CULTURA
“O Botas”
“O Botas”
Num país descalço
Decreta o “Botas” Salazar
Se puderem comam pescadinha
Nos mercados há sempre sardinha
Mas antes têm de rezar
Agradeçam também a sopinha
Que o vinho põe o país a andar
Se a broa tem bolor
Não lhe façam o desprimor
De ao lixo a deitar
Amanhã é sempre outro dia
E até vos deixei sonhar
Se a cadeira não se partia
Ainda abençoado cá estaria
Sempre para vos ajudar
Se vos mandei fazer constrição
E também à força calar
A Pátria e Deus estavam primeiro
Não vos abandonaria ao vespeiro
De a democracia reinar
Com a Maria ao serviço
Só ela me podia descalçar
Pus sentinelas por todo o país
O daninho corta-se pela raiz
Para o país avançar
Fiz da PIDE e do ouro um bem
Arrecadei o que tinha de arrecadar
A Igreja abençoou-me
A puta da cadeira atraiçoou-me
Quando ainda tinha tanto para dar
Não queria morrer assim
E tanta saudade causar
Deixo escrito o meu pensamento
Outros calçarão as botas do meu sofrimento
De não testemunhar o vosso bem-estar
Das asinhas olho para baixo
E durmo satisfeito com o andar
Soares e Cunhal não me desagradaram
Confio nos novos que chegaram
Para que não seja o povo a mandar.
Set1989
José Estêvão