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PAÍS

DUPOND e DUPONT

dupond e dupont 01Realizou-se esta noite o terceiro e último debate televisivo entre António Costa, presidente da câmara municipal de Lisboa, e António José Seguro, secretário-geral do Partido Socialista, precedendo a votação de domingo para a escolha de um deles como candidato do PS a primeiro-ministro.

Os três debates televisivos inculcaram nas audiências a irremovível convicção de que Costa e Seguro são os Dupond e Dupont da política nacional.

Os leitores deste jornal que porventura também tenham lido As Aventuras de Tintim, do belga francófono Hergé, sabem que nelas figuram duas curiosíssimas personagens, estruturalmente estúpidas – o Dupond e o Dupont – muito parecidas entre si, mas não gémeas, que em todo o caso se distinguem unicamente pela consoante final da ortografia dos seus nomes e pela forma dos respectivos bigodes, cada uma das quais repete, palavra por palavra, tudo o que a outra personagem haja acabado de enunciar, antecedendo todavia a repetição de uma sonora declaração de princípios: eu diria mais!

A única diferença, porém, que se lobriga entre os Dupond e Dupont portugueses e os belgas está em que nenhum dos lusos usa bigode, porque, quanto ao mais, até nos nomes próprios são iguais.

Assim, quando o entrevistador perguntou ao primeiro António (Seguro) qual a primeira medida que adoptaria se fosse primeiro-ministro, o primeiro António respondeu: “medidas contra o desemprego, apoiadas num programa de desenvolvimento económico em dez pontos.” Passada a mesma pergunta para o segundo António (o Costa), logo o segundo António respondeu: “eu diria mais: medidas contra o desemprego, apoiadas num programa de desenvolvimento económico em dez pontos”.

O entrevistador passou então ao segundo António (o Costa) e perguntou-lhe se, sendo primeiro-ministro, reporia os cortes nas pensões dos reformados e os cortes salariais na função pública. O segundo António respondeu que reporia os cortes, porque isso até é uma exigência do Tribunal Constitucional.

Passada a mesma pergunta para o primeiro António (o Seguro), logo o primeiro António responde: eu diria mais: reporei os cortes nas pensões e nos salários da função pública porque isso até é uma exigência do Tribunal Constitucional.

São os Dupond e Dupont à portuguesa…

Essa palhaçada só acontece, porque na cadeira do moderador do debate de ontem, como aliás também sucedeu nas cadeiras dos moderadores dos outros dois debates televisivos, não está sentado um jornalista, digno desse nome, mas um palhaço preparado para entrevistar Duponds e Duponts.

O palhaço que ontem moderou esse debate acéfalo entre os nossos dois Antónios, esqueceu-se de fazer a ambos as perguntas sacramentais que as suas respostas impunham:

Mas aonde vão vocês arranjar o dinheiro para investir no programa de desenvolvimento económico que fará face ao desemprego?

Sabem vocês que o vosso partido – o PS – assinou o Tratado Orçamental, já com a Tróica cá dentro, e que esse tratado impõe um orçamento com défice zero?

Que atitude vão adoptar quanto ao Tratado Orçamental?

Aonde vão vocês cavar o dinheiro para repor os cortes nas pensões e nos salários dos funcionários públicos?

Vão ou não aumentar os impostos, que já representam a maior carga fiscal de toda a União Europeia, incluindo a carga fiscal da Grécia?

Mas há mais, e nenhum palhaço da moderação inquiriu aos nossos Antónios:

Qual é a linha política que irão adoptar para com a União Europeia e suas instituições fundamentais: Comissão, Presidência e Banco Central?

Opor-se-ão ou não à crescente prática germânica de dirigir a Europa fora dos órgãos estatutários institucionais da União Europeia?

Como pensam pagar a dívida externa e quantos anos levarão a pagá-la?

Admitem a hipótese de Portugal sair do euro, para não aumentar mais a dívida já impagável?

Referendarão o Tratado Orçamental e a Nova Lei do parlamento europeu sobre o controlo da actividade bancária no espaço do euro?

