Partido

O que é isso de Partido Comunista do Povo?

Ao responder a uma carta pela qual o Departamento de Organização do Comité Central lhe dava as boas-vindas pela sua inscrição como militante do Partido, uma camarada escreveu: “Fico a aguardar o vosso contacto para começar o meu trabalho político no Partido Comunista do Povo, PCTP/MRPP”.

O desejo expresso pela nova camarada de querer começar imediatamente o seu trabalho político no PCTP/MRPP é uma manifestação de combatividade e de dedicação que nos enche a todos de orgulho e de alegria.
Porém, a referência que faz ao anseio de encetar o seu trabalho político no Partido Comunista do Povo e considerando que esse partido é o PCTP/MRPP, obriga-me, com todo o apreço e até alguma ternura, mas sem paternalismos, a recebê-la no Partido com uma discussão política e ideológica: minha querida camarada, não há nem pode haver, para os comunistas, nenhum Partido Comunista do Povo!

Olariloléu!

O Partido Comunista, fundado na doutrina do marxismo e na ciência do materialismo histórico e do materialismo dialéctico, é o partido de uma classe: a classe dos proletários. O Partido Comunista é pois o partido do proletariado; o estado-maior-general da classe dos trabalhadores que foram desapossados pela burguesia de todos os seus meios e instrumentos de produção e que não poderão sobreviver senão vendendo a única mercadoria que possuem: a sua força de trabalho.

O povo é um conceito e uma realidade totalmente diferentes. O povo representa apenas uma parte da população do país, que é todavia a maior parte dessa população; mas o povo também está dividido em classes, e, por isso, está longe de ser uma realidade política, económica e social homogénea.

Em contrapartida, o proletariado constitui uma classe económica e socialmente homogénea, mas não necessariamente homogénea sob o ponto de vista político. Os proletários estarão sempre divididos entre si na luta pelo melhor salário. É justamente o Partido Comunista que faz do proletariado uma classe revolucionária politicamente unida: uma classe em si e para si, para usarmos uma expressão de Marx, bebida na filosofia de Hegel.

Este assunto constitui precisamente o tema central do livro que está a ser presentemente estudado no nosso Partido o Manifesto do Partido Comunista, de Marx e Engels.

Assim, um Partido Comunista do Povo seria tão reaccionário como o Partido Popular do CDS e do Portas. O Partido Comunista do Povo representaria a melhor arma da burguesia para dividir, isolar e amarrar os interesses políticos e revolucionários do proletariado aos interesses reaccionários da pequena e média burguesia. Precisamente aquilo para que o secretário-geral e os membros do comité permanente do comité central suspensos estavam a procurar arrastar o nosso Partido.

Sucede contudo que o partido comunista proletário, em determinadas fases ou etapas do movimento revolucionário, coloca-se à frente daquelas camadas populares hesitantes, nomeadamente o campesinato e a intelectualidade, e condu-los pelo caminho consequente da luta de classes, afastando essas camadas da direcção do capitalismo e isolando-o cada vez mais.

Ora, a organização a que acabas de aderir está hoje no centro duma luta renhida para conseguir ser aquilo que já foi até aos anos oitenta do século passado: um partido comunista proletário.

Perguntarás por que se chama então Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses e não Partido Comunista Operário ou Partido Comunista Português.

A pergunta tem toda a razão de ser. E a resposta é que teve de ser escolhido, no Congresso da Fundação do Partido em 1976, um nome que o chamado conselho da revolução do dito movimento das forças armadas aceitasse na legalização do Partido, visto que todos os outros nomes alternativos foram recusados por poderem confundir-se com o nome do partido de Cunhal e de outros que se apresentavam à época, e que, ao contrário do MRPP, gozavam da simpatia e apoio daquele movimento casernático.

Mas é verdade que trabalhador não é sinónimo de operário (ou de proletário): todos os operários são trabalhadores, mas nem todos os trabalhadores são operários.

Bem-vinda pois ao partido comunista proletário.

E aqui chegada, impõe-se mais uma explicação relativamente a uma pergunta óbvia: pode fazer parte de um partido comunista proletário alguém que não seja operário?

A resposta é: pode! Tem é de ser um comunista, ou seja, um cidadão ou cidadã que assimilou – e assim se conduz na luta de classes – a doutrina, a ciência e a política do materialismo histórico e do materialismo dialéctico, a ciência do marxismo, em suma, e participa na prática da revolução proletária.

12.11.2015

Arnaldo Matos

Carta de Cordélia

Saudada a sua inscrição no Partido com a oferta de uma polémica no texto publicado acima, Cordélia respondeu de imediato, cheia de entusiasmo e com espírito desportivo, frisando a seu empenho na luta política. Aí vai a sua carta: