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PAÍS

Contra a Proibição de Pescar Peixe Gata!

Arnaldo Matos

2015-01-21-pesca-madeira-01Enquanto os madeirenses celebravam, com um inolvidável espectáculo de fogo-de-artifício na baía do Funchal, a entrada no ano de 2015, os eurocratas da União Europeia roubavam-lhes o peixe gata.

Na Madeira, peixe gata começou por ser o nome popular apropriado para designar uma espécie de peixes de profundidade, com o nome científico de Dalatias licha, e generalizou-se depois e progressivamente às lixas (Centrophorus squamosus e granulosus) pata-roxas (Apristuris spp) cações, (Centroscyllium fabricii) sapatas, (Deania calceus) e xaras (Centroscymnus coelolepis) etc, em suma, generalizou-se aos tubarões de profundidade.

Sabe-se que, de um modo geral, os peixes de profundidade crescem lentamente, vivem longamente e multiplicam-se parcimoniosamente, mas não há, em Portugal, estudos científicos concretos sobre as populações das espécies dos nossos peixes de profundidade. Ou seja: não sabemos nada de concreto sobre o nascimento, vida, comportamento e morte dos peixes gata da região autónoma da Madeira, para além da circunstância de que conhecemos os bichos, comemo-los e os trazemos das profundidades bênticas.

Também já sabemos, por trágica experiência própria, que os eurocratas de Bruxelas quanto menos sabem de uma coisa mais legislam sobre ela. E foi o que desgraçadamente aconteceu com as nossas gatas das profundezas abissais.

Sem que os cretinos da secretaria regional do ignorante Manuel António tenham levantado a voz para se oporem firmemente ao disparate, os eurocratas de Bruxelas, mediante uma série de regulamentos idiotas, de que ressaltam, entre outros, o Regulamento (CE) n.º 2347/2002, de 16 de Dezembro, e o Regulamento (CE) n.º 2015/2006, de 19 de Dezembro, começaram a legislar sobre os “requisitos específicos em matéria de acesso à pesca de unidades populacionais de profundidade” e “sobre as possibilidades de pesca para os navios de pesca comunitários relativas a determinadas populações de peixes de profundidade”, decretando a proibição da pesca das gatas a partir das zero horas do dia 1 de Janeiro do ano 2015.

Fixemo-nos pois, companheiros pescadores madeirenses, neste primeiro ponto: há quase dez anos que foi decidido em Bruxelas que seria proibida a pesca de gatas a partir de 1 de Janeiro de 2015, e, nessa altura, ninguém do governo regional da Madeira e da secretaria do ignorante Manuel António se opôs aberta e decididamente contra essa medida.

E, companheiros, fixem, por favor, este segundo ponto: os patifes do governo regional de Alberto João Jardim e do taralhouco Manuel António esconderam dos pescadores madeirenses a medida que contra eles e contra a região havia sido tomada em Bruxelas.

Alberto João e Manuel António calaram-se bem caladinhos e fingiram-se de mortos na questão da proibição da pesca do peixe gata.

2015-01-21-pesca-madeira-03Agora que a proibição já entrou em vigor – às zero horas do dia 1 de Janeiro de 2015 – os patifes do governo regional e da Direcção de Pescas, com o patife-mor Manuel António à cabeça, vem dizer-nos, como o fizeram no passado dia 19 nas páginas do Diário de Notícias da Madeira, que irão tentar manter o direito à pesca da gata…

Convirá aqui lembrar que os pescadores da Madeira já não fazem na actualidade uma pesca específica ao peixe gata, como já o fizeram no passado os pescadores do Caniçal, de Machico e de Câmara de Lobos.

Não há já – e há muitos anos que não há – uma pesca específica aos tubarões de profundidade. Mas continua a haver uma pesca colateral, praticada pelos pescadores do peixe- -espada preto (o Aphanopus carbo), quase todos eles oriundos da vila piscatória de Câmara de Lobos.

É pois em Câmara de Lobos que residem os pescadores e famílias mártires desta política do abandono e traição de Alberto João e Manuel António perante o cobarde ataque dos eurocratas da União Europeia em Bruxelas.

