PAÍS
Como Votam os Traidores em Bruxelas e Estrasburgo?
- Publicado em 16.04.2014
Entre os próximos dias 22 e 25 de Maio, realizar-se-ão nos 28 países da União Europeia eleições para escolher os 751 deputados que formarão o Parlamento Europeu.
O Parlamento Europeu tem, como se sabe, sede em Estrasburgo, uma cidade francesa na região administrativa da Alsácia, na margem esquerda do Reno. Nos termos do protocolo anexo ao Tratado de Amsterdão de 1997, devem realizar-se na sede, em Estrasburgo, doze sessões plenárias - uma sessão por mês - incluindo a sessão orçamental. Todas as sessões plenárias suplementares e ainda as reuniões das comissões parlamentares deverão realizar-se em Bruxelas. O secretariado-geral do parlamento europeu, por seu turno, está instalado no Luxemburgo.
Os deputados europeus, conforme as sessões e comissões, votam pois em Bruxelas ou em Estrasburgo.
Ora, o que é que discutem e como é que votam em Bruxelas ou Estrasburgo, os deputados eleitos em Portugal?
Esse é precisamente o mistério mais bem guardado que até hoje se viu. É verdade que os deputados europeus são eleitos nos seus países por sufrágio popular directo, mas, pelo menos quanto a Portugal, o povo ignora totalmente o que é que fazem e como votam os deputados que elegeu.
Depois de eleitos, os deputados portugueses constituem um grupo de tecnocratas, bem pagos e bem falantes, entre os quais se esbatem de tal maneira as desigualdades partidárias, que se diriam eleitos por um só partido e sem o mínimo vislumbre de interesses políticos nacionais portugueses.
Eles, se já não eram, manifestamente passaram a ser a voz da Europa contra nós!
É por isso que, na esmagadora maioria dos casos, os votos dos deputados portugueses em Bruxelas e em Estrasburgo, são votos de traição nacional, propositadamente ocultados dos olhos dos eleitores populares.
Nos últimos anos, a Alemanha tem promovido entre os países da Zona Euro a propaganda maciça de um acordo sobre a chamada União Bancária, que no seguimento de Maastricht, do Tratado de Lisboa e do Tratado Orçamental, permite o controlo directo de todos os bancos e de todo o sistema bancário da Zona pelo Banco Central Europeu e, depois, pelo Banco Central Alemão.
É o assalto final do capital imperialista germânico aos cofres dos países do Euro.
Ora, a questão da União Bancária, como aliás sucedeu com todas as grandes questões da União Europeia, nunca foi discutida ou sequer ventilada em Portugal perante o nosso povo, e muito menos alguém lhe perguntou se estaria ou não de acordo com a União Bancária, o que quer que isso fosse ou seja.
Mas eis que na madrugada de ontem, terça-feira, dia 15 de Abril, ainda de noite e às ocultas de toda a imprensa mundial acreditada em Bruxelas, Elisa Ferreira, deputada portuguesa do partido de Seguro e um dos dois únicos deputados que passam da lista de Sócrates à actual lista de Seguro nas europeias, submete à aprovação do Parlamento Europeu uma legislação sobre o mecanismo único de resolução dos bancos e o instrumento de resgate interno, conhecido na linguagem dos ideólogos economistas da burguesia como o bail in.
O Parlamento Europeu aprovou a legislação proposta por Madame Ferreira por 570 votos a favor, 88 contra e 13 abstenções. O instrumento de resgate interno, por sua vez, foi aprovado por 584 votos a favor, 80 contra e 10 abstenções.
Nasceu assim o segundo pilar da União Bancária dentro da Zona Euro.
Troquemos primeiramente as coisas por miúdos, e perguntemo-nos depois a quem serve Madame Ferreira...
Desde 2008, quando a crise do subprime americana avassalou a Europa, a salvação dos bancos europeus que faliram ou estiveram para falir envolveu mais de 26% do produto interno bruto de toda a União Europeia. Ou seja: durante os últimos seis anos, um pouco mais do que a quarta parte de toda a produção dos 28 países da União Europeia foi desbaratada para salvar bancos da ruína, desde a Escócia à Grécia, da Irlanda a Portugal, da Espanha ao Chipre, da França à Itália.
