PAÍS
- Publicado em 08.03.2021
Dia 8 de Março – Dia Internacional da Mulher
A luta das mulheres pela sua emancipação da escravidão assalariada e da opressão social
Nunca é demais relembrar que a celebração que hoje se faz do dia 8 de Março como dia internacional da mulher, nasceu da proposta de Clara Zetkin, apresentada na 1.ª Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, que decorreu em Basileia, na Suíça em 1910.1
A questão da mulher, e com especial relevância para a mulher trabalhadora, foi desde sempre uma questão a que o nosso Partido deu uma grande atenção, inclusive nos tempos da clandestinidade, quando, a partir de 1971 se organizaram os Comités 8 de Março, organizações de unidade revolucionária, que desencadearam várias acções de agitação e propaganda clandestina, incluindo a luta contra a guerra colonial. A última acção política organizada antes do 25 de Abril, portanto em Março de 1974, teve como palavra de ordem: De Pé Mulher Trabalhadora!
Embora não deixemos de reconhecer, apoiar e participar activamente na luta geral da mulher contra uma opressão comum, contra as desigualdade, a discriminação, a humilhação, a violência e o vexame de que são vítimas tanto as mulheres operárias como as mulheres de outras camadas democráticas, a posição dos marxistas relativamente à questão da mulher trabalhadora começa, principalmente por colocar sobre uma base de classe o debate ideológico e político.
A razão fundamental da actual situação de exploração, opressão, discriminação e desigualdade da mulher está na existência de um modo de produção, baseado no lucro e na propriedade privada dos meios de produção social. Foi, aliais, a propriedade privada que alterou o papel da mulher na sociedade.
Por conseguinte, a emancipação da mulher trabalhadora só pode acontecer no quadro da luta entre o Trabalho e o Capital.
Mas, esta realidade é sistematicamente combatida através de uma cortina de fumo, que a esconde, apresentando o dia internacional da mulher não como um dia de luta, mas como um dia de flores, de boa vontade e até de reconhecimento da vertente feminista, apresentando-a como uma causa, na tentativa de fragmentar a luta pelo derrube do capitalismo.
Hoje, dia 8 de Março de 2021, o presidente da República vem, todo ufano, propagar que é um lutador pela emancipação da mulher, que passou à acção, porque na Casa Civil, as consultoras são mais de 63% da sua equipa!!! Portanto, ele já fez a sua parte pelas mulheres…
Por outro lado, quem hoje viu as capas dos jornais, os programas da manhã ou das tardes das tvs, ouviu os programas das rádios ou prestou atenção às declarações de tudo o que é organização institucional no país e no Mundo, “ficou a saber” que a causa principal das mulheres é a causa pela representação igualitária nos órgãos de gestão da burguesia: Estado, governos, monopólios e empresas capitalistas.
Paralelamente ficou também a saber que o género com maior número de “vítimas económicas da pandemia” é o feminino, com excepção das “classes superiores”, onde não houve esse tipo de vítimas. E se alguém, por acaso, lembra que o 8 de Março evoca o assassínio das operárias em greve na fábrica de tecidos Cotton de Nova Iorque, surge de imediato a “conclusão lógica” de que a causa do crime não foi o capitalismo, mas sim o mando masculino.
Pela teoria destilada e marketingueada, que é o mesmo que dizer matraqueada até moer os miolos de cada um, os males do Mundo podem ser resolvidos por um capitalismo-feminino, um capitalismo muito melhor do que o capitalismo vulgar, o capitalismo-masculino. E até aparecem “provas”: os países que melhor “lidaram” com a pandemia têm governos, uns de “esquerda” outros de “direita”, mas sempre liderados por mulheres.
Quer dizer, um movimento eminentemente operário anti-capitalista pela revolução comunista, em cem anos, foi torcido, transformado, invertido e é agora apresentado como uma efeméride perpetuadora de um sistema iníquo, opressor e sem saída para a emancipação da mulher.
E tudo começou quando o 8 de Março foi transformado, na Rússia soviética, numa espécie de dia dos namorados!
Ora, o que as mulheres trabalhadoras não aceitam é a continuidade das desigualdades que o sistema lhes impõe, designadamente, as diferenças salariais por trabalho igual, que atinge uma diferença de 14% e, em alguns casos atinge os 26%; serem as primeiras a sofrerem a situação de desemprego; continuarem a ter reformas e pensões mais baixas; serem o maior número de trabalhadores com contratos precários; sem obrigadas a aceitar trabalhos e venderam a sua força de trabalho em condições que os homens não aceitam…
É verdade que a mulher, no decurso da sua luta, foi ganhando consciência da sua situação, revelando uma enorme coragem e determinação nas lutas revolucionárias em que participou, apercebendo-se que nesta sociedade liberal e capitalista, só lhe será permitida uma relativa igualdade de direitos a estabelecer por lei e uma emancipação progressiva da escravidão dos trabalhos domésticos, o que não a liberta, antes a condena a uma sobrexploração, pelo desempenho de um trabalho duplo, em casa e no trabalho. É a sua situação de opressão que a faz lutar e libertar-se das cadeias da exploração.
A luta pela emancipação e libertação da mulher, como parte da luta pela emancipação da classe operária, tem um carácter de massas e é internacionalista, manifestando-se na solidariedade militante que deve unir o movimento revolucionário das mulheres de todo o mundo, da África, da Ásia e da América Latina que vivem situações de opressão e exploração inauditas.
Pois para nós, mulheres e homens comunistas, a emancipação da mulher é uma parte integrante e inseparável da luta proletária contra a exploração e opressão capitalista e pela implantação do modo de produção comunista.
Organizar e preparar a mulher trabalhadora para os combates inevitáveis que se avizinham é a tarefa imediata da União das Mulheres Comunistas (UMC), criando, desde já um movimento de adesão.
LEVANTAI-VOS, OPERÁRIAS DE PORTUGAL!
LEVANTAI-VOS, OPERÁRIAS DE TODO O MUNDO!
CERRAI OS PUNHOS E LUTAI POR UM MUNDO SEM OPRESSÃO NEM EXPLORAÇÃO PARA A HUMANIDADE!
08Mar2021
CG/JP
1 - ver Recordações de Lenine, Zetkin, Clara