INTERNACIONAL
As Provocações Germano-Americanas Agravam a Crise Ucraniana
- Publicado em 08.04.2014
Ainda que toda a comunicação social portuguesa, porta-voz dos monopólios nacionais e estrangeiros, pretenda ocultar a realidade, a verdade é que já toda a gente sabe ou suspeita que a actual crise política na Ucrânia se deve unicamente ao facto de que o imperialismo alemão, servindo-se da União Europeia, pretendeu, mediante a imposição de um acordo de adesão, tomar conta da Ucrânia, das suas riquezas económicas e da sua posição geopolítica e geoestratégica.
Como as autoridades legítimas da Ucrânia, eleitas por sufrágio directo e universal, se recusaram a assinar o acordo de adesão que Bruxelas e Berlim lhes ofereciam, logo a Comissão Europeia e a chancelerina Ângela Merkel fizeram ver às autoridades ucranianas que o tratado de adesão, embora oferecido, não podia ser rejeitado. Daí seguiu-se a concentração da oposição ao presidente Yanukovich na praça central de Kiev – Maiden – e o armamento de uma força de nazis, capaz de disparar sobre os jovens que ocuparam a praça e matar umas largas dezenas deles, impondo a queda pela força do presidente e do governo eleitos e aproveitando os restos do parlamento para nomear um presidente e um primeiro-ministro interinos.
Acontece, porém, que a Ucrânia é um país complexo, onde mais de metade da população é russa ou tem o russo como primeira língua, além de que o único porto russo de águas quentes está situado na península da Crimeia, sede da decisiva frota russa do Mar Negro.
A tentativa alemã de ocupação da Ucrânia através da adesão forçada à União Europeia encontrou pela frente a resistência determinada do povo russo de mais de metade da Ucrânia e conduziu directamente à declaração da independência da República Popular Russa da Crimeia, sem necessidade de disparar um tiro ou causar uma única morte, muito ao contrário do que sucedeu com a golpe-de-estado reaccionário de Kiev.
Proclamada a sua independência e integrada na Federação Russa, a Crimeia tinha contribuído para resolver um dos problemas criados pelo golpe-de-estado neonazi de Kiev, tanto mais que as autoridades provisórias de Kiev se contiveram num protesto muito calmo e sereno.
Barack Obama, o chefe de estado norte-americano a quem coube a tarefa de dirigir os ianques na fase em que se iniciou a sua decadência mundial, veio à Europa – e sobretudo a Bruxelas – explicar que os europeus teriam de passar a desemerdar-se sozinhos dos problemas que inventavam, porque o Tio Sam não chegava para todas as encomendas, agora que está forçado a preocupar-se acima de tudo com a Ásia e o Pacífico.
Todavia, europeus e norte-americanos, mal habituados como têm andado nos últimos setenta anos, não deixaram de aplicar à Rússia uma série de sanções económicas e civis que imediatamente comprovaram que tinham piores efeitos na bolsa de Londres e no nível de vida da Europa central do que nos governantes moscovitas.
A Federação Russa, que tem no seu actual ministro dos negócios estrangeiros, Sérgio Lavrov, um homem à altura dos acontecimentos, lá foi explicando ao congénere norte-americano, John Kerry, mais preparado para vender ketchup que ameaças credíveis, que, com a integração da Crimeia na Rússia, só havia duas coisas de juízo a fazer: regresso do presidente deposto, Viktor Yanukovich, rejeição da adesão à União Europeia, Nato fora das fronteiras da Ucrânia e uma nova constituição da Ucrânia de índole regionalista, com regiões autónomas nas províncias de língua russa, ou então, o fenómeno da independência da Crimeia, como aliás começara no Kosovo, iria inevitavelmente multiplicar-se nas províncias de língua russa.
Os ianques mandaram então uns aviões para a Letónia, Estónia e Lituânia manobrar provocatoriamente junto das fronteiras da Federação Russa.
Os russos, que logo no primeiro dia da deposição de Yanukovich tinham enviado, à cautela, quatro divisões (40 000 homens) para Vila Franca de Xira (maneira prática de fazer sentir ao lisboeta o que é estar um corpo de exército às portas da fronteira ucraniana), limitaram-se a esperar os novos acontecimentos.
E eles – os novos acontecimentos – chegaram ontem: os russos da região de Donets, leste da Ucrânia e fronteira sul da Rússia, declararam a sua independência, marcaram um referendo para adesão à Federação Russa no dia 11 de Maio e pediram ao parlamento da Federação que aceitasse a integração.
A região de Donets, com uma população de 4,5 milhões de habitantes e uma área equivalente à da Região Autónoma da Galiza, é o coração industrial da Ucrânia. Compreendendo as cidades de Donets, Lugans e Karkov, a bacia do rio Donets é hoje uma zona mais rica em carvão e em ferro do que o Sarre o é para a Alemanha.
Os russos que ontem proclamaram a independência do Donets apoderaram-se dos edifícios centrais do governo regional e do material de guerra do paiol da cidade de Lugans.
A situação atingiu uma gravidade extrema.
Mas é evidente que a responsabilidade pela crise ucraniana tem de ser por inteiro imputada à Alemanha e à União Europeia e às provocações de guerra dos aviões norte- -americanos.
O governo de traição nacional Coelho/Portas tem feito o papel que lhe cumpre de lacaio dos governos americano e germânico.
O povo português deve intensificar a luta pela saída de Portugal da Nato. Não devemos esquecer que há militares portugueses em zonas de guerra ao serviço da Nato, tanto no Kosovo como no Afeganistão.
Mas aos operários compete exigir, de todos os partidos políticos, que de uma maneira ou de outra se reclamem dos trabalhadores, qual é a posição política que têm quanto à gravidade da situação ucraniana.
De um momento para o outro, a situação ucraniana pode degenerar em guerra. Os operários portugueses não estão dispostos a ser carne para canhão numa guerra da Nato e do imperialismo alemão ou do imperialismo americano. Qual é a posição do PCP, ou do PS e do BE?
Ficamos à espera que nos digam...
Espártaco