PAÍS
- Publicado em 02.02.2021
O confinamento capitalista autodenuncia-se e anuncia o seu fim (2.ª parte)
A ESTRANHA AMNÉSIA DOS TÉCNICOS DE SAÚDE
Temos assistido aos desabafos de vários técnicos de saúde, que têm utilizado as redes sociais para darem conta de algum cansaço causado pelo volume de trabalho que têm tido nos últimos tempos.
Conheço vários técnicos de saúde, e ao longo dos anos, o que sempre se ouviu das suas bocas foram queixas (e com razão) acerca das suas precárias condições de trabalho, fracos vencimentos e também a insuficiência do Sistema Nacional de Saúde (SNS) em fazer face ao período de mortalidade mais acentuado do Inverno, tendo estado em ruptura várias vezes nos últimos anos.
Breves referências ao estado do SNS nos anos anteriores:
2007
A Gripe levava cerca de 16 mil pessoas por dia ao Hospital. Anunciava-se que os médicos estavam a trabalhar sob pressão. http://bit.ly/2M3unHo
2012
Anunciava-se a pré-ruptura em muitos serviços hospitalares, com os corredores a servirem de abrigo a muitos doentes enquanto as unidades de Saúde reorganizavam os serviços por falta de camas para internamento. A maior parte teve de abrir vagas noutros serviços e reorganizar a assistência. http://bit.ly/39Izghs
2015
O secretário de Estado da Saúde afirmou que alguns hospitais estavam "a atingir os máximos da sua capacidade de resposta" e apelou à população para evitar o congestionamento das urgências hospitalares. http://bit.ly/3qypWUc Avançou-se com a possibilidade dos hospitais em ruptura puderem desviar doentes para privados. http://bit.ly/2Ndcbf7 A DGS recordou que é habitual morrerem 12 mil a 13 mil pessoas no Inverno. http://bit.ly/38U9vvb
Uma equipa de reportagem da TVI registou o caos em muitos hospitais, que continuavam há algum tempo, com doentes internados em macas nos corredores. Referia-se que havia "pessoas a gritar" e agressões a médicos. Tal verificava-se, mesmo após medidas anunciadas pelo Governo. Relatava-se que o Hospital de Chaves parecia um "retracto de outro mundo", e à semelhança do Hospital Amadora-Sintra, tinha macas espalhadas pelos corredores. No hospital de Setúbal, havia ambulâncias retidas à espera de maca para libertarem os doentes. Foi assim que alguns pacientes faleceram.
https://bit.ly/3obkjtm
Vários hospitais da região Norte viram aumentada a sua capacidade de resposta com a abertura de mais 145 camas e com horários alargados em 85 unidades de saúde. https://bit.ly/3pcdsBt
António Arnault assumiu um colapso do SNS e fez apelo a Cavaco Silva, então Presidente da República. https://bit.ly/3sKZ4SR
A jornalista Ana Leal descreveu estado do serviço de urgência de 15 unidades de saúde em Portugal, como sendo de «terceiro mundo»: "Corredores parecem hospitais depois de um Tsunami." http://bit.ly/2KGmese
2016
Noticiava-se que vários hospitais de todo o país estavam à beira da ruptura com tempos de espera na urgência que atingiam as 12 horas, apesar de na altura, ainda se estar longe do pico da Gripe. http://bit.ly/2LKLEW3 Os médicos falavam em falta de meios. A maioria dos casos foram de idosos com doenças crónicas e doentes com infecções respiratórias. https://bit.ly/2NhTyH2 Houve hospitais, que em desespero de causa, tentaram recrutar médicos, oferecendo-lhes verbas avultadas (1000 euros por turno). http://bit.ly/3p9Eutf Outra notícia avançava que o caos nas urgências esgotou camas e macas nos hospitais. http://bit.ly/3qzxrua
2017
Anunciou-se que a Pneumonia era a doença respiratória com maior índice de mortalidade em Portugal. http://bit.ly/368QRhv Acrescentou-se que as doenças respiratórias matavam mais de 22 mil por ano em Portugal, http://bit.ly/3sOepBX tendo subido 25% na última década. http://bit.ly/2LQ9Y9m
2018
Filipe Froes queixava-se que o SNS estava no limite, apesar de ainda não se ter atingido o pico da Gripe. http://bit.ly/3nRVqmx Vários hospitais denunciaram condições de sobrecarga: macas aglomeradas em zonas de recepção e triagem. Enfermeiros a queixarem-se da falta de capacidade — humana e material — para atender os doentes em pleno pico da Gripe. Urgências sobrelotadas com dezenas de doentes deitados em macas acumuladas por vários espaços do hospital, etc. http://bit.ly/2NiyBf9 António Costa admitiu situações de “ruptura” e “caos" em alguns hospitais devido ao surto de Gripe. http://bit.ly/3sBij14
Ainda em 2018, Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, não tinha dúvidas ao afirmar: “Se houver um pico grande, a maioria dos hospitais não está preparada.” http://bit.ly/39GpPz7