Estas são apenas algumas perguntas vitais com que deve ser confrontado todo e qualquer candidato a primeiro-ministro. Mas quando encontraremos um jornalista digno desse nome, para colocar as perguntas necessárias aos nossos Duponds e Duponts?

Claro que estou a adivinhar que alguns dos meus dilectos leitores já estarão daí a contestar-me: Está bem! Os nossos Antónios são incrivelmente parecidos com os Dupond e Dupont do Tintim; mas há duas coisas, pelo menos, em que são totalmente diferentes um do outro, e isso viu-se no debate desta noite: o segundo António (o Costa) é de esquerda e o primeiro é de direita; o primeiro quer alterar a lei eleitoral, eliminando os partidos de esquerda na secretaria; o segundo (o Costa) é contra essa lei.

Pois aí é que os meus queridos leitores se enganam! Os nossos Antónios são dois homens de direita; não há, nem neles nem entre eles, nenhum homem de esquerda. Porventura já esqueceram que, no último congresso do PS, o segundo António – o Costa – apoiou a candidatura de Francisco Assis contra Seguro, sendo Assis, pelo que disse nesse congresso, pelo que disse na última campanha eleitoral europeia e pelo que semanalmente escreve no periódico do Belmiro, um sujeito tanto ou mais à direita do que o próprio Passos Coelho?

Tomem pois, meus dilectos leitores, toda a atenção: qualquer dos dois Antónios, uma vez chegado ao poder, irá juntar-se com o PSD e com o CDS para reverem a Constituição da República, e eliminarem os últimos vestígios de Abril, dando a Ângela Merkel e à Alemanha a constituição portuguesa reaccionária por que a Alemanha e Merkel tanto anseiam.

Costa é o Dupont que irá ganhar as primárias, e o seu aliado é o PSD. Se Seguro fosse o Dupond ganhante, o seu aliado seria também o PSD.

Não se iludam, nem se deixem iludir!

Ah! Mas há ainda a lei eleitoral de Seguro…

Sim, há ainda a lei eleitoral de Seguro; mas há também um projecto de lei eleitoral de Costa, que até já foi apresentado na Assembleia da República, muito embora não concitasse aí uma maioria parlamentar que agendasse a discussão e votação do projecto.

Ora, quanto ao essencial, o projecto eleitoral de Costa, projecto acabado e pronto para ser discutido e aprovado a qualquer momento que Costa obtenha uma maioria de direita, com o PSD, na Assembleia da República, é tão reaccionário como o falso projecto – ainda não há projecto – de Seguro. E não se esqueçam, porque os meus amigos não o leram, mas eu li-o: também o projecto acabado de Costa prevê os círculos uninominais e também se destina a eliminar ou reduzir drasticamente a representação parlamentar da esquerda portuguesa.

Dir-me-ão, porém, e com razão: mas se o PS e o PSD, qualquer que seja o seu líder, alimentam hoje um programa de centro-direita comum, com submissão total à União Europeia, ou seja, ao capitalismo europeu e ao imperialismo, que deve fazer a esquerda democrática portuguesa, uma parte da qual vai escolher domingo o seu António, o seu Dupond ou Dupont, o seu carrasco?

Não votem em nenhum deles; não ponham os pés nas assembleias de voto das primárias; não escolham o vosso Hollande; não escolham o carrasco, como o fez a esquerda francesa.

A próxima derrota eleitoral do PSD e CDS deve também ser a derrota dos traidores do PS, dos dois Antónios, qualquer que seja o escolhido.

Os democratas e patriotas devem unir-se como um só homem numa frente única e num governo democrático e patriótico para salvar o país, retirando-o do euro, criando um novo escudo e lançando os alicerces de uma nova economia e de um novo futuro.

Costa e Seguro, qualquer deles, só pede uma maioria absoluta para vender ao estrangeiro a nossa independência e a nossa democracia. A esquerda existe, a esquerda é possível, mas não é com eles. É contra eles!


Espártaco


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