INTERNACIONAL
Hollande: Direita, Volver!
- Publicado em 02.04.2014
Como já ficou assinalado nestas páginas, François Hollande e o partido socialista francês saíram esmagados das últimas eleições municipais. As razões que levaram ao afundamento eleitoral de Hollande e dos socialistas são fáceis de compreender e simples de enumerar: Hollande é um mentiroso.
Hollande fora eleito presidente da república francesa com uma confortável maioria de esquerda, baseada num discurso e numa estratégia de esquerda: menos impostos sobre o trabalho, mais impostos sobre o capital, combate ao desemprego, luta contra o neo-liberalismo imposto por Merkel e pela União Europeia.
No dia imediatamente a seguir à eleição, Hollande viajou para Berlim e entregou o voto que sacara aos franceses nas mãos da chancelerina alemã.
A França capitulou perante a Alemanha, o que aconteceu pela terceira vez em cem anos: 1914, 1939 e 2012.
O desastre eleitoral municipal de Hollande e dos socialistas franceses deveria ser mais que suficiente para fazer compreender até ao maior imbecil do planeta que a mentira não compensa e que Hollande deveria pura e simplesmente retomar o discurso e a estratégia com que obtivera a maioria dos votos dos franceses nas presidenciais de 2012.
Mas, não! Hollande virou ainda mais à direita, como toda a gente percebeu com a escolha que fez de Manuel Valls, até agora ministro do interior, para novo primeiro-ministro.
No mesmo dia da escolha do novo chefe de governo, os sócios do euro, reunidos em Atenas, avisaram Hollande, pela voz do chefe do Eurogrupo, Jeroen Dijssilbloem, que a França teria de “adoptar as reformas necessárias à estabilização da sua economia, cingindo-se aos objectivos orçamentais marcados”.
Nós, em Portugal, conhecemos de sobra o real significado destas palavras: mais cortes nas despesas, nos salários e nas pensões, mais austeridade e pobreza.
Pela boca de Bruxelas, o imperialismo alemão trata a França de Hollande como quem trata garotos. A chancelerina ordena a Hollande, com linguagem de caserna: Direita, volver! E ele volve, o palhaço do François...
E vem daí a escolha de Manuel Valls para chefe do novo governo alemão – perdão! – francês...
Valls que, como ministro do interior do governo agora demitido, dera já sobejas provas de confiança, na violência com que reprimiu os jovens desempregados, os grevistas e os imigrantes, a ponto de ter ficado conhecido como o primeiro polícia de França.
Tem agora Valls de pôr em marcha o famigerado Pacto de Responsabilidade, oferecido por Hollande, no passado dia 14 de Janeiro, ao patronato francês: menos impostos empresariais e um corte de 50 mil milhões de euros nas despesas públicas, em três anos, de maneira a aligeirar – ah, a subtileza deste vocabulário neo-fascista! – em 30 mil milhões de euros os custos do trabalho francês nesse mesmo triénio.
É, lá como cá, a política do empobrecimento forçado, como se os trabalhadores franceses, conforme dizia o Gaspar dos portugueses, vivessem acima das suas possibilidades...
Valls, no seu discurso de aceitação do novo cargo, prometeu a Hollande que iria, sim, senhor, “andar melhor e mais depressa”.
Não admira: ele próprio também propôs há tempos que o PS francês deixasse cair o nome socialista para poder “promover uma modernização radical da ideologia do partido”.
Que o PS francês de Hollande abandone o nome de socialista é a única coisa em que nós, comunistas portugueses, poderemos estar de acordo com Valls, pois a verdade é que os revolucionários de todos os países sempre denunciaram como ilegítimo o uso do nome socialista pelos partidos oportunistas. Estamos aliás fartos de aconselhar Seguro que faça o mesmo ao nome do PS em Portugal...
Eis, com o exemplo de Hollande e de Seguro, o caminho para onde aliás se dirigem todos os partidos ditos socialistas na Europa: para a direita; direita, volver! Até ao desaparecimento total.
Espártaco