PAÍS
- Publicado em 25.10.2024
O Circo do OE de 2025: um Espelho de Bruxelas!
O PS, após a palhaçada para entretimento popular que foram as negociações com o governo AD, decidiu assumir um ar responsável e mandar pela borda fora as suas convicções e princípios que até há pouco tempo jurava levar até às últimas consequências ainda que perdesse eleições e dispõe-se servilmente a dar a mão ao governo AD para que o OE seja aprovado e não haja uma crise política, num momento de crise internacional, sem possibilidade de solução via eleitoral.
Ninguém pode levar a sério as duas razões evocadas para tal decisão! Desde a apresentação do orçamento até à decisão “responsável” do PS nada mudou! Já se sabia que as últimas eleições tinham ocorrido em Março! E também se sabia que para o capital esta ordem no parlamento é a que lhe serve, no imediato ou querem fazer-nos crer que as sondagens passaram a ser oráculos? Ou será que o sentido de responsabilidade veio de Bruxelas? Resta saber por que mão.
A histeria da crise política tem vindo a crescer, tem sido mesmo agitada com o espantalho do mal, após as declarações do presidente da República, que chegou a adiar duas visitas de Estado (Polónia e Estónia) marcadas com meses de antecedência para, tudo indica, dar “apoio moral” aos intervenientes, já que nas suas palavras não iria intervir nas negociações – ideia que desafia a inteligência dos portugueses, especialmente dos trabalhadores: a chamada estabilidade política, ou seja, a ausência de agitação social é, de facto, neste momento, uma condição existencial, mas para a sobrevivência do regime. E é exactamente a sobrevivência do regime capitalista que está em causa. A escalada da guerra (a que Marcelo, agora, também gosta de chamar a atenção) com vários focos de desenvolvimento em várias regiões do globo é, sem dúvida, a certeza de que as contradições do sistema capitalista já não se resolvem de forma pacífica e que não será apenas uma economia de guerra que se vai impor, mas uma participação mais efectiva, que precisa de ser preparada, o que implica a preparação/manipulação da opinião pública. E a aprovação do OE é a evidência dessa unidade. Ninguém se pode queixar. Numa mascarada burlesca todos vão permitir a passagem do orçamento, que claramente plasma os interesses da AD, do PS, do Chega e respectivos satélites.
A verdade, contudo, é que a aprovação do orçamento do Estado não passa da consagração de uma dada repartição da mais-valia, resultante da exploração da força de trabalho, entre os diversos sectores da burguesia. Claro que aqui há luta, cada sector da burguesia pugna por um melhor naco. E as disputas entre os partidos burgueses, por mais “ideológicas” que se queiram mostrar, são os reflexos dessa luta e nada mais.
O orçamento do Estado é, também, o instrumento político que, ao consagrar essa específi repartição da mais-valia, determina o nível da taxa de exploração da força de trabalho a vigorar no país por um ano quer pela determinação dos cortes no salário indirecto que os proletários deixarão de receber em serviços de saúde, habitação, e em tudo o que o Estado é suposto assegurar aos cidadãos, quer pela política de impostos e taxas que irão pagar.
Todos sabemos que Portugal, logo a assembleia da República, está sujeito ao jugo de Bruxelas: coisa que não passe em Bruxelas, não pode passar em Lisboa. E isto diz tudo. O mecanismo está montado. Mesmo que passe alguma coisa fora do esquema, ela vai ser torcida, retorcida e contorcida para se adequar aos desígnios de Bruxelas. É Bruxelas que dá as ordens. É Bruxelas que aprova o Orçamento. Aqui, na colónia, o esforço consiste em fazer tão bem o trabalho, que Bruxelas o aprove de imediato! E o Estado português sempre se esforçou por ser o bom aluno. Tudo o resto são jogos de poder, nos quais está presente a mão e o braço da União Europeia. Há sempre uns tantos tolos prontos a ficar satisfeitíssimos com “vitórias” que consistem em o orçamento passar em Bruxelas, mas não passam de tolos.
Mas, o proletariado, os trabalhadores não querem saber desses jogos. O que sabem é que todas as discussões e aprovações de orçamento são vãos, pois,
- os serviços de saúde continuarão a não dar resposta às suas reais necessidades
- continuarão a não estar disponíveis casas em número suficiente com rendas acessíveis
- as escolas continuarão a não cumprir no que interessa
- os níveis de pobreza não vão baixar
Enfim, que o seu salário continuará a ser insuficiente para ter uma vida digna e nem sequer os badalados aumentos minimizarão essa situação pois serão inteiramente comidos e ultrapassados pela inflação que, todos bem sabem, irá em breve despoletar.
Mas o que se discute na assembleia?
Palhaçada cruel! Tudo para servir os interesses de Bruxelas.