CampanhaFundos202206

IBAN PT50003502020003702663054   NIB 003502020003702663054

PAÍS

A TRANSIÇÃO DIGITAL E AS SUAS CADEIAS: PRÓDIGOS DO CAPITAL E DA SUA CLASSE

Tudo começou há muito tempo atrás, mas à distância de um botão pode ser apagado.

Comecemos por expor os preparativos para alavancar esta necessidade imposta, assente na tecnologia e no isolamento do pensamento, que o sistema tão “correctamente” se arroga de agilizar. O sistema montou mais uma vez uma teia em forma de cilada para instituir uma crença absolutamente falsa ancorada em falácias para aprofundar as assimetrias e desigualdades.

A pandemia ajudou a criar e reforçar mecanismos e pretextos para fazer o rastreamento de dados dos cidadãos. Já não há liberdade, existe uma nova configuração que se assume como normal e inevitável, sendo como um véu que ao sabor do capital vai cobrindo e tapando sem contemplações.

O conto do vigário começou a ganhar forma no dia 21 de Abril de 2021, quando foi publicado em diário da República, o plano de acção para a transição digital, preparado no ministério da economia e transição digital.

Os principais pilares deste plano consistem na capacitação digital das pessoas, transformação digital das empresas e digitalização do Estado. E apresenta 12 medidas, que vou enumerar de forma breve para não cairmos no erro indutivo da admiração efémera, no pano fértil da comoção e na falta de vontade de continuar a ler. Claro está que vou trocar por miúdos tais medidas, mas quem quiser perceber como estão publicadas para a burguesia e classe dominante, basta visitar a página eportugal.gov.pt:

▪    Programa e-residency, criação de uma chave móvel digital que permita a todos os cidadãos nacionais ou estrangeiros recorrer aos serviços portugueses na sua versão online;
▪    digitalização dos 25 serviços públicos mais utilizados por cidadãos e empresas, assegurando o seu acesso, mas ninguém ainda sabe quais são
▪    aumento da oferta e tradução de serviços digitais;
▪    estratégia cloud para a administração pública;
▪    simplificação da contratação de serviços de tecnologias de informação e comunicação;
▪    programa de digitalização para as escolas;
▪    programa de formação intensiva e especializada na área digital;
▪    programa de inclusão digital;
▪    tarifa social de acesso a serviços de internet;
▪    promoção de zonas livres tecnológicas;
▪     programa da Capacitação Digital de PMEs no Interior;
▪     Digital Innovation Hubs para o Empreendedorismo.

Claro que visto pelo prisma de quem definiu estas medidas e a quem elas servem, todos dirão em uníssono que o principal propósito deste projecto é ser o motor de transformação do país, acelerar Portugal, deixando certamente muitos para trás, e projectar o país no mundo através da capacitação digital das pessoas, das empresas e do Estado. Belas palavras para encher os olhos e os bolsos, boas intenções leva-as o vento e está o inferno cheio. Ora vejamos como, num ápice, podemos desmontar estas medidas épicas, prestes a fazerem um ano da sua criação.

A visível incapacidade de disponibilizar atempadamente a todos os cidadãos, nomeadamente estudantes, dispositivos/computadores no sentido de tornar prática a sua utilização foi uma promessa vã, falsa e de uma propaganda dissimulada, que contribuiu para uma medida anti-constitucional, levando a uma série de acções contra o governo, uma delas dirigida pelo nosso Partido à provedora de justiça, e que até ao momento, por ausência de argumentos, se evadiu à questão, munindo-se de uma retórica técnica para escamotear e desviar a verdadeira razão, pretexto que em nada abona a favor da lei; mas, o nosso Partido não desistirá, demonstrando a nossa solidariedade completa com todos os profissionais lesados à conta de tal medida e que entretanto continua a ser protelada e retardada não havendo um planeamento ajustado ao ensino, promovendo assim a desigualdade e extinguindo a equidade, palavra e propósito que o governo demagogicamente propalou; a primeira medida é uma autêntica treta que claramente não abrange todos os cidadãos nem funciona eficazmente; as restantes medidas arrogam-se de importantes, no entanto não valem muito nem abonam a favor da classe operária, defendendo apenas os interesses da classe dominante e da burguesia. Podemos comprovar isso, por exemplo,  no caso dos tribunais que permitem aos magistrados trabalhar a partir de casa, mas obrigam os funcionários judiciais, advogados e arguidos a estarem presentes, sem que estejam reunidas as condições necessárias para a realização de um interrogatório ou julgamento, retirando a solenidade e a salvaguarda aos juízes e arguidos respectivamente, ficando  os meios digitais  muito aquém das expectativas exigidas e merecidas; outras vias de acesso digital continuam em decadência e atraso pela Incapacidade de actualização dos sistemas, desde logo pela falta de profissionais que possam assegurar os meios informáticos e técnicos, pela desorganização na articulação com os profissionais no activo e acima de tudo pela forma burocrática e pouco acessível como o sistema monta o sistema. Tais recursos estão também a ser mal direccionados como veremos mais à frente.

