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PAÍS

O Manifesto dos Setenta

3. Reconheça-se pois, como é dever de todos os democratas, o direito que assiste a todos os cidadãos, incluindo os setenta e cinco subscritores do manifesto, de expressarem publicamente, quando e onde quiserem, as suas legítimas e sempre oportunas opiniões sobre a magna questão da dívida, do mesmo passo que cumpre combater a conduta fascista dos traidores que compõem a camarilha reaccionária de vende-pátrias acoitada em Belém e São Bento, para os quais só eles, e mais ninguém, tem direito a discutir a política da dívida.

Posto isto, cumpre chamar a atenção dos operários e de todo o povo trabalhador para o facto de que o manifesto sobre a reestruturação da dívida, sendo embora legítimo, não é uma peça inocente.

É, desde logo, o programa político pré-eleitoral, devidamente disfarçado, de uma coligação de forças de centro-direita, mediaticamente conhecida como Bloco Central, alargada a uns quantos trânsfugas da esquerda, onde se misturam os dissidentes mais recentes do PCP e os trotsquistas de Louçã.

O que esta pré-coligação se propõe com o manifesto sobre a reestruturação da dívida é capitalizar o descontentamento popular contra a política austeritária da Tróica e antecipar-se à constituição de uma ampla frente democrática e patriótica, cujo objectivo político primacial é a imediata saída do euro.

O manifesto sobre a reestruturação da dívida é uma desesperada tentativa para desarmar o crescente movimento político de constituição de uma frente democrática e patriótica, que imporá essa imediata saída de Portugal do euro.

A saída de Portugal do euro está a marcar desde já toda a agenda política nacional.

A política até agora seguida por Cavaco e pelo governo Coelho/Portas já não tem força para, sozinha, manter Portugal no euro. Daí os desesperados apelos do governo e do presidente aos consensos e, sobretudo, ao consenso de Coelho com Seguro.

A burguesia bancária e financeira, portuguesa e alemã, é a força oculta que se alinha atrás do manifesto para a reestruturação da dívida, nas vésperas de eleições europeias que, eventualmente, poderão mesmo derrubar o actual governo e isolar totalmente Cavaco.

Enquanto Coelho e Cavaco, compreendendo perfeitamente que o manifesto sobre a reestruturação da dívida é o sinal da sua derrocada, desatam freneticamente a atacar os respectivos subscritores, Seguro espera para ver se reestruturação da dívida e renegociação da dívida significarão ou não uma e a mesma coisa, e se o manifesto dos setenta e cinco será ou não afinal um bom substituto para o novo rumo que a actual direcção do PS anda há três anos a tentar definir sem sucesso, coisa que Assis, batendo palmas com as quatro extremidades, já percebeu que é.


4.
Entre nós, comunistas, e o manifesto para a reestruturação da dívida há um único ponto de contacto: a dívida pública portuguesa, em consequência da política da Tróica e dos seus lacaios em Belém e São Bento, tornou-se total e definitivamente insustentável e impagável.

Nisto estamos de acordo. Em tudo o mais estamos contra, desde as causas que explicam a insustentabilidade e impagabilidade da dívida, até às consequências políticas, económicas, financeiras, monetárias e cambiais que é forçoso extrair da insustentabilidade e impagabilidade da dívida.

Mesmo quanto ao ponto em que nós, comunistas, poderíamos estar formalmente de acordo com os subscritores do manifesto – o da insustentabilidade e impagabilidade da dívida – há, ainda assim, divergências entre nós e eles quanto à descrição exacta dessas insustentabilidade e impagabilidade.

Isto porque o texto subscrito pelos setenta e cinco tartufos é constituído por parágrafos que se caracterizam pela mais misteriosa das confusões semânticas, gramaticais e políticas.

Veja-se apenas este exemplo, sendo certo que o mesmo confusionismo é timbre dos demais parágrafos:

As condições relativas a taxas de juro, prazos e montantes abrangidos devem ser modulados conjugadamente, a fim de obter a redução significativa do impacto dos encargos com a dívida no défice da balança de rendimentos do país e a sustentabilidade da dívida pública, bem como a criação de condições decisivas favoráveis à resolução dos constrangimentos impostos pelo endividamento do sector empresarial público e privado e pelo pesado endividamento externo

Ora, este misterioso parágrafo tem interpretações diferentes entre os próprios subscritores do manifesto, porque, enquanto alguns dos assinantes vêem nele uma alusão ao perdão da dívida, o Engº João Cravinho, redactor do texto, já veio esclarecer que “o documento não se baseia na possibilidade de perdão da dívida” (sic)

Toda a gente sabe que Cravinho é a imagem pública do oportunismo político mais nauseabundo, mas aqui o sacrista vai ao ponto de chorar por um olho azeite (sugere, por escrito, que haverá perdões da dívida) e pelo outro olho vinagre (declara à imprensa que o manifesto não contempla perdões).

Claro, é fácil entender os oportunistas como Cravinho: o homem quer dar aos bancos garantias firmes de que não serão nunca forçados a perdoar dívida pública. Afinal o haircut de Cravinho é apenas uma promessa de corte de cabelo na cabeça de um careca...

O oportunismo dos setenta e cinco tartufos vai ao ponto de alguns deles (anónimos) terem feito à imprensa esta extraordinária declaração: “a falta de clareza do texto é propositada, caso contrário nunca conseguiria reunir personagens tão divergentes e que defendem políticas absolutamente distintas para o país no mesmo apelo” (sic).

Cumpre aos operários manterem os seus olhos bem abertos, pois a canalha que subscreve o manifesto da reestruturação da dívida não merece nenhuma espécie de credibilidade.

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