Deverão ter reparado todos os meus dilectos leitores que, na parte que deixei atrás citada do título dos regulamentos que proíbem a pesca dos tubarões de profundidade, os burocratas de Bruxelas falam de restrições para os navios de pesca comunitários.

2015-01-21-pesca-madeira-04Ora, na Madeira – e, sobretudo em Câmara de Lobos – não há navios de pesca; há apenas vinte e dois pequenos barcos para a pesca do peixe-espada preto, construídos de madeira, verdadeiras cascas-de-noz, que quase nunca excedem os sete metros de comprimento e mal deslocam as duas toneladas de carga.

É pois contra esta micro-frota de mini-pesqueiros de gente pobre que Bruxelas brande as suas poderosas armas da proibição, sem que os cobardes Alberto João e Manuel António tenham levantado um dedo ou expelido uma palavra em defesa dos pescadores da Madeira e, sobretudo, dos pescadores de Câmara de Lobos.

A fileira das pescas na região autónoma da Madeira é o sector da actividade económica regional mais abandonado e destruído pelo governo criptofascista de Alberto João, Manuel António, Cunha e Silva e outros bandidos que chuparam o povo da Madeira e de Porto Santo nas últimas três ou quatro décadas.

A política das pescas foi sempre sacrificada à política dos grandes hotéis e do turismo, com preços da venda do pescado contidos e abaixo do valor acrescentado pelos pescadores, de modo a que o turista tivesse refeições baratas, mas de alta qualidade, em toda a parte por onde andasse.

2015-01-21-pesca-madeira-05E, por outro lado, nunca o governo regional soube fazer valer, tanto em Lisboa como em Bruxelas, as especificidades da pesca madeirense.

A pesca na região autónoma da Madeira é uma pesca artesanal, que, seja pelos métodos seja pelos meios de pesca, tem garantido, ao longo de séculos, uma sustentabilidade espectacular.

É de 3 141 toneladas a quota de pesca do peixe-espada preto da região autónoma da Madeira, fixada para o corrente ano de 2015 pelo concelho de ministros do mar da União Europeia.


Se a quota, que o ano passado foi integralmente pescada, tivesse sido também totalmente consumida pela população da Madeira e de Porto Santo (250 mil almas em números redondos) teria cabido a cada pessoa 12 quilogramas de peixe-espada preto por ano, ou seja, um quilograma por mês.

A região tem de importar peixe para poder alimentar o seu povo, tudo porque as limitações e políticas impostas pela União Europeia são absolutamente terrorísticas, e também porque, do lado do governo regional e do governo central, não há uma única palavra de protesto patriótico.

Sabe-se – e quem sabe mais sobre esta matéria é o notável cientista madeirense Doutor Manuel Biscoito – que o peixe-espada preto – o Aphanopus carbo – que vive a profundidades abissais (2 000 a 3 000 metros) em redor do arquipélago, poderá ir desovar no Atlântico Norte, à latitude da Islândia e da Irlanda, realizando depois a viagem inversa para os mares onde os pescadores de Câmara de Lobos o capturam.

2015-01-21-pesca-madeira-07Neste ano de 2015, os pescadores madeirenses estão autorizados a capturar uma quota de 3 141 toneladas, como já deixámos referido, mas a França, cujos arrastões capturam o peixe-espada no Golfo da Gasconha, na fase das suas deslocações para norte e para sul, não têm nenhuma limitação ou proibição de pesca do peixe-espada preto.

E nenhum lacaio do governo regional ou do governo central tem coragem para levantar este problema em Bruxelas.

O método que o pescador de Câmara de Lobos usa há séculos para capturar o peixe-espada preto é o método do palangre de profundidade.

A pesca faz-se na coluna da água, de 800 a 1 200 metros de profundidade, com o lançamento de uma linha, estendida ao longo de quatrocentos metros a essa profundidade, presa por duas boias à superfície, com 5 000 a 7 000 anzóis, iscados com pota (Ommastrephes sagittatus), efectuando cada uma das 22 pequenas embarcações três a seis lances por saída (4 a 8 dias de mar).

