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INTERNACIONAL

Os Marxistas-Leninistas-Maoistas da França e da Bélgica

E os Ataques dos Jiadistas Franceses e Belgas a Paris

 

De Arnaldo Matos
Para o Camarada Lúcio

Quatro dias depois dos ataques dos jiadistas franceses a Paris, o Partido Comunista de França (marxista-leninista-maoista) e o Centro Marxista-Leninista-Maoista da Bélgica publicaram uma Declaração Conjunta sobre aqueles acontecimentos, declaração que não pode deixar de merecer dos comunistas portugueses o mais vivo e profundo repúdio.

Voltamos a este assunto por duas ordens de razões: primeira, porque a declaração conjunta de 17 de Novembro de 2015 dos marxistas-leninistas-maoistas franceses e belgas os coloca totalmente fora do movimento operário comunista internacional e faz deles um bando de lacaios do imperialismo, em particular do imperialismo americano e francês; e, depois, porque Paris é a segunda maior cidade portuguesa, digamos assim, considerando a vasta emigração de trabalhadores portugueses desde os anos sessenta do século passado e as três gerações de luso-descendentes com dupla nacionalidade, existentes actualmente em França. Os ataques dos jiadistas franceses a Paris na sexta-feira, 13 de Novembro de 2015, acabaram por matar três emigrantes portugueses, e colocaram alguns antigos comunistas marxistas-leninistas da emigração lusa do lado do imperialismo francês e da sua política terrorista em África e no Oriente Médio.

É o que acontece, segundo me dizem, com o camarada Lúcio, emigrante operário de Guimarães, um dos mais antigos militantes do Partido, que voltou agora, depois de uma viagem a França, para condenar o terrorismo islamista de 13 de Novembro em Paris. Se a informação é verdadeira, Lúcio abandonou o marxismo-leninismo e o internacionalismo proletário e assentou praça nas fileiras ideológicas reaccionárias do imperialismo francês, ao lado de François Hollande, de Manuel Valls, de Sarkozy, de Marine Le Pen… e de Alain Badiou.

Se ainda se acha comunista e revolucionário, Lúcio tem a estrita obrigação de saber que a violência é a parteira da história e que, enquanto marxista-leninista, tem o dever de repudiar, de todo em todo, o ponto de vista ideológico contra-revolucionário da pequena burguesia relativamente à violência, como qualquer coisa que seria essencialmente e sempre má e imoral.

No plano dos princípios, nós, comunistas, nunca rejeitámos nem podemos rejeitar o terror. O terror é um dos aspectos da guerra, que pode convir perfeitamente e pode mesmo ser indispensável em determinados momentos do combate. Os ideólogos hipócritas do imperialismo e da reacção é que condenam o terror como estratégia de combate das forças anti-imperialistas, do mesmo passo que ocultam o terror quotidiano dos imperialistas contra os povos explorados e oprimidos do mundo.

É certo que os comunistas rejeitam o emprego do terror fora do quadro de operações de um exército revolucionário combatente, articulado a todo um sistema de luta, isto é, rejeitam-no como meio de ataque isolado, independente de uma força armada e em si mesmo auto-suficiente – cfr. Lenine, Por Onde Começar? Obras Completas, Vol. V das Edições Sociais, Paris, 1976, pág. 15.

Mas os jiadistas franceses, nascidos em França, não praticaram os seus actos de guerra como actos isolados; os jiadistas franceses, muito embora nascidos e agindo militarmente em França, executaram os seus actos de guerra no quadro da estratégia de um dos exércitos dos povos árabes e muçulmanos – o exército do Estado Islâmico –, quotidianamente vítimas dos bombardeamentos de guerra do imperialismo americano, europeu e francês, bombardeamentos sistemáticos de terror sobre populações indefesas.

O imperialismo francês, conjuntamente com o imperialismo europeu e americano, designadamente através da NATO, está há mais de vinte anos em guerra contra povos islâmicos no Magrebe, no centro de África e no Médio Oriente, numa frente que vai da orla atlântica africana às montanhas do Hindocushe, na Ásia Central, praticando os mais bárbaros actos de guerra e de terror. Que a classe operária e os comunistas nos países imperialistas, nomeadamente em França, não se ergam contra a burguesia dos seus próprios países imperialistas é crime que não pode ser jamais esquecido e muito menos perdoado. Mas o que não podem é ser condenados como terroristas os franceses, nascidos muito embora em França, que se juntaram aos povos islâmicos explorados e oprimidos pelo imperialismo francês, americano e europeu, para derrubar esse mesmo imperialismo no interior do seu próprio covil.

