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PAÍS

EFACEC
Mais Uma Empresa Estratégica Vendida ao Desbarato
Publicado em 12.06.2015

efacec01Os rumores de há três meses atrás concretizam-se agora: uma parte de leão da EFACEC está a ser adquirida pela Isabel dos Santos com a compra de 65% das acções através da Winterfill (sociedade entre o estado angolano e Isabel dos Santos, em que esta é maioritária) por 200 milhões de euros. Para a concretização da “operação” o grupo EFACEC foi dividido em duas partes, ficando de fora do negócio a parte composta essencialmente pela manutenção e pelas energias renováveis, ou seja, o sector localizado na Maia. A parte objecto da referida compra dos 65% por capitais angolanos é composta essencialmente pela fábrica da Arroteia e pela engenharia da Maia e rede internacional, designada por Efacec Power Solutions, compreendendo a energia – transformadores, aparelhagem, automação e mobilidade eléctrica – e a engenharia. Os antigos patrões, o Grupo José de Mello e o Grupo Têxteis Manuel Gonçalves, ficam agora cada um com 17,5% do capital através de uma sociedade, detida em partes iguais pelos dois, designada Efacec Capital.

Olhando para esta divisão, o que era incompreensível quando foi divulgada a venda por 5 milhões de euros de uma patente relativa ao fabrico de células fotovoltaicas a uma empresa australiana e que permitiria à EFACEC, caso viesse a desenvolver a respectiva industrialização, ficar na frente da produção mundial desse sector em grande crescimento, fica agora claro: não passou de um acto de inteira submissão aos interesses envolvidos no negócio em causa.

Aparentemente, estão a decorrer duas reestruturações na EFACEC: uma, de que não se fala, mas que já está em curso, que corresponde à reorganização que a divisão do grupo em dois implica, com vendas de vários activos pelo meio e, não se sabe ainda, de encerramentos e suas consequências; a outra, decorrente da assumpção da gestão da EFACEC Power Solutions pelos novos proprietários maioritários, que tentam dourar a pilula, mas a que é preciso estar atento.
Estamos a assistir a um exemplo paradigmático do que se está a passar no País: mais uma empresa que poderia continuar a estar ao serviço do desenvolvimento do País num sector estratégico, como é o da energia, mas que, com esta negociata, passa a estar directamente ao serviço de um Estado estrangeiro e da sua casta dirigente.

Para já, e porque os conhecimentos especializados de uma parte dos operários são essenciais para a produção (como o caso do buraco da expansão para os EUA o demonstra), as consequências parecem recair essencialmente sobre a parte que fica de fora da aquisição. Mas as dúvidas são muitas, não se entendendo, por exemplo, o que significa dizer-se, agora, que estão ao seu serviço 2500 “colaboradores”, número que incluirá cerca de 1500 no estrangeiro, quando no relatório de 2012 (o mais recente disponível ao público) se fala em 4622 “colaboradores”, dos quais 3107 em Portugal, sem que se tenha registado um número significativo de despedimentos daí para cá.
Olhemos o exemplo da Soares da Costa: a “salvação” também veio do mesmo lado e, agora, 272 operários estão sujeitos a um despedimento colectivo.

Hoje, as questões estão mais claras, mas, já há três meses atrás, estes problemas começavam a ser escrutinados. Corria uma greve por aumentos salariais com uma adesão praticamente total do sector operário e, mais do que isso, pelo direito a serem tratados com respeito, tendo a mesma obtido um êxito significativo, como foi noticiado pelo Luta Popular Online, e mostrado que é possível aumentos salariais bastante acima da média e a recuperação de regalias sociais perdidas. Mas mais importante do que isso foi o elevado espírito de luta e determinação demonstrados pelos trabalhadores, que permitiu o êxito alcançado e a disposição de encetar novas formas de luta logo que isso se coloque.

Aquando dessa memorável greve, aspectos relacionados com a situação e a formação dos trabalhadores na empresa, e o facto de a Comissão de Trabalhadores ser excluída dos actos de gestão da empresa e de outras negociações foram preocupações e denúncias expressas nas declarações prestadas ao Luta Popular Online pelo secretariado da comissão de trabalhadores (CT) da EFACEC ENERGIA (fábrica da Arroteia), declarações essas que, por ajudarem a melhor compreender a actual situação por que passa a empresa, passamos a transcrever.

