PAÍS
- Publicado em 25.04.2024
Comemoram-se este Ano os Cinquenta Anos,
Meio Século do 25 de Abril de 1974
E as comemorações começaram cedo, uma vez que a preparação das mesmas se iniciaram há cerca de dois anos, Março de 2022, quando foi constituída a comissão executiva e nomeado o comissário executivo, Pedro Adão e Silva, ligado, claro está, ao partido do governo PS de então, e deverão terminar em dezembro de 2026, ou seja, têm uma duração de 5 anos com distribuição de cargos e carguinhos, comissões e toda a espécie de sinecuras, prevendo-se gastos de alguns milhões de euros, verba retirada do erário público, naturalmente. Cinco anos a gastar dinheiros públicos e a tentar reescrever a história de acordo com os interesses da classe dominante, apagando o verdadeiro movimento revolucionário que irrompeu e eclodiu, logo que uma brecha o permitiu. Claro que haverá sempre excepções, mas o objectivo é esse.
Passados que já foram dois anos das comemorações, temos de perguntar qual é, então, o significado destas extensas celebrações? São elas, ao estenderem-se por cinco anos, que nos vão dar o desenvolvimento e a democracia, dois dos três Dês de um documento surgido um mês depois do golpe de Estado, o último seria a descolonização, os quais são claramente apresentados e analisados pelo camarada Arnaldo Matos, na sua importante intervenção, em 2014, no Congresso e que vos convidamos a revisitar, num dos dois suportes que colocamos à disposição dos leitores do Luta Popular. São quarenta anos de história em que os acontecimentos são apresentados e analisados à luz da luta de classes.
Nesta sua intervenção, de uma forma notável, o camarada faz uma apresentação de todo o movimento que se desenvolveu, desde o dia do golpe de Estado feito por generais que às vezes eram capitães e capitães que se tornaram generais, até Abril de 2014, salientando que, contra os objectivos e as ordens dos militares, o povo veio para a rua e iniciou um movimento revolucionário que se cruzou durante algum tempo com o do golpe de Estado, e, em certos momentos o ultrapassou e conseguiu conquistas que os autores do golpe, motivados por interesses de ordem meramente militar não queriam, assim como não queriam nem a mudança do regime nem tão pouco a descolonização, referindo Spínola, na altura e a esse respeito “é muito cedo para que os povos do ultramar possam pronunciar-se desde já sobre o futuro”.
Efectivamente, foi o povo num movimento revolucionário ascendente que impôs a mudança e, por isso, o herói do 25 de Abril é o povo. Como diz o camarada “O povo queria derrubar o regime, queria apenas qualquer coisa que lhe permitisse movimentar-se para derrubar aquele regime”.
Não conseguindo abafar o ímpeto do povo, os chamados revolucionários criaram os instrumentos e meios, de que a aliança e os sucessivos pactos povo/MFA se destacam e que aplicados impediram que o movimento revolucionário avançasse, recorrendo ao mesmo tempo e sempre que necessário à violência e repressão.
Não é por acaso que a comissão das comemorações anuncia que estas comemorações “…constituem uma experiência comemorativa de âmbito nacional, assente nos princípios e valores subjacentes ao Programa do Movimento das Forças Armadas…”.
Parece que está tudo dito quanto ao significado dos cinco anos de comemorações, quando, hoje, cinquenta anos depois, o povo vive em condições dramáticas e sem acesso aos direitos básicos, como saúde, habitação, educação, num horizonte de guerra, de fome e de miséria, contra o qual precisa de se erguer, organizar e lutar.
Hoje, as duas palavras que mais se ouvem na boca de todos os políticos reaccionários são democracia e liberdade. Na verdade, todo o parlamento burguês, desde o PCP ao chega, clama por liberdade e democracia. Toda esta histeria traduz apenas o facto de que já nem a liberdade e a democracia burguesas estão garantidas.
Apesar de terem passado dez anos, de termos tido novos governos, a situação para os trabalhadores, ao invés de ter melhorado, piorou, pelo que terminamos com as suas palavras:
“o que temos de fazer (…) é unir todas as nossa forças e em nome do ideal do 25 de Abril, daquela linha que andou ao lado da linha do golpe de Estado, em nome dela, então instituir o futuro que nos espera, que os nossos filhos e os nossos netos esperam, mas nós também esperamos.
Nós não podemos morrer de fome como estamos a morrer depois de ter feito a revolução que fizemos!”
O POVO VENCERÁ!