Trata-se de um método de pesca muito selectivo, ajustado à conservação dos stocks, e selectivo tanto quanto ao tamanho e forma do anzol, inapropriado em geral para a captura de outras espécies, como quanto à especificidade do isco, que só pode ser pescado num período lunar inferior a um terço do mês, nos meses de primavera/verão, e ainda quanto ao próprio aparelho em si, colocado na coluna de água, sem nenhum contacto directo com o fundo oceânico.

2015-01-21-pesca-madeira-08Este tipo de aparelho tem pois um by-catch muito reduzido, ou seja, não tem, a não ser num caso especial que se irá adiante tratar, nenhum efeito sobre outras espécies piscícolas.

Disse que, apesar de tudo, o aparelho – o palangre de profundidade – tinha um efeito colateral reduzido: capturava, por acidente, uns quantos peixes gata, isto é, uns quantos tubarões de profundidade.

Compreende-se a importância de vida e de morte que tem para os eurocratas de Bruxelas e para os governos de traição Coelho/Portas e Alberto João/Manuel António a defesa intransigente dos tubarões e o gosto que sentem em proteger, mesmo que só metaforicamente, a classe a quem lambem diariamente as botas.

Mas mesmo sobre o efeito colateral que o palangre produz sobre as gatas, está estabelecido há muito duas conclusões científicas: primeiro, as espécies acompanhantes da subida do peixe-espada preto aos anzóis do palangre rondam os 5% em número e, depois, as espécies acompanhantes com menos de 90 centímetros de comprimento rondam os 0,5% em número.

Por outras palavras, tudo isto significa que o reduzido efeito colateral do palangre sobre os tubarões de profundidade não se exerce sobre os tubarões pequenos e, quanto aos grandes, exerce-se apenas sobre um número equivalente a 5% do peso do peixe-espada capturado em cada lance.

Assim, para uma quota de pesca de 3 141 toneladas de peixe-espada preto, poderá colateralmente capturarem-se 157 toneladas de diversas espécies de gatas, num ano.

E atenção: não há nenhum outro método de captura do peixe-espada preto mais ecologicamente seguro e sustentável do que o do palangre de profundidade.

Se a União Europeia insistir em proibir a captura daquela reduzida margem colateral dos tubarões de profundidade, então tal proibição implicará a efectiva proibição da pesca do peixe-espada preto pelos pescadores de Câmara de Lobos.

Por muito que os eurocratas de Bruxelas, conjuntamente com os traidores no governo regional e central, amem os tubarões, enquanto que nós, madeirenses, os comemos sem apelo nem agravo, não poderão nunca impor-nos a fome para salvamento simbólico dos seus patrões.

Lacaios como o Manuel António, que ficaram todos estes anos calados sobre a proibição das capturas do peixe gata há muito agendada para o dia 1 de Janeiro de 2015, podiam ao menos ter-se lembrado de exigir aos eurocratas de Bruxelas que pagassem a investigação de um tipo de anzol que permitisse a soltura da gata, sem conduzir à soltura do peixe-espada.

2015-01-21-pesca-madeira-11Um estudo deste jaez já foi levado a efeito com sucesso no domínio dos efeitos colaterais da pesca grossa, por forma a desprender o espadim azul (Makaira nigricans) em vias de extinção.

Façam o que quiserem; mas não esperem que os pescadores de Câmara de Lobos, depois de explorados dia e noite pelos tubarões de terra, passem também a alimentar, em vez de os comerem, os tubarões de profundidade.



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Comentários   

 
# João Paz 22-01-2015 01:48
No continente querem matar à fome os pescadores e as suas famílias através da quota ridícula da sardinha.

Na Madeira o meio usado é o peixe gata. O que engendrarão para os Açores para completar o ciclo de traição e de entrega aos armadores estrangeiros das nossas riquezas marítimas?

Só derrubando esta canalha de migueis de Vasconcelos o poderemos impedir.
 

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