Sabe-se que a exploração imperialista dos operários, povos e nações oprimidas do mundo consegue comprar, com o produto da exploração e por meio da mais violenta e terrorista das opressões, as forças revolucionárias dos próprios países imperialistas e atrelá--las ao seu carro de guerra da exploração dos operários, dos povos e das nações estrangeiras.

Mas os comunistas não se vendem nem abdicam da sua ideologia revolucionária e do internacionalismo proletário. Esperamos que Lúcio tenha a coragem de permanecer neste caminho, antigo e corajoso, que sempre foi o seu.

O assunto reveste-se assim da maior importância para os comunistas marxistas-leninistas portugueses, para a classe operária e para o povo português, nomeadamente emigrante, mas também para o movimento comunista internacional e para a revolução mundial proletária.

Os disparates reaccionários dos auto-proclamados marxistas-leninistas-maoistas franceses e belgas começam logo no primeiro parágrafo do texto da Declaração Conjunta: “Fazemos - dizem eles – um comunicado comum, porque os nossos dois países são directamente tocados “ (…) “pelos ataques de sexta-feira 13 de Novembro, em Paris”.

Ora, sob o ponto de vista estritamente ideológico e político, os ataques dos jiadistas franceses e belgas a Paris são um assunto que diz muito mais directamente respeito aos comunistas e proletários de todos os países e aos povos e nações oprimidas do mundo inteiro do que aos países da França e da Bélgica propriamente ditos, que diz muito concretamente mais respeito aos interesses da revolução mundial proletária contra o imperialismo do que aos interesses mesquinhos dos chamados marxistas-leninistas-maoistas da França e da Bélgica.

A única questão que cumpre aos marxistas-leninistas-maoistas franceses e belgas esclarecer efectivamente é a questão de saber quais os motivos que levaram e levam franceses, nascidos em França, e belgas, nascidos na Bélgica, a organizarem e a conduzirem, nos seus países natais, combates contra o imperialismo, designadamente o imperialismo francês e belga.

Sobre este tema altamente importante, e de que os auto-proclamados marxistas-leninistas-maoistas da França e da Bélgica fogem sistematicamente com o rabo entre as pernas, é que gostaríamos de conhecer uma declaração conjunta do Partido Comunista da França (m-l-m) e do Comité (m-l-m) da Bélgica.

Diga-se aliás de passagem que o Partido Comunista da França (m-l-m) tem no seu portal digital mais de oitenta declarações, três das quais sobre os ataques de Paris, mas não tem uma única tomada de posição pública sobre as guerras movidas pelo imperialismo francês ou americano contra os povos islâmicos do Magrebe, da África ao sul do Saará, do Oriente Médio e do Afeganistão. Isto é que são uns marxistas-leninistas-maoistas de pacotilha e de traição… Mudos e calados quando se trata das guerras movidas pelo imperialismo contra os povos e nações oprimidas do mundo; palradores enfrénicos quando se trata de condenar os actos de violência dos povos e nações oprimidas do globo contra o cobarde terrorismo imperialista.

Os ditos marxistas-leninistas-maoistas da França e da Bélgica estão de que lado: do lado do imperialismo francês, belga, europeu e americano, que bombardeia e aterroriza os povos e nações explorados e oprimidos desde o Mediterrâneo ao limite sul do SHAEL e da orla africana do Atlântico ao limite oriental do Afeganistão, onde já está em curso a nova guerra mundial do imperialismo pelo domínio e partilha do globo, ou do lado dos proletários, dos povos e nações explorados e oprimidos dessa área do planeta?

E que vão esses pretensos marxistas-leninistas-maoistas da França e da Bélgica fazer: vão juntar-se à polícia e às forças armadas da França e da Bélgica para denunciar, perseguir, aprisionar e matar os jiadistas franceses e belgas que atacaram o imperialismo no interior dos seus próprios países imperialistas, ou vão pôr-se à cabeça do proletariado francês e belga para denunciar, isolar e derrubar o imperialismo no interior dos seus próprios países imperialistas?

 


O chauvinismo, isto é, o patrioteirismo dos chamados marxistas-leninistas-maoistas da França e da Bélgica chegou ao ponto de se juntarem às forças imperialistas francesas e belgas para, em declaração conjunta, atacarem os seus compatriotas anti-imperialistas.

