TAMBÉM ACUSO A LEGIÃO DOS DEFENSORES DA MORTE NO TRABALHO!
- Publicado em 04.07.2014
O Luta Popular publicou no passado, dia 2/7, uma correcta, corajosa e absolutamente certeira denúncia, subscrita pelo Camarada Espártaco, acerca da forma como operários da construção civil da obra da Barragem de Foz Tua têm sido sucessivamente conduzidos à morte, como já sucedeu com quatro deles, devido à criminosa e reincidente falta de segurança na referida obra e à não menos delituosa e grosseira negligência nas suas actividades inspectivas por parte dos elementos da ACT-Autoridade para as Condições do Trabalho.
Acontece que, à laia de comentário ao comunicado à imprensa de 1/7 com que a referida ACT se procurou eximir às suas graves responsabilidades, a Ordem dos Engenheiros atreveu-se - é o termo menos virulento que tal postura merece... - a vir publicamente proclamar que a segurança da referida obra, afinal, seria "exemplar"(sic).
Ora, para além da lastimável concepção anti-ética que os dirigentes desse organismo mostram ter das suas funções e responsabilidades - e que, pelos vistos, é a de que as Ordens profissionais devem servir é para encobrir as responsabilidades e delituosas acções e omissões dos seus membros e respectivos gabinetes e empresas - o que sobretudo tal comentário demonstra é o autêntico "feudalismo industrial" das concepções e das práticas empresariais que ainda imperam em Portugal e a ideia, própria do Quarto Mundo, de que os acidentes acontecem por força do acaso ou do destino e que nenhum problema de segurança existe , mas sim de "azar", senão mesmo de culpa dos próprios operários, quando estes morrem a trabalhar para o patrão.
Assim, enquanto nos países capitalistas mesmo só medianamente avançados as próprias exigências do desenvolvimento capitalista impõem que se fixe o objectivo de "Zero Acidentes" , se procurem à partida identificar e eliminar todos os factores de risco e, em caso de um acidente de trabalho, sobretudo se for mortal, se trate de imediato de apurar os mecanismos e práticas que o causaram e de estabelecer um conjunto de princípios de segurança que permita prever e prevenir novos acidentes, nesta sub-colónia em que querem transformar de vez o nosso País, do mesmo passo que os operários e outros trabalhadores morrem ou ficam estropiados para o resto das suas vidas, já os patrões, os engenheiros e empresas de fiscalização e de coordenação de segurança ao seu serviço, a ACT e a dita Ordem dos Engenheiros o que continuam a defender é a miséria da filosofia própria do século XIX de que os acidentes de trabalho são inevitáveis e de que o falecimento dum trabalhador não passa dum mero e desprezível "incidente de percurso", pelo qual ninguém deve ter que prestar contas perante a Justiça e que antes deve ser rapidamente esquecido.
E por isso a justa acusação formulada no supra-citado texto do Luta Popular é absoluta e fundadamente aplicável a toda essa legião de defensores da morte, que daqui igualmente ACUSO!
Garcia Pereira