PAÍS
- Publicado em 20.06.2024
Os Votos Mais Caros do Mundo Não Servem Para Nada aos Portugueses
Normalmente cada voto custa em média aos Estados menos de 0,10€, mas os votos portugueses para o PE de 2024 custaram ao erário público mais de 6€ cada um. Segundo o próprio governo, só a aquisição de computadores para permitir o voto onde quer que o eleitor se encontrasse no território nacional em vez de só poder votar no local de residência, custou ao país 23,2 milhões de euros. Isso são 6,16€ por voto válido, e ainda falta somar o custo da logística associada às eleições e o custo da campanha política (dos partidos e do Estado/governo) contra a abstenção.
Passados 10 dias das eleições, falta ainda apurar os resultados em 3 consulados (Turquia, México e Luanda – Angola). E gastaram-se dezenas de milhões nestas eleições!
Com esta ressalva de ainda faltarem alguns resultados, o que ressalta da comparação com os resultados de 2019 é o seguinte: a campanha substantiva para facilitar o voto e a campanha de propaganda realizada por todos os sectores da burguesia encabeçados pelo seu Estado, apenas conseguiram convencer a votar mais cerca de 635 mil eleitores (sendo que 25 mil foram resultado do aumento do número de eleitores, donde só houve uma diminuição de 610 mil abstencionistas) do que em 2019. Uma ridicularia face aos custos da “operação” e ao n.º total de abstencionistas que se situava em 2019 em cerca de 7,5 milhões de eleitores, portanto não logrando sequer convencer 10% dos abstencionistas.
De estranhar, ou talvez não, a diminuição muito significativa dos votos brancos e nulos (menos 150 mil: passaram de 230 mil para 80 mil) o que só se consegue explicar pela existência de uma política de aproveitamento máximo de votos (desta vez, não estando o nosso símbolo no boletim, o "trabalho" e a consequência de anular os nossos votos ficaram desnecessários).
Tanto o PS (+160 655) como a AD (+246 748), a IL (+329 209), o Livre (+87 878) e a ADN (+38 275) conseguiram melhorar a votação. Todos os outros, ou não se apresentaram em 2019 (chega, Volt, Nova Democracia, RIR e MPT), ou pioraram significativamente a votação (BE, -157 493; CDU, -65 416; PAN, -120 467; Ergue-te – novo nome do PNR –, -7701; MAS, -1585; PTP, -4333; e Nós Cidadãos -30 430).
Se tivermos em conta que cerca de 600 mil eleitores foram renovados entre 2019 e 2024 (600 mil eleitores nas eleições de 2019 morreram entretanto e 625 mil jovens e imigrantes que adquiriram a nacionalidade portuguesa passaram a eleitores) ficamos com cerca de 1,235 milhões de votos "novos" (610 mil recuperados da abstenção mais 625 de novos eleitores). A soma de votos ganhos pelos que melhoraram a votação com os dos partidos que se apresentaram agora pela primeira vez em europeias é de 1,27 milhões, ou seja um número muito similar. É certo que haverá novos eleitores não votantes, que alguns novos votantes votaram nos partidos que perderam votos, mas a grande parte das diferenças de votação são certamente explicáveis apenas por estas alterações nos votantes.
Da comparação com os resultados das eleições para a AR de há 3 meses o que ressalta é que mais de 2,5 milhões de eleitores engrossaram as fileiras abstencionistas (passaram de 4,35 milhões para 6,85 milhões, 63,5% de todos os eleitores). De estranhar a também significativa diminuição de votos nulos e brancos (menos 200 mil, de 280 mil para 80 mil).
Com excepção da IL e dos partidos que não se apresentaram em todos os círculos eleitorais nas legislativas (MAS, que não apresentou listas, Ergue-te, MPT, PTP e NC), todos os partidos perderam votos de forma significativa: o PS perdeu 30% dos votos, a AD 34%, o chega 67%, o BE 40%, a CDU 21%, o Livre 27%, a ADN 47%, o PAN 62%, o Volt 19%, a ND 61% e o RIR 76%.
Abstraindo-nos do facto de que num sistema que se diz democrático e se baseia em representantes eleitos, quando apenas votam 1/3 dos eleitores, os eleitos não têm legitimidade democrática, o que é que estes vão fazer ao PE?
Donald Tusk deu-nos uma ideia ao falar do putativo candidato à presidência do Conselho Europeu: ser “eficaz e eficiente”. Claro está, no caso (referia-se à actuação do Costa como primeiro-ministro) na aplicação das políticas definidas pelo imperialismo para Portugal.
Pois agora não se trata de Portugal ou dos interesses dos portugueses que nunca foram defendidos em Bruxelas, nem poderiam ser, pois se existissem, ainda assim, não seriam interesses de todos os portugueses mas só de alguns, poucos e alienados a quem mais lhes favorece a engorda.
Trata-se de eficaz, eficiente e subservientemente militarizar a economia e a sociedade, agravar a exploração e oprimir o proletariado não só português mas de todo o mundo. E nisso formam uma irmandade, o Costa e os restantes 21 ilegítimos.
JP