À sombra da pandemia do COVID-19 o mundo viu-se progressivamente obrigado a aderir ao teletrabalho, sendo que em Portugal 15% dos portugueses já trabalhavam a partir de casa. Esta evolução web em Portugal é perceptível no crescimento em 2020 do recurso à informática.na óptica do utilizador:

▪    Há mais 62 mil utilizadores de Internet; no total são 8,58 milhões de internautas;
▪    cada português passou cerca de 7h20 na Internet por dia (média);
▪    cerca de 80,8% dos internautas visitaram uma loja online em Janeiro de 2021, enquanto 69,1% compraram um produto online.
▪    os valores do e-commerce em 2020, disponíveis no mesmo relatório, são impressionantes:

o    5,11 milhões de portugueses fizeram compras na Internet;
o    no mesmo ano, segundo a Prodata, os gastos dos consumidores totalizaram 8 mil milhões de euros;
o    de onde cada utilizador gastou, em média, 1565 euros.


Uma viragem histórica no mercado digital, quando comparado com o modelo de negócio tradicional.

A transição digital a que assistimos representa uma verdadeira mudança de paradigma. No entanto, como sabemos, será o factor humano que vai marcar a diferença. A atenção do consumidor pode ser o elemento que destaca uma marca em relação à sua concorrência: um negócio com um ambiente web mais intuitivo e interactivo tem à partida vantagem, e é bem evidente que quem ganha são os que têm mais posses e as ferramentas ao seu dispor para dinamizar o seu negócio.

Ao proibir a venda de “produtos não essenciais” nos hipermercados para supostamente impedir a concorrência desleal com o pequeno comércio, o governo denuncia as suas verdadeiras intenções e agudiza que é servente do capital. Ora, se o pretexto já não é a saúde pública porque não legislou no mesmo sentido relativamente ao comércio online ...?
Porque isto é tudo um putedo!

Mas então a ideia não é fazer parar tudo o que não seja verdadeiramente fundamental à sobrevivência? Qualquer um percebe que comprar gadgets, roupa, livros, etc, ... online implica que toda uma máquina (onde também existem pessoas e potenciais contágios) continue a funcionar!!  Porque não proíbem a venda online de tudo o que não sejam bens considerados essenciais … tomando medidas complementares evitando as falências?
Porque isto é tudo um putedo!

Ao não o fazer a tutela está, objectivamente e com dolo, a eliminar a concorrência às grandes cadeias de distribuição e de vendas remotas, contribuindo para a aceleração e radicalização das assimetrias socias que diz "à cara podre" querer fazer diminuir.

É, pois, cada vez mais óbvio que o governo cumpre as ordens ditadas por uma agenda globalista que visa impor uma vida digital, onde tudo é feito online, impondo que os indivíduos estejam cada vez mais dependentes, controlados, isolados em frente a um ecrã, e cujo resultado é a emergência de uma sociedade cada vez mais atomizada até que sejamos todos reduzidos a simples máquinas de produção e consumo.

A necessidade e imposição de distanciamento social é um embuste criado pelo capitalismo. Serve para oprimir, controlar, manipular e granjear a alienação dentro e entre as consciências Repleto de incongruências, deparamo-nos com o desbaratamento nas mais diversas áreas e camadas sociais. Assistimos ao boicote ao desenvolvimento do pensamento que aterroriza o capitalismo.

