este movimento revolucionário que contou sempre com a oposição e perseguição do MFA e dos pseudo-democratas do 25 de Abril.

Há, pois, dois 25 de Abril – um, que é o da revolução popular que foi efectivamente derrotada por uma contra-revolução que se iniciou após a tentativa de golpe social-fascista de 25 de Novembro, com o chamado documento dos 9, e que chegou ao seu termo com o actual governo PSD/CDS que rasgou toda a réstia de direitos e liberdades conquistados pela classe operária.

O outro 25 de Abril, é o do golpe de Estado dos que, sob a protecção da tropa dos militares de Abril, atacaram as greves dos operários, que liquidaram a reforma agrária, que ilegalizaram o MRPP e o impediram de participar nas primeiras eleições, que prenderam, perseguiram e torturaram centenas de militantes seus, suspendendo o Luta Popular e encarcerando o seu director, sem que existisse qualquer lei a permiti-lo, que elaboraram uma Constituição à sombra da qual todos os governos foram consolidando a contra-revolução, intensificando a exploração dos trabalhadores e entregando o país aos interesses hegemónicos da Alemanha e do grande capital financeiro europeu.

É este o 25 de Abril que é comemorado solenemente todos os anos na assembleia da República pelos representantes desse regime herdeiro do 25 Abril, o qual, como é evidente, nada tem a ver com a classe operária e os trabalhadores que, agora mais do que nunca, sabem que nunca será no quadro do golpe de 25 de Abril que poderão fazer a verdadeira revolução.

E é também esse o 25 de Abril de Soares e do agora seu escriturário Alegre que, de forma totalmente oportunista e mais uma vez enganosa, pretendem demarcar-se do ideário que nunca deixaram de defender.

Soares tornou-se mesmo o exemplo mais degradante do oportunismo – primeiro, obriga Sócrates a assinar o memorando, depois, encontra-se com Passos Coelho a quem não regateia elogios e só de há pouco tempo a esta parte começou a dirigir críticas ao governo, mais até do que à Tróica, e sempre sem pôr em causa a indispensável política de austeridade do memorando.

Ora, é este sábio oportunista, responsável, entre outras coisas, pela entrada da CEE em Portugal, que hoje tenta fazer passar-se por um credível socialista que nada teve a ver com o regime do golpe do 25 de Abril, de que se serviu para governar contra os trabalhadores e que todos os anos solenemente reverencia.

Quem foi derrotado pela linha política do actual governo não foi o 25 de Abril reclamado pela associação de inválidos com esse nome nem os que beneficiaram do golpe de Estado de 1974; quem foi derrotada pela política terrorista deste governo e dos partidos e sucessivos governos no poder desde então foi a revolução que se desencadeou e desenvolveu a partir do dia em que o regime fascista foi apeado – e é por isso que a classe operária nunca comemorou nem comemorará uma data que não assinala nenhuma revolução e, muito menos, sua.

Não é pelo facto de os trabalhadores estarem a ser objecto de um ataque feroz por parte do governo de traição nacional PSD/CDS que se deixarão embalar por oportunistas que, não deixando de apoiar o memorando e a política de austeridade da Tróica, querem safar-se das suas responsabilidades nesta situação e arrastar o povo para alternativas que conduzem exactamente às mesmas consequências, por não romperem com as verdadeiras causas e responsáveis.


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