PAÍS
- Publicado em 01.12.2020
Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central
Quando o extraordinário é o novo “normal”!
Várias estruturas representativas dos médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde têm vindo a denunciar a “dramática falta” de todo o tipo de profissionais nesta área, criticando recentes afirmações do presidente do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (CHULC), que quer fazer crer que o trabalho extraordinário tem sido... “excepcional”!
Rosa Valente Matos, no fundo, nada mais faz do que replicar a posição dos negacionistas alcandorados no governo do fascista Costa e seus apaniguados – mormente os acantonados na DGS – que querem fazer crer que não existe uma dramática falta de recursos no CHULC – quer humanos, quer materiais – e noutros centros hospitalares do país, e que a prestação de cuidados a doentes Covid e não-Covid só tem sido possível de assegurar, graças ao recurso sistemático a horas extraordinárias e, sobretudo, ao extraordinário esforço por parte de médicos, enfermeiros, assistentes operacionais e demais trabalhadores da saúde.
É necessário esclarecer que o CHULC abrange os Hospitais de Santa Marta, D. Estefânia, S. José, Santo António dos Capuchos, Curry Cabral e a Maternidade Dr. Alfredo da Costa. E que, sendo bem conhecida da sua administração, a situação não tende a melhorar, muito pelo contrário, devido à política assassina do governo e da DGS, tende a agravar-se.
Nem outra coisa seria de esperar num quadro em que, instalada a histeria e o medo em volta do Covid-19, se nega assistência em todos os patamares da saúde, o que já se traduz em milhões de consultas suspensas, quase duas centenas de milhar de cirurgias adiadas, um acréscimo de mais de 10 mil mortes em relação aos óbitos registados em 2019 (quase o triplo das mortes registadas como sendo de Covid-19), sobretudo porque doentes com cancro, com problemas do foro cardíaco, respiratório e outros, não foram precocemente diagnosticados, mormente no patamar dos cuidados primários – continua vedada a consulta presencial nos Centros de Saúde e Unidades de Saúde Familiares.
Equipas médicas e de enfermagem completamente esgotadas, porque não são contratados o número adequado de profissionais da saúde, começam a ameaçar a qualidade dos cuidados prestados, contrariando a hipocrisia do governo e seus lacaios, quando afirmam que o seu foco tem sido o de “tratar da saúde” aos operários e trabalhadores que acorrem aos serviços.
Esta manipulação tem sido possível graças ao empenho de todo um espaço mediático que está a seu soldo e que se entretém a levar a cabo um jornalismo de merda. Como, por exemplo, entrevistas encomendadas, propositadamente formatadas para deixar “brilhar” uma ministra da Saúde mentirosa que afirma que o seu governo foi o que, nos últimos tempos, mais profissionais da saúde contratou. Quando a verdadeira questão a ser colocada é se essa “quantidade” serve para atender às necessidades presentes.
É um insulto à inteligência – quer dos profissionais da saúde, quer dos doentes – afirmar, como o faz a presidente do CHULC, que o trabalho extraordinário acima referido, é uma “prática anterior à pandemia”, sendo realizado de forma “excepcional”, quando tem plena consciência de que o limite anual de horas extraordinárias foi suspenso em Março a pretexto da pandemia Covid-19 e sem que médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde tivessem sido auscultados.
Venham, pois, governo e seus lacaios, elogiar aqueles “combatentes da linha da frente” da saúde. Pura hipocrisia! Quando se estão marimbando para os limites relativos à duração das suas jornadas de trabalho – incluindo os dos serviços de urgência e cuidados intensivos –, que comprometem, por um lado, o direito inalienável ao descanso compensatório de todos os profissionais de saúde e, por outro, colocam em causam a qualidade e segurança dos serviços de saúde prestados a quem a eles precisa de recorrer.
Bem que pode o governo do fascista Costa e seus lacaios – mormente a Ministra da Saúde e a directora da DGS – virem cantar loas à “excelência” do Serviço Nacional de Saúde, bem podem tentar convencer os operários e trabalhadores de que as medidas terroristas e fascistas que impõem visam, segundo dizem, “achatar a curva” da alegada progressão pandémica de Covid-19.
Bem que podem vir afirmar que o seu foco foi sempre o de cuidar da saúde de quem trabalha, que se torna cada vez mais evidente que tais medidas visam, apenas e tão só, esconder o estado caótico em que os sucessivos governos da burguesia fizeram mergulhar o SNS, a tal ponto que ele não está preparado para fazer face à pressão que uma qualquer crise sanitária exerce senão, na melhor das hipóteses, recorrendo ao contrato externo generalizado que tem por objectivo criar as condições ideais para a sua privatização.
No quadro da política de gestão actualmente em vigor, um modelo de gestão privado, assente na “filosofia” económica burguesa liberal de um just in time – cuja aplicação real é sempre um "tudo em falta" ou, na melhor das hipóteses, um "tudo em atraso", desde a mais corriqueira agulha até ao pessoal – e de uma redução generalizada de "custos fixos" – com o significado real de recurso sistemático ao outsourcing que resulta sempre em aumentos gerais dos custos da saúde –, só se podem esperar anúncios de autênticos genocídios, quer em lares para idosos, quer em estabelecimentos prisionais, quer entre doentes que padecem de patologias muito mais mortais do que o Covid-19 e que, devido a este clima de histeria e medo imposto â força, se tem vindo a agravar.
Já não basta exigir a demissão de uma ministra da Saúde inapta ou de uma destrambulhada directora geral da saúde. Mesmo a exigência da demissão de Costa e do seu governo de lacaios, promotores de um autêntico genocídio, é apenas um exercício político para elevar a consciência política da classe operária e dos trabalhadores para a necessidade de se organizarem e prepararem para impor a sua solução, aquela que corresponde aos seus interesses de classe, e que passa pela destruição do modo de produção capitalista, gerador de todas estas anormalidades.