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INTERNACIONAL

Iémene: "O meu voto é a revolução"

Na passada Terça-feira, dia 21 de Fevereiro, realizaram-se no Iémene umas eleições presidenciais, tão bizarras que o leitor poderá colar nelas todos os qualificativos que lhe bailaram na mente, menos o qualificativo de democráticas.

Às referidas eleições presidenciais só pôde concorrer um único candidato, o antigo general Abdu Hadi, durante vinte e três anos consecutivos vice-presidente-sombra do presidente ainda em funções, Abi Abdulá Salé, que ocupou ininterruptamente o cargo durante os últimos trinta e quatro anos!...

Embora não pareça, o Iémene é todavia uma república, com duas Câmaras, das quais uma, a Câmara Alta, é constituída por 111 deputados, escolhidos, nomeados e empossados pelo presidente Salé, que é também quem escolhe, nomeia e dá posse ao primeiro-ministro e a todos os membros do governo.

Os filhos, os irmãos e os sobrinhos de Salé são os generais que comandam e controlam o exército, a força aérea e a marinha, ramos das forças armadas apetrechados com carros de combate, aviões, vasos de guerra e munições fornecidos pelo imperialismo americano e orientados por instrutores ianques.

Para finalizar o resumo da matéria, cumprirá informar que o petróleo e toda a economia iemenita são propriedade ou são controlados pelos familiares, generais e amigos de Salé.

As mulheres não têm direitos políticos e têm muito escassos direitos cívicos.

Este é, como se calcula, o tipo de regime que o imperialismo ianque, Obama e a ridícula Hillary Clinton apoiam e adoram...

Acontece que, num país tão bárbaro, tão retrógrado, tão medieval e, por outro lado, tão pobre e tão oprimido como o Iémene, mais cedo ou mais tarde, o povo, e sobretudo as mulheres e os jovens, haveriam de levantar-se contra os déspotas locais e os seus amos imperialistas.

E foi o que aconteceu no Iémene, logo no começo da chamada Primavera Árabe, em Fevereiro de 2011, quando a juventude indignada ocupou a Praça da Mudança, em Saná, capital do país, ocupação que, com altos e baixos, ainda hoje se mantém, mesmo depois de conhecidos os resultados dessas inconcebíveis eleições presidenciais com um único candidato, vice-presidente há mais de duas décadas.

E foi precisamente na Praça da Mudança que, no dia das chamadas eleições presidenciais, o movimento de ocupação, que há muito havia proclamado o boicote do acto eleitoral, afixou o cartaz que serviu de título a este escrito:”o meu voto é a revolução!

O Iémene é um país árabe que, como toda a gente sabe, ocupa a extremidade sudoeste da Península Arábica, país que tem por vizinhos, a Norte, a Arábia Saudita e, a Leste, o Omã.

É o mais pobre de todos os países árabes.

O Iémene, que tem seis vezes a superfície de Portugal e mais do dobro da população, ocupa, todavia, uma posição geográfica estratégica vital, tanto no contexto da própria Península Arábica como no controlo das linhas de navegação do Corno de África, das entradas e saídas do Mar Vermelho e do Golfo de Ádem e do Noroeste do Oceano Índico, coisa que muito bem sabem os portugueses que conhecem os roteiros e estudaram as batalhas travadas nessa região do globo por Almeida e Albuquerque.

No Norte do Iémene, única zona do país com chuvas regulares e uma forte agricultura, predomina a cultura xiita. No período compreendido entre os anos de 2002 e 2008, as tropas do tirano Salé moveram quatro guerras contra o Norte, apoiadas pelo imperialismo americano e pelo Conselho de Cooperação do Golfo, organismo político, económico e militar que reúne, sob a égide americana, seis Estados do Golfo Pérsico (Omã, Emiratos Árabes Unidos, Arábia Saudita, Qatar, Barein e Kuwait).

Essas guerras mataram dezenas de militares de iemenitas, mas o Norte do país manteve uma larga autonomia, apoiada em movimentos guerrilheiros.

Em 1990, sob a batuta do imperialismo americano, as tropas de Salé ocuparam o então Iémene do Sul, (República Democrática do Iémene), país independente desde 1967, quando se libertou do colonialismo britânico, e onde ainda hoje existem fortes movimentos guerrilheiros que reclamam a autonomia ou a independência da região.

No Norte e no Sul do Iémene houve um boicote generalizado à farsa eleitoral montada pela CIA, e feriram-se combates que causaram pesadas baixas às tropas de Salé e do seu sucessor Hadi, bem se podendo dizer que nessas duas regiões do país o voto foi a revolução.

A luta pelo derrubamento do déspota Salé e do seu regime foi uma luta duríssima, que atingiu o auge no Verão de 2011, quando o general Ali Mossur, comandante da primeira brigada de blindados (americanos, claro está...) passou com os seus carros de combate e os seus homens para o campo da revolução.

O palácio de Salé, em Saná, foi bombardeado e incendiado, e o presidente evacuado para os Estados Unidos da América, alegadamente para tratamento dos ferimentos recebidos.

A intervenção dos Estados Unidos da América e do Conselho de Cooperação do Golfo logrou obter o apoio de algumas fracções burguesas do campo insurgente, às quais prometeram, para depois da eleição do candidato presidencial único, Abdul Hadi, uma nova Constituição e a liberdade de formação de alguns partidos políticos de direita.

Salé continuará à frente do único partido político até agora existente, o Partido do Congresso, com imunidade vitalícia garantida. Garantida, desde logo, pelo facto de que a Guarda Pretoriana, primeira unidade de elite do regime, continuará sob o comando de Ahmed, filho de Salé, e as Forças de Segurança Internas continuarão sob o comando Yahya Moamede, sobrinho do ditador.

A farsa eleitoral presidencial do pretérito dia 21 de Fevereiro destina-se a isolar a revolução iemenita, dominante no Norte e no Sul do país, e a manter o regime político medieval em vigor há mais de trinta anos no Iémene.

Sobre a revolta no Iémene, os órgãos de comunicação ocidental, nomeadamente os portugueses, pura e simplesmente nada dizem e, bem se percebe porquê, vão até ao ponto de nem falarem sobre a farsa eleitoral da última Terça-feira, ocultando o escândalo iemenita numa altura em que Hillary Clinton rejeita, por insuficientemente democrático, o referendum na Síria!...

Diga-se, de passagem, que a tão propalada violência do regime sírio em Homs é uma brincadeira de crianças, quando comparada com os massacres de dezenas de milhares de iemenitas pelo regime de Salé.

A questão com que o povo português está hoje confrontado, relativamente à chamada Primavera Árabe, é esta: quando os povos enfrentam o imperialismo americano e os seus lacaios locais, grassa o silêncio sobre a Primavera Árabe; quando grupos movidos e armados pela CIA, como sucedeu na Líbia e na Síria, contestam governos pró-árabes, pró-palestinianos, pró-iranianos e anti-sionistas e anti-imperialistas, aqui-del-rei que há tortura, que há violação dos direitos humanos, que há crimes contra a humanidade, que há genocídio.

Tudo isto é fumaça da comunicação social a soldo do imperialismo, para preparar a opinião pública mundial para uma perigosa guerra, já em curso, contra o Irão.

O que se passa na Síria, na Líbia, no Barein, no Iémene, tudo o que ocorre nos países do Oriente Próximo é já matéria dos derradeiros preparativos para o ataque imperialista, americano e europeu, contra o Irão.

Quanto a essa, nós somos contra!


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