PAÍS
- Publicado em 25.04.2023
A visita de Lula, a paródia da democracia burguesa e a guerra inter-imperialista
A visita de Lula da Silva e as suas declarações e posicionamento sobre a guerra inter-imperialista, cujo palco, a Ucrânia, definido e escolhido desde 2014 (sabe-se agora que os acordos de Minsk só foram estabelecidos para ganhar tempo para a preparação desta guerra) desencadeou grande agitação no parlamento burguês, qual pântano em falência acelerada, afundando-se dia-a-dia, até à próxima implosão.
Inicialmente o convite feito por Marcelo a Lula da Silva, sem consultar o parlamento, tinha como objectivo principal retomar, após quatro anos, as reuniões/cimeiras entre Portugal e o Brasil interrompidas durante a presidência de Bolsonaro, alargando-se a uma participação nas comemorações do 25 de Abril no parlamento.
De repente, a ideia laboriosamente construída, com a preciosa ajuda dos media, de que a maioria do mundo estava alinhada com os Estados Unidos, a hiperpotência dominadora, com a sua ordem e a sua moral hipócrita, começa a perder terreno com os “não alinhados”, que, note-se, constituem dois terços do planeta, a alinharem-se e a oporem-se aos Estados Unidos! Não são só os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e também a África do Sul), mas também o chamado Sul Global, com destaque para a Africoásia, num alinhamento que poderá ultrapassar o económico. Tudo indica que os Estados Unidos se deixaram ultrapassar e não conseguiram evitar a formação de blocos económicos e também militares que desafiarão a sua hegemonia, na Eurásia, incluindo a África.
Que fique claro: não estamos a defender a posição de Lula da Silva nesta luta de imperialismos, que nos está a conduzir a uma terceira guerra altamente mortífera e destruidora. A nossa posição sobre esta questão é bem clara desde o início e está divulgada em vários artigos publicados no Luta Popular on line. Mas, não deixa de ser um progresso/aspecto positivo, a assunção de Lula da Silva do não envio de armas e soldados para esta guerra, assim como a denúncia da intervenção dos Estados Unidos, da Europa e da Nato no conflito. Pelo menos, tem o mérito de desencadear a discussão, de terminar com a posição única divulgada e fomentada de forma agressiva, sistemática, manipuladora, parcial e degradante pela imprensa ocidental.
Por outro lado, não podemos deixar de desocultar o que subjaz a tal algazarra histérica, em que se destaca a direita formal, mas não só, já que “socialistas” também se mostraram chocados e desorientados, querendo retaliar. Na verdade, e de acordo com o que foi e é ampla e constantemente divulgado pelos meios de comunicação, fabricou-se com todo este ruído, sabujice e tiques de colonizadores e lacaios dos Estados Unidos a ideia de não permissão desta visita; todos unidos quanto à importância da data do 25 de Abril! Até o Chega invoca a importância da data para não querer o Presidente do Brasil no parlamento português. Finalmente, todos de acordo com o significado do 25 de Abril!!
O apelo aos instintos primários, a um nacionalismo bacoco, à arrogância colonialista, mostraram o descontrolo desesperado dos que vieram a terreiro, em primeiríssimo lugar defender a voz do dono, neste caso, dos Estados Unidos, neste conflito.
Mas, perguntamos, a maioria do parlamento não considerou a vitória tangencial de Lula da Silva contra o fascista Bolsonaro uma vitória da democracia? Agora, Lula deixou de ser um democrata e passou a ser persona non grata para Portugal? E não vamos falar aqui de política externa, que parece ser um aspecto que o parlamento desconhece. Sim, porque também não podemos esquecer que se Portugal acolhe centenas de milhares de brasileiros (233.138), o Brasil, por sua vez, também acolhe milhares de portugueses.
A imprensa ocidental, manipuladora da opinião pública também tentou fomentar a ideia de que a guerra é necessária à paz. Sim, mas essa é apenas meia verdade. Tal acontece com a luta revolucionária para esmagar o opressor e que, certamente, ocorrerá a longo prazo no decorrer deste conflito. Mas, não é, claramente, o caso. A natureza desta guerra é de rapina, saque, expansão e repartição de riquezas, domínio e opressão do mundo, nem que para isso se entre numa escalada de destruição e sofrimento inauditos, com o recurso a armas nucleares. O que queriam os EUA ao promoverem um golpe de estado na Ucrânia e ao colocarem títeres no seu governo senão as riquezas desse país (negócios feitos com os governos títeres saídos de Maidan assentaram na rapina do gás e outras riquezas num Donbass livre de pessoas, ou seja, os habitantes do Donbass, considerados sub-humanos pelos títeres dos yanques em Kiev, poderiam ser expulsas de onde viviam sem qualquer indemnização, para dar espaço à extracção das riquezas existentes no local). E o que é que a camarilha de Moscovo disputa, a pretexto da protecção das pessoas do Donbass, senão as riquezas que a partir de Maidan deixaram de estar ao seu alcance? Mas este aspecto regional está contido num outro mais geral, é a primeira fase de uma guerra maior que oporá os dois imperialismos: os Estados Unidos e a China. O que estamos a assistir é aos preparativos e alinhamentos para essa guerra.
Neste momento, os Estados Unidos, Europa e Nato continuam a despejar, quase diariamente, quantidades gigantescas de armamento e dinheiro para alimentar esta guerra, sempre em nome da paz!
Invocar a paz é um dos lemas dos Estados Unidos, que não terá pejo em abandonar, como fez, de forma vergonhosa e cobarde no Afeganistão, aqueles que usou para os seus desígnios imperialistas. E talvez, nessa altura fale em “negociações de paz”. Não nos admiremos que ao mesmo tempo venha recuperar a necessidade de acordos de paz e segurança global, que enunciou na sua cruzada contra o “terrorismo”.
Manter o seu território nacional e as suas bases invulneráveis, fazendo as guerras nos outros, é o primeiro objectivo vital dos Estados Unidos. E se uma guerra civil começar dentro das suas fronteiras?
Será que a pode evitar?