PAÍS
- Publicado em 17.03.2021
SATA
UM BRAÇO DE FERRO ENTRE O CAPITAL E O TRABALHO!
O que está a acontecer com a SATA, aliás, como ocorre também com a TAP, é o resultado das opções económicas da burguesia acolitada por uma pequena burguesia cheia de ambição pessoal e duplicidade política, sem outro horizonte económico para além da exacção burguesa, lançadas pós 25 Abril de 1974 para a liderança do Estado em Portugal, tendo para o efeito particular relevância a integração que fizeram do país como membro da CEE, hoje UE, à socapa do povo português, e a não menos indiscutida adesão à chamada moeda única europeia.
Como na altura o PCTP/MRPP isoladamente afirmou, não era Portugal que entrava na CEE, era a CEE que entrava em Portugal. E entrou e impôs-se em grande! E há que lembrar que se aquando da formação da nacionalidade, no século XII, não interessava à centro europeia casa de Borgonha, de que Afonso Henriques era filho, uma Castela toda poderosa a controlar a terra e o mar na extremidade ocidental da Europa, agora só juntamente com Espanha é que Portugal foi admitido como membro da CEE - uma significativa diferença a ter em conta!
Quanto à moeda única, é bom lembrar que a cunhagem de moeda sempre foi assunção de soberania e instrumento de controlo económico, e o que na ideia pequeno-burguesa se desenhava como uma vantagem sem direito a referendo popular revela-se hoje como fonte de problemas cada vez mais perigosos de resolver a contento dos portugueses mais do que nunca esbulhados no seu próprio país.
O Covid-19 veio acelerar a evidência do carácter daqueles encartados serviçais e encobertos – quando não assumidos –, inconscientes ou insensíveis sicários internacionais.
Abandonada a espada como legitimação, que o era no modo de produção feudal, e ostentado pela revolução burguesa vitoriosa o capital como critério de legitimidade, fica em resultado da sua progressão uma acrescida despojada massa humana dependente de um salário ou de um subsídio à ordem e ao arbítrio de quem tanto lho paga como lho nega para mais acumular – talvez mais de 95% da população açoriana estará actualmente nestas condições.
Com a revolução burguesa o dinheiro passou a ter novo significado como capital mediador económico de produção, de abrangente comércio e prodigioso poder visto multiplicar no mercado uma fantástica mercadoria que ao ser consumida cria valor ao contrário de subtrair valor por deteriorar-se ou desaparecer com o consumo.
Essa mercadoria que entra no mercado de transacções é a força de trabalho detida pelos cidadãos libertos da anterior condição de escravo ou de servo.
A revolução burguesa acabou com a servidão e aboliu a escravatura mas nunca aceitou e ainda hoje a burguesia tudo faz por ocultar que a força de trabalho é uma mercadoria com a particularidade de ser unha com carne com cada pessoa e como tal indissociável da humanidade de quem a detém!
E é aqui um ponto fundamental das questões concernentes à SATA e à TAP – e não só, pois o braço de ferro entre os que são compradores e os que são vendedores da força de trabalho em Portugal e no mundo soma e segue em cada vez mais frentes de luta.
É que, para os dirigentes burgueses, testas de ferro dos cada vez mais internacionais capitalistas, a força de trabalho é simplesmente um factor de produção e a indispensável pessoa que a detém um problema a resolver ao contrário da razão da produção!
A SATA foi criada e desenvolveu-se por prestar serviço de relevo primeiramente na circulação inter-ilhas e mais tarde também em ligações externas ao arquipélago – se assim não fosse teria há muito terminado actividade. Foi um progresso que está a ser agora repetidamente posto em causa para salvaguardar a sacrossanta mais-valia mesmo que isso a ponha em risco como entidade de transporte aéreo regional.
Mais-valia ou sobre-produto são sempre horas não pagas de trabalho ocultadas pelo salário. Só é importante para o capital e para o ou os capitalistas da empresa. Não é importante nem para a sobrevivência da empresa nem para o bom desempenho na sua actividade. E muito menos tem relevância para quem com tais saques é excluído, esbulhado e socialmente diminuído na sua prestação profissional!
O governo regional age na corda tensa entre exigências de Bruxelas – reino do valor de troca imperial – e necessidades da Região Autónoma dos Açores – reino do valor de uso para os utilizadores.
Para a central burguesa de Bruxelas a SATA tem de pautar-se pelas regras da progressão do capital: maior produtividade para maior exclusão (crescente composição orgânica do capital) e diminuição do custo de vida dos trabalhadores para maior redução do valor dos salários (diminuição da taxa de lucro para maiores lucros pela mudança de escala).
Para a Região Autónoma dos Açores a SATA é pão para a boca para quem nela trabalha e promoção de excelência na sua abrangente prestação de serviços.
Há que combater com justa firmeza todas e quaisquer que sejam as entidades e as pessoas que pretendam uma SATA insolvente a justificar encerramento ou alienação, desemprego para quem nela trabalha e a Região Autónoma dos Açores ainda menos autónoma e mais carecida de comunicações e de transportes do que é actualmente.
Há que honrar e defender quantos querem manter e melhorar a prestação de serviços que todos quantos trabalham na SATA pugnam por garantir diariamente.
À diversificada força de trabalho não pode deixar de associar-se a condição humana de cada trabalhador e trabalhadora, administrativo, piloto, mecânico, assistente de bordo, operações internas ou atendimento ao balcão! Com inteligência, cooperação, e empenho, e com uma Comissão de Trabalhadores sob seu controlo e ao seu serviço, os trabalhadores da SATA saberão vencer!
NÃO AOS DESPEDIMENTOS!
OPOR À BAIXA DOS SALÁRIOS O CONTROLO OPERÁRIO!
VIVA A COMISSÃO DE TRABALHADORES!
VIVA A SATA!
10Mar2021
O Comité do PCTP/MRPP na Ilha de São Miguel