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INTERNACIONAL

Luanda Leaks – por se matar uma andorinha não acaba a Primavera!

Uma colorida e mais do que duvidosa investigação jornalística, levada a cabo por um consórcio de jornalistas de todo o mundo, trouxe à luz do dia centenas de milhar de documentos que, alegadamente, denunciam a corrupção, o compadrio e o jogo de influências e favores levados a cabo pelo regime cleptocrático do ex-presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, que agora se esconde por detrás da figura da sua filha, Isabel dos Santos.

A pequena-burguesia “justicialista”, como é seu apanágio, clamou de forma histérica por justiça, de preferência imediata, já, apressando-se a caucionar todas as conclusões a que o tal consórcio de jornalistas chegou, mesmo não se sabendo, ainda, a origem dos documentos que deram suporte à investigação que designaram por “Luanda Leaks”, nem de quais as intenções e objectivos que se escondem por detrás dela e, muito menos, quem são os seus mandantes.

Cega e surda a qualquer atitude crítica e consciente, este sector da pequena-burguesia – sobretudo urbana – não quer perceber que a corrupção é uma inerência do sistema capitalista. Por isso, enquanto ataca e fulaniza a corrupção, acolhe os corruptos que colocaram à disposição da alegada investigação jornalística internacional mais de 700 mil documentos. Ou seja, para esta desmiolada e oportunista gente, entre os corruptos e corruptores existem os que são honestos  e aqueles que são desonestos e devem ser abatidos.

Nem mesmo intervenções ponderosas e ponderadas de alguns intelectuais e elementos da sociedade cívil angolana a alertarem e a denunciarem para que nada se pode ou deve esperar da justiça angolana porque esta está completamente refém do poder político actual – como esteve, no passado recente, atada aos interesses da clique chefiada por José Eduardo dos Santos –, abre os olhos a esta gente. Não conseguem compreender que estão a ser alvo da manipulação de um sector da burguesia angolana contra outro sector da mesma classe, todos eles com os mesmíssimos objectivos – explorar o povo angolano e rapinar os seus vastos e ricos recursos.

A manobra que se esconde por detrás de uma investigação jornalística desta natureza e alcance – em que cada vez é mais clara a ideia de que foi encomendada à medida –, é bem demonstrativa de que decorre em Angola, após as eleições que deram a presidência daquele país ao líder da clique protagonizada por João Lourenço, uma luta de vida e de morte pelo poder económico que se deseja ajustado ao poder político entretanto conquistado. Num jogo de alçapões e armadilhas, os dois sectores principais da burguesia angolana – protagonizados por João Lourenço e José Eduardo dos Santos – tentam desesperadamente, o primeiro ganhar o poder económico que o poder político ainda lhe não assegurou de forma plena, o segundo manter o poder económico que foi acumulando, tendo em vista a retoma do poder político quando lhe aprouver ou considerar que estão reunidas as condições para tal.

O sector representado por João Lourenço sabe que, para ganhar a opinião pública e a opinião publicada tem de levar a cabo uma barragem informativa que arrase e fragilize a posição do seu adversário. Para isso, conta com a prestimosa ajuda da sempre independente comunicação social burguesa que, como seria de esperar, já escolheu o seu campo.

Os comunistas, os progressistas, não se deixarão enredar nestas manobras. Eles sabem que o modo de produção capitalista e a superestrutura política e ideológica que o dirige são a única razão para a existência de corrupção, corruptos e corrompidos. Sabem que, por se matar uma andorinha, isso não significa acabar com a Primavera. Sabem que, mesmo lançada para a fogueira Isabel dos Santos e seu pai, a corrupção renascerá, tal como a fenix, das cinzas.

Muito menos servirão de tropa de choque ao governo de Costa e Centeno que, ao que tudo indica, também já escolheram em qual dos campos da corrupção é que querem estar. É óbvio que pretendem alinhar com aquele que lhes parece ser, na actualidade, o mais forte, aquele que lhes poderá assegurar – e para a classe que representam – maiores benesses.

As declarações dos vários elementos do governo PS que se manifestaram publicamente sobre o assunto são de uma clareza meridiana quanto a, por um lado, que interesses é que o governo português está disposto a defender e, por outro, que nenhum desses interesses passa por aquilo que o povo angolano exige e reclama.

Os comunistas são contra a corrupção. Somos contra os corruptos, seus instrumentos e executores. Porém, temos a consciência de que só a destruição do modo de produção capitalista e da escravatura assalariada permitirá alcançar esse objectivo. Nunca nos deixaremos iludir com as manobras que neste momento se desenham perante os nossos olhos. E toda a solidariedade internacionalista prestaremos ao povo angolano na sua luta pela liberdade, progresso e sobernia sobre os seus enormes recursos.

25JAN2020

LJ

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