A declaração conjunta de 17 de Novembro de 2015 é muito esclarecedora: os pretendidos marxistas-leninistas-maoistas da França e da Bélgica dão preciosas informações às polícias e às secretas francesas e belgas sobre as relações entre os jiadistas dos dois países e a organização e condução do ataque a Paris. Se não acreditam, façam o obséquio de ler os seguintes seis parágrafos contínuos da declaração conjunta a que nos temos estado a referir (o texto integral pode ser lido no portal lesmaterialistes.com):

“É assim falso pensar que tais movimentos fundamentalistas não são mais do que fenómenos marginais espontâneos, que só existiriam para determinadas acções armadas. A sua rectaguarda deve ser entendida de maneira exacta, senão poder-se-ia julgar que se trataria de aventureirismo individual.

De modo concreto, o que se passou em Paris é o produto duma rede: certas pessoas que participaram nas acções de Paris vieram da Bélgica, um país que desempenha um papel importante para o fundamentalismo islâmico enquanto placa giratória, em particular em Molenbeek-Saint-Jean (em francês)/Sint-Jans-Molenbeek (em flamengo), uma Comuna da região de Bruxelas-Capital.

Nos anos 90 do século XX, houve aí uma revolta da juventude contra a opressão, em particular contra o racismo; com efeito, Molenbeek, que tinha perto de 100 000 habitantes, possuía uma forte população de origem imigrante. Com o fim de a controlar, a cidade agiu de maneira a que viessem imãs da Arábia Saudita, portanto uaabitas.

Este desenvolvimento do fundamentalismo islâmico seguiu a presença massiva da propaganda vinda da Arábia Saudita, a qual começou quando, em 1967, este país apoiou financeiramente as famílias atingidas pelo incêndio do grande armazém “A Inovação”, onde 323 pessoas morreram. Em contrapartida, o rei belga forneceu um pavilhão oriental, construído em 1897 para a exposição universal de Bruxelas, para sede do Centro Islâmico e Cultural da Bélgica; o fundamentalismo islâmico difundiu-se rapidamente, através da propaganda de massas e do financiamento da Arábia Saudita.

No decurso deste processo, Molenbeek tornou-se um bastião islamista. Um papel especial foi desempenhado pelo burgomestre (presidente da Câmara) socialista Filipe Moureaux, que pertence a uma família – os Blaton – cuja fortuna provém da BTP (operadora de títulos na bolsa) de Bruxelas.

Muito conhecido depois por, enquanto ministro, ter feito passar uma lei anti-racista em 1981, Filipe Moureaux, como burgomestre de Molenbeek de 1992 a 2012, conduziu uma imensa clientela na direcção do Islão e, mais especificamente, na direcção do fundamentalismo islâmico; chegou mesmo a casar, aos 71 anos de idade, com uma mulher da comunidade muçulmana mais nova 36 anos.

Molenbeek desempenhou depois um papel importante para o fundamentalismo islâmico. Os ataques a Paris foram coordenados a partir de Molenbeek e certas pessoas que nele participaram viviam também lá.”

A leitora e o leitor relevar-me-ão uma transcrição tão dilatada do texto da declaração comum do Partido Comunista da França (m-l-m) e do Comité (m-l-m) da Bélgica, mas é apenas para poderem verificar, com os vossos próprios olhos, como os marxistas-leninistas--maoistas da França e da Bélgica, vestindo a pele de verdadeiros bufos das polícias secretas dos dois países, denunciaram, ao quarto dia passado sobre os ataques de Paris, os jiadistas franceses, nascidos em França, e os jiadistas belgas, nascidos na Bélgica, como responsáveis pelos ataques à capital e inclusive indicaram a cidade de Molenbeek como o quartel-general do ataque a Paris…

Esta colaboração com a polícia na caça aos jiadistas é coisa que nunca se viu nas fileiras dos comunistas. Os auto-proclamados marxistas-leninistas-maoistas franceses e belgas são traidores à classe operária e aos comunistas da França e da Bélgica e não passam de traficantes da revolução proletária, lacaios do imperialismo. Esta canalha chegou ao ponto de denunciar compatriotas jiadistas que, ao contrário dos pseudo-marxistas-leninistas-maoistas, tiveram a coragem de se erguer em guerra contra o imperialismo.