Nós, portugueses, sabemos muito bem o que é que nos custou o nosso bail in. Já pagámos, estamos a pagar e continuaremos a pagar por mais cinquenta anos ainda os 8 mil milhões de euros pela falência criminosa do banco do bando cavaquista, o BPN; pagámos, estamos a pagar e continuaremos a pagar por mais cinquenta anos ainda, os cerca de 30 mil milhões de euros, no caso por imposição da Tróica, que tivemos de fornecer aos nossos bancos para evitar o verdadeiro estouro da boiada para onde corriam os tais bancos, desde a Caixa Geral de Depósitos ao Banif; pagámos, estamos a pagar e continuaremos a pagar ao longo de mais de cinquenta anos ainda os mais de 2 mil milhões de euros, montante ainda não totalmente calculado, dos crimes perpetrados pelo BPP, etc., etc. e etc.
Todos os bancos que há em Portugal, tanto os que já faliram como os que ainda não faliram, foram pagos, estão a ser pagos e continuarão a ser pagos ao longo dos próximos cinquenta anos pelo povo trabalhador português, os quais bancos nem por isso foram sequer nacionalizados.
E só depois de terem arruinado a maior parte dos países do Euro, impondo-lhes, para sobrevivência dos seus bancos, uma dívida soberana exponencialmente crescente, só depois disso é que o Conselho Europeu, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu, sem nunca terem assumido, como deviam, as dívidas soberanas que só eles inventaram e impuseram, resolveram impor os instrumentos legislativos da União Bancária europeia, roubando literalmente aos países europeus mais fracos os seus bancos.
Para isso, serviram-se de Madame Pompadour – peço desculpa – serviram-se de Madame Ferreira.
A partir de agora, só o Banco Central Europeu supervisionará todos os bancos do Euro e toda a União Bancária. Só o Banco Central Europeu poderá decidir quando poderá ser declarada a inviabilidade de um banco ou decretada a sua falência.
E, para que não sejam os contribuintes a pagarem a factura da actividade bancária ruinosa – note-se o cinismo das instituições europeias e de Madame Ferreira, pois se a coisa é assim então deviam devolver a Portugal mais de metade da nossa actual dívida soberana que, em Fevereiro passado, ascendia a 220,6 mil milhões de euros – para que não sejam os contribuintes a pagar de futuro a factura bancária, constituirão todos os bancos da União Económica e Monetária, no decurso dos próximos três anos, 70% de um fundo de resolução (um fundo de falências...) no montante de 55 mil milhões de euros.
Até estar operacional o fundo, será criada uma linha de crédito para garantir a disponibilidade imediata dos meios financeiros que vierem a revelar-se necessários.
O que não deixa de ser curioso é que os Estados do Euro, muito embora fiquem sem os seus bancos, não deixam de ter de entrar, até ao limite de 40%, com contribuições para o referido fundo.
Claro está que Madame Ferreira, que correu Seca e Meca para aprovar a nova legislação antes do enceramento do parlamento europeu, deixou para o futuro Parlamento – o que nascerá dos eleitos de 25 de Maio próximo – uma questão essencial: qual é então a garantia que terão os depósitos bancários dos cidadãos?
Nenhuma; no próximo ano logo se verá!...
Nenhum português digno desse nome devia aprovar esta legislação de última hora sobre a União Bancária. Essa legislação deixa Portugal verdadeiramente sem bancos, já que o Estado português não terá qualquer poder de controlo político e financeiro sobre os seus bancos.
Como votaram os deputados portugueses?
Os deputados do PSD, do CDS e do PS, presentes no Parlamento, votaram entre os carneiros que acompanharam Madame Ferreira.
Os deputados Marisa Matias, Alda Sousa e Rui Tavares do Bloco dito de Esquerda, abstiveram-se.
A única dos dois deputados do PCP presente votou contra.
Votou bem, esta deputada. Nós, se lá estivéssemos, como contamos estar ainda este ano, também votaríamos contra.
Connosco não haverá nunca nenhuma espécie de União Bancária.
A lista dos traidores portugueses no golpe-de-estado que impôs a Portugal a União Bancária é esta:
Lista de Traidores
Mário David
Regina Bastos
Nuno Teixeira
Carlos Coelho
Graça Carvalho
José Manuel Fernandes – todos deputados do PSD presentes;
Diogo Feio - deputado do CDS presente;
Edite Estrela
Correia de Campos
Luís Paulo Alves
Elisa Ferreira
Luís Capoulas Santos
Vital Moreira - todos deputados do PS presentes;
Marisa Matias
Alda Sousa
Rui Tavares - deputados do BE presentes.
Morram os Traidores! Viva o PCTP/MRPP!
E.