LP: Para além dos efectivos, qual é a situação contratual dos trabalhadores ?

CT: Há trabalhadores a contrato e temporários. Também há subcontratados…é uma mistura muito complexa. E também há trabalhadores a trabalhar à peça. Basicamente, a empresa vai buscar trabalhadores à medida que precisa deles, mediante a produção. É assim que funciona. Quando a empresa deixa de fechar contratos de fornecimento de transformadores ou estes já estão prontos, já não precisa deles e manda-os embora.

O recurso à contratação de pessoal temporário é para nós, CT e trabalhadores, uma preocupação muito grande. Temos sempre que ter em conta que esta empresa é a única em Portugal a fazer transformadores o que significa que os trabalhadores que desempenham este tipo de funções só aqui é que o fazem e só aqui são formados. Por isso, se nós utilizarmos a mão-de-obra, como a administração o faz, com recurso aos temporários, não só estamos a utilizar trabalho precário, como estamos a pôr em causa a qualidade daquilo que fazemos, porque esses trabalhadores precisam de bastante tempo para se tornarem profissionais que realmente consigam desempenhar as funções que lhes são propostas. Por isso, os trabalhadores despedidos voltam outra vez à fábrica, mas sempre a contrato.


LP: É público que os resultados operacionais da Efacec Energia foram positivos no ano passado, embora os resultados globais sejam negativos em função dos resultados do Brasil e dos EUA. Como é que os trabalhadores vêem essa situação?

CT: Não havendo transparência, o que se vai sabendo é isto: há cerca de seis anos atrás a EFACEC lançou-se nos mercados internacionais, porque o mercado nacional já estava saturado, acreditando que aqueles funcionariam para depois sustentar a empresa, mas não foi isso que aconteceu. E as pessoas que, nesses mercados, enterraram o Grupo EFAFEC, nunca foram responsabilizadas por isso. Enfim, a situação levou a este avolumar de prejuízos que vamos continuar a pagar, porque as coisas foram vendidas ao desbarato.
Nos EUA, nós tínhamos uma fábrica de sonho, com tudo do bom e do melhor, em termos de máquinas para trabalhar, coisas que nunca tivemos aqui, mas todo esse património foi delapidado porque não resultou.
Nós sempre quisemos que fossem identificados os responsáveis pela situação, mas agora, segundo a empresa, os responsáveis somos todos nós!

Para além dos responsáveis era realmente útil apurar o que verdadeiramente se passou, uma vez que isso nunca foi transmitido a ninguém aqui dentro. Por parte da direcção da empresa nunca houve uma explicação sobre o que sucedeu com esses negócios. O facto de nos dizerem que o Brasil e a América deram prejuízo porque foi um mau negócio, não diz nada. Nós queríamos saber, na realidade, o que se passou. E isso nunca foi dito! O que leva a que os trabalhadores imaginem diversos cenários. Com todas as coisas a que nós assistimos na comunicação social, com todos os escândalos económicos ligados a diversas empresas e a figuras públicas neste País, as pessoas começam a equacionar se a EFACEC também não está metida em negócios de fuga de capitais, sabe-se lá para onde, porque, na realidade, esses negócios feitos no Brasil e principalmente nos EUA são negócios muito avultados, são negócios que endividaram muito a empresa.


LP: A perspectiva é de continuar a luta?

CT: Exacto, e conscientes de que, a partir de agora, esta luta significa muito mais do que o aumento de 80 euros. Os 80 euros, na realidade, na nossa vida não vão ter praticamente peso, são muito mais simbólicos. Isto quer dizer que, a partir deste momento, a direcção, sejam quais forem os investidores que vierem, vão ter que pensar que a política salarial que se tem mantido até agora nunca mais vai poder ser a mesma. As coisas vão ter que mudar. Esta luta foi o despoletar das consciências dos trabalhadores da EFACEC e vai ter que se manter seja qual for o investidor que para aqui venha.




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