A burguesia utiliza a pandemia como um véu para encobrir os problemas inerentes ao sistema e grande parte crê efectivamente nesse autêntico conto do vigário. Mas, a pandemia só acentuou a crise inerente às vestes e manobras do capital. É uma consequência e não a causa, é um dos efeitos e não a origem. Nunca é demais dizê-lo!

Nesta altura, só interessados/interesseiros, vendidos, burros ou alienados o poderão negar. Estes deputedos são os grandes responsáveis, porque eles são quem redige os pergaminhos do capitalismo, são a escória que faz escorrer as muambas da degradação a que estamos sujeitos constantemente.

Mas continuemos a explorar aquilo em que os partidos do arco da governação são peritos: explorar os oprimidos!

O Governo prevê um investimento de 2858 milhões de euros para a transição digital do país, um dos três pilares do Plano de Recuperação e Resiliência que Portugal entregou à Comissão Europeia.  A distribuição desta verba é feita de acordo com os “três roteiros” da transição digital portuguesa. Assim, mais de metade destes fundos, 58%, ou seja, 1670 milhões de euros vão para a Modernização da Administração Pública, uma das prioridades dos próximos anos.

Seguem-se as empresas, com 650 milhões de euros, e as escolas, com 538 milhões de euros.

E assim, priorizam-se umas áreas, e esquecem-se outras. Para que a natureza sucumba ao industrial. Para que tudo se torne mercadoria. E se escasseie o verdadeiramente essencial. O abstracto desliga-se do material. E só a prática evolucionária pode destruir o Capital.

Segundo dados do Eurostat e do Observatório das Competências Digitais, citados pelo Governo, em 2019, Portugal registava ainda valores aquém das médias europeias ao nível da utilização diária da internet (65%), da utilização de serviços públicos online (41%) e da quantidade de especialistas em informática e tecnologias de informação no mercado de trabalho (2,4%).

Continuando no mundo virtual, literalmente,  a Região Autónoma dos Açores irá receber o projecto “Hospital Digital” para diminuir a desigualdade no acesso aos serviços de saúde!! A ideia é viabilizar uma opção virtual para consultas nos hospitais e centros de saúde. Como vai funcionar é que ainda não se sabe. Mas será certamente à distância dos trabalhadores.

Fora da saúde, o Governo quer criar um portal único, digital para os serviços públicos, que integre áreas como a justiça, segurança social, e finanças. O objectivo é facilitar o acesso aos diferentes serviços “minimizando as interacções dos utentes” e “reduzindo os custos de contexto”. Funciona? As experiências por que temos passado, dizem-nos claramente que não. As filas deram lugar a esperas infinitas ao telefone, ao acumular de marcações e o agendamento tornou-se uma dificuldade para todos os que têm mais dificuldades, e o tal investimento “maior” foi no sector público!  Isso é uma fraude completa!

Dizem-nos que haverá também um reforço na cibersegurança e na formação digital dos profissionais da administração pública. Como é que a coisa vai acontecer?  A esse respeito nada se diz. Mas, pelo que estamos a ver no que respeita à contínua impunidade da corrupção, já podemos antever o que vai ser o combate ao cibercrime.

Passando para o campo das empresas (que recebem 670 milhões de euros) o foco é criar “empresas 4.0” (uma expressão que alude à quarta revolução industrial em que a automação e tecnologias modernas começam a dominar) reforçando as competências digitais da força de trabalho e  reformulando modelos de negócio para tirarem mais partido do digital.

As regiões autónomas dos Açores e da Madeira também vão ter a sua parte: recebem 207 milhões de euros do orçamento alocado à transição digital. Dos 538 milhões de euros alocados à educação, 38 milhões de euros destinam-se, especificamente, a apoiar a digitalização da educação na Região Autónoma dos Açores com o objectivo de promover “igualdade de oportunidades para a sua população.

*

A reconfiguração de um sistema

Na aldeia digital global em que agora habitamos, crenças falsas lançam uma rede social aparentemente, mas falsamente, mais ampla, contrariando assim o nosso ser social para assim dominar a nossa natureza.

