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PAÍS

A Tróica e a cor do burro quando foge

Há na cultura portuguesa um prolóquio, oriundo aliás da cultura cigana, sobre a cor do burro quando foge: parado ou a pastar serenamente, o burro teria uma cor; mas a fugir, em acto de furto, o burro teria outra cor, sendo esta última a verdadeira, de tal modo que nunca se conseguiria provar em juízo que um burro tinha sido roubado...

A coisa aplica-se inteiramente à Tróica, embora os verdadeiros asnos sejamos nós!

A Tróica esteve quatro vezes em Portugal nos últimos doze meses: a primeira, para assinar com o governo de Sócrates o memorando de entendimento; as restantes três, para fiscalizar o cumprimento do memorando.

Das três primeiras vezes, os membros da Tróica, em conjunto com os membros do governo, deram conferências públicas de imprensa, proclamando a ideia de que tinham todos salvo o país e os portugueses de uma catástrofe iminente, contanto que se aplicassem – e estariam a ser aplicadas com sucesso – as políticas do memorando.

Da quarta vez, porém, a Tróica fugiu à conferência de imprensa conjunta.

Ficámos sem saber, da boca da própria Tróica como tinha vindo a suceder, o que realmente pensa agora a Tróica sobre o cumprimento do memorando salvador; mas sabemos todavia porque fugiu a Tróica e qual é a cor do burro da Tróica quando foge...

A Tróica fugiu, porque, dentro da própria Tróica (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) estoiraram as divergências de fundo sobre o salvífico memorando, com o representante do Fundo Monetário Internacional, o dinamarquês Paul Thomsen, também membro da Tróica que vigia a Grécia, a discordar abertamente das políticas do memorando imposto a Portugal e a bater com a porta, sendo substituído na nossa Tróica pelo etíope Abele Selassié, o qual, mesmo assim, em entrevista ao Jornal de Negócios, não deixou de confessar que lhe parece muito difícil que Portugal volte aos mercados em 2013, como está previsto no memorando, em busca de empréstimos para continuar a pagar a dívida.

Mas não foi só por isso que o burro Tróica fugiu da conferência de imprensa conjunta.

Fugiu, também e sobretudo, porque já tinha elementos concretos suficientes para saber que os objectivos do memorando português jamais serão alcançados nos prazos previstos, com as políticas aplicadas.

A Tróica já sabe que é preciso mais austeridade e que essa austeridade matará a economia portuguesa, como já matou a economia grega.

A Tróica fugiu, porque já estava informada dos níveis intoleráveis alcançados pelo desemprego em Portugal em consequência das políticas impostas pelo memorando: 14,8% da população activa desempregada, em Janeiro de 2012, quando o objectivo, caucionado pela Tróica, era de 13,4%, no fim do ano de 2012.

A Tróica fugiu, porque sabe que a verba orçamentada de 2.046 milhões de euros, para a Segurança Social fazer face ao desemprego previsto de 13,4% no ano de 2012, terá de ser acrescida de outros 167 milhões de euros, para enfrentar um desemprego de 14,8%, e ainda estamos só com números para o primeiro mês do ano.

A Tróica fugiu, porque já sabe que a dívida soberana não só não descerá em 2012, como vai crescer até, pelo menos, o fim de 2014, data em que alcançará um montante equivalente a 140% do produto interno bruto português...

A Tróica fugiu, porque já sabe que a recessão prevista para Portugal, em 2012, não se ficará pelos 2,8% do produto interno bruto, mas que irá ultrapassar os 4% do PIB.

A Tróica fugiu porque sabe já que o memorando imposto já liquidou efectivamente, como aliás sempre pretendeu o colonialismo alemão, a economia portuguesa e a independência política de Portugal.

Esta é, com relação à Troica, a cor do burro quando foge.

Cabe-nos recusar o papel de asnos, que a Tróica nos reserva e que nos reserva o colonialismo germânico.

A Tróica e as políticas da Tróica têm de morrer, para Portugal poder viver.

A greve geral nacional do próximo dia 22 de Março, para cuja mobilização e para cujo sucesso devemos lutar sem desfalecimento, deve ser a primeira resposta demolidora às políticas da Tróica.

Para não deixar, nem à Tróica nem ao colonialismo germânico, a ideia de que os portugueses não sabem muito bem aquilo que aprenderam com os seus irmãos ciganos: qual é a cor do burro quando foge!


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