No programa Prós & Contras de 2018, confrontada com um pico de Gripe, surge o relato dramático de uma enfermeira, Vanda Veiga, que admitiu emocionada: "tínhamos de escolher quem ia para o 'canto da morte'." Segundo esta enfermeira, o SNS está em ruptura há anos. https://bit.ly/3nYsZ6l
2019
Foi anunciado que o SNS estava a "cair aos bocados". http://bit.ly/3nWh0Gq
2020
Em Janeiro, ainda antes do alegado aparecimento da pandemia de COVID-19, também se noticiava a que a Gripe estaria a conduzir as urgências dos hospitais ao caos. http://bit.ly/3nRVWRv
Em Janeiro de 2020, mais de 15 ambulâncias em simultâneo causaram o caos nas urgências do hospital de Setúbal. Os profissionais garantiram que não havia macas suficientes para transportar doentes. http://bit.ly/2XRQIKS
Actividade hospitalar comparada com anos anteriores:
O site da Transparência do SNS fornece números da actividade hospitalar nas suas várias vertentes. Ainda não há números disponíveis para 2021 e os números de 2020 estão incompletos. No entanto, tendo em conta o já publicado, constata-se uma muito menor actividade ao nível do Internamento, http://bit.ly/39GXSXT Intervenções Cirúrgicas, http://bit.ly/35S2UQm Consultas Médicas Hospitalares http://bit.ly/3swBjOh e Taxa de Ocupação Hospitalar. http://bit.ly/2NgD2Hk
Ao nível da actividade de Urgências há dados actualizados! E estes dizem-nos que a actividade das urgências diminuiu muito em 2020 e continua muito reduzida em 2021, se comparada com os anos anteriores. http://bit.ly/2LYlwXE
Há um serviço que permite um acompanhamento em tempo real do número de pessoas presentes nas urgências dos vários hospitais. Têm sido várias as partilhas pelas redes sociais que têm atestado o reduzido número de casos de urgência. http://bit.ly/2XSZMzi
Conclusão:
Não duvido que neste mês de Janeiro de 2021 esteja a verificar-se um elevado volume de trabalho nos hospitais. Também é certo o cansaço dos técnicos de saúde. O protocolo de segurança a seguir também não facilita e os procedimentos tornam-se todos muito mais demorados, o que contribui.
No entanto, como se pode ver pelas fontes apresentadas, duvido que esse volume de trabalho seja superior ao dos anos anteriores. Os dados indicam o contrário. O que acontece é que, em vez de reforçado como o progressivo envelhecimento da população exige, o SNS tem vindo a ser paulatinamente destruído no que respeita à capacidade de atendimento, particularmente, mas não só, na vertente do pessoal: os propagandeados novos contractos nem sequer tapam os buracos deixados pelos que são reformados ou saem dos serviços porque encontram melhores condições noutros locais.
Não considero particularmente deletérios os desabafos dos técnicos de saúde, mas ao surgirem sem recurso a comparações com os anos anteriores, acabam por transmitir a ideia de que nunca houve rupturas no SNS nem falta de condições, ou excesso de trabalho, aos estimados funcionários.
É sempre perigoso oferecer informação sem termo de comparação. Excelente aproveitamento tem feito a Comunicação Social desse recurso falacioso.
Com o advento da alegada pandemia, o passado alterou-se:
- Sintomas de gripe deixaram de ser encarados como tal, criando pânico a quem os manifesta.
- Nunca antes morreram pessoas. Sobretudo de problemas respiratórios.
- As pneumonias, sobretudo quando causam a morte a alguém, nunca foram horríveis! Os raios-X aos seus pulmões nunca apresentaram extensas lesões.
- As pessoas nunca apresentaram sequelas de uma Gripe ou uma Pneumonia.
- As pessoas deixaram de falecer da patologia de que padeciam.
- A vida dos técnicos de saúde sempre foi fácil.
- O SNS nunca foi caótico. Os hospitais nunca entraram em ruptura.
Considero particularmente insólita a amnésia de muitos dos nossos técnicos de saúde (por quem nutro respeito). Mas uma coisa é certa: os incompreendidos de antanho, tornaram-se nos heróis da actualidade. Heróis da Terra Queimada de um Reino que brevemente estará reduzido a cinzas.
PS: Do desgoverno do SNS, quer sair ileso o governo, que aproveita a falsa pandemia de COVID-19 para se ilibar de responsabilidades, apontando o dedo à plebe que, esmagada pelo martelar da mentira, parece aceitar semelhante ónus a despeito da crescente degradação das suas condições de vida.
Viva o comunismo! Viva o comunismo! Viva o comunismo!
01Fev2021
Benjamin