O Capturar e o filtrar de informações aumentou exponencialmente, e o risco de um smartphone se tornar um recipiente de controlo está a apenas alguns toques de distância.

Efectivamente tem vindo a ser criado um reservatório global no qual todos os nossos compromissos estão a ser meticulosamente adicionados: o chamado Big Data. Nem precisamos de ser um internauta activo publicando no Twitter ou vociferando no Facebook: mais e mais do que fazemos no mundo real está sendo gravado e digitalizado, e a partir daí os algoritmos podem facilmente inferir no que acreditamos antes mesmo de expressarmos um ponto. Por sua vez, esse enorme conjunto de crenças armazenadas é usado por algoritmos para tomar decisões para nós e sobre nós. E é o mesmo reservatório que os mecanismos de busca usam quando procuramos respostas para as nossas perguntas e adquirimos novas crenças. Isto é arquitectado pelo capital e por todas as correntes que pretendem nada mais nada menos do que assegurar e manter o sistema, alienando as pessoas, tornando-as zombies delas próprias, ancoradas em pressupostos e preconceitos lançados pelo universo digital. Esta configuração não é recente, mas agrava-se dia após dia.

Vivemos e somos plateia de uma nova arena digital da sociedade mediática e de entretenimento, conspurcados até ao tutano e mitigando assim os reais problemas.

Assim, vamos perdendo a capacidade de pensar, ficamos castrados e enclausurados pelo universo digital. Somos forçados a ver o que está na superfície e a não irmos à profundidade. Ficamos cada vez mais nas mãos do capital é só pela via de uma revolução comunista podemos contrariar esta tendência. Só pela transição de modo de produção podemos destruir as actuais condições que nos abafam. Só uma transformação através do estudo do marxismo nos pode libertar destas correntes e, de facto, não temos nada a perder a não ser as nossas próprias cadeias.

A busca incessante, o rastreio a todo o custo e de todas as formas é combatido com determinação pelo PCTP/MRPP pois já sabemos a que levou este controlo e manipulação de informação, este desvio para os capitalistas se apoderarem do conhecimento e da vida das pessoas mantendo assim silenciadas as vozes da revolução sob o jugo da opressão.

Na sociedade do capital o ser natural está reduzido a um animal de carga, afastou-se da sua vida humana, mecanizou-se na sua vida criativa, produtiva e laborativa; neste quiproquó não lhe resta mais tempo para se dedicar à faceta humana, às faculdades humanas do seu ser social o qual é indissociável da sua existência animal.

Estamos cada vez mais ligados à máquina! Autómatos! Ligados à máquina da liberdade do pensamento e da acção colectiva.

Esta união entre máquina e fera num ser humano é a degradação da essência humana, por certo, um convite ao reino do ser estranho e a uma vida de barbárie, quanto mais o animal rosnar na sua criatura humana, quanto mais o capital demandar sobre-trabalho humano, menos o homem pertence a si, menos se efectua enquanto sujeito/indivíduo. Precisamos de trabalhar como máquinas, para sobrevivermos como gado. O Capitalismo tenta reproduzir o homem de tal forma que ele não se possa "dar ao luxo" de pensar, por algumas horas que seja, porque está absorto na produção de mercadorias e alienado das suas funções psicomotoras e cognitivas.

Estamos reclusos numa redoma de vidro outorgada pelo Capital, estamos subsumidos à produção de valores de troca, sequestrados pelo modo de produção em série onde só uma sociedade comunista pode romper estes grilhões invisíveis e destronar esta rotina ilusória de uma falsa esperança, a fim de nascer uma sociedade comunista, de liberdade plena. Sem ecrãs que nos prendam o ímpeto da nossa natureza.

Pensemos, combatamos, pela vitória da revolução comunista!

À distância de uma luta armada está a revolução.

Viva o comunismo! Viva o PCTP/MRPP!

16Mar2021

Benjamin

pctpmrpp

Partilhar
Está em... Home País POLÍTICA GERAL A TRANSIÇÃO DIGITAL E AS SUAS CADEIAS: PRÓDIGOS DO CAPITAL E DA SUA CLASSE