Imediatamente depois de ser conhecida a declaração conjunta dos falsos marxistas-leninistas-maoistas da França e da Bélgica, a polícia e o exército belgas cercaram Molenbeek, assaltaram mais de 300 casas sem mandato judicial, encarceraram quarenta suspeitos e mataram um cidadão belga que demorou tempo demais a abrir a porta da sua residência. Foi em resultado da declaração conjunta que as polícias e os exércitos da França e da Bélgica passaram a considerar Molenbeek como quartel-general dos ataques a Paris, projectando para fora da França uma operação militar organizada e executada por jiadistas franceses, nascidos em França e sem dupla nacionalidade.


Bufos das polícias, colaboradores das secretas, agentes do imperialismo – eis no que deram os auto-proclamados marxistas-leninistas-maoistas da França e da Bélgica. É neste ignóbil papel histórico que pretende acabar o camarada Lúcio?

Para tentar justificar o seu ignominioso papel de lacaios do imperialismo, os marxistas-leninistas-maoistas da França e da Bélgica escreveram na famigerada declaração conjunta:

“Os atentados de Paris não são um produto – deveriam ter escritonão são uma consequência”, mas não conseguiram fazê-lo! – da guerra imperialista, mas de condições sociais produzidas de maneira caótica pelo imperialismo. Há assim uma contradição entre o imperialismo e o fundamentalismo islâmico, como produto do afundamento do capitalismo.”

Esta passagem da declaração conjunta é o atestado do grau zero do marxismo a que chegaram os pretensos marxistas-leninistas-maoistas da França e da Bélgica. Qualquer pessoa que saiba ler compreenderá sem esforço que a tese central dos marxistas-leninistas-maoistas franceses e belgas se resume a este disparate cósmico: os atentados de Paris não são produto da guerra imperialista, mas produto das condições sociais produzidas de maneira caótica pelo imperialismo. Há assim uma contradição entre o imperialismo e o fundamentalismo islâmico, produto do desmoronamento (effondrement) do capitalismo.

Esta tese far-nos-ia morrer à gargalhada se não estivéssemos perante coisas demasiado sérias. Com que então os atentados de Paris não são produto da guerra imperialista, mas produto das condições sociais produzidas de maneira caótica pelo imperialismo?!... Então são ou não são produto do imperialismo?!... Há ou não há contradição entre o imperialismo e os povos árabes e muçulmanos?!... E de onde resulta essa contradição senão da guerra de rapina do imperialismo para se apoderar do petróleo, do gás natural e de outras matérias-primas estratégicas de que os povos árabes e muçulmanos são legítimos detentores?! Há ou não há uma guerra imperialista, conduzida por americanos, franceses e europeus, nomeadamente através da NATO, contra os povos árabes e muçulmanos, para se apoderarem de ¾ do petróleo e do gás natural de todo o mundo, concentrado nos territórios dos povos árabes e muçulmanos do norte e do centro da África e de todo o Oriente Médio, do Atlântico ao Hindocushe?!...

Essa guerra imperialista, conduzida por americanos e europeus, nomeadamente franceses e ingleses, há cerca de trinta anos, está a globalizar-se cada vez mais e tem encontrado uma resistência tenaz da parte dos operários, dos povos e das nações agredidas naquela área. Os imperialistas julgam-se fortes, mas não passam de tigres de papel, coisa que os marxistas-leninistas-maoistas da França e da Bélgica já esqueceram completamente.

Ora, mesmo não dispondo, nem de perto nem de longe, em quantidade e em qualidade, do armamento sofisticado de que dispõem os imperialistas americanos, franceses e ingleses, a verdade é que os povos árabes e muçulmanos agredidos têm conseguido impor derrotas demolidoras aos imperialistas nos teatros de operações no Iraque e no Afeganistão, como estão agora a impor na Líbia, na Síria, no Chade, no Mali, no Níger, no Quénia, no Sul do Sudão, e souberam impor mesmo no covil dos próprios imperialistas em Nova Iorque, em Washington, em Londres, em Paris e em Madrid.

Desgraçadamente, os marxistas-leninistas-maoistas da França e da Bélgica ainda não entenderam que a nova guerra mundial imperialista já começou há 26 anos, a 2 de Agosto de 1990, com a primeira Guerra do Golfo, e que não tem feito outra coisa senão mundializar-se a passo cada vez mais acelerado.

Ora, foi precisamente durante esses vinte e seis anos que os marxistas-leninistas-maoistas da França não fizeram outra coisa senão alinhar do lado do imperialismo francês contra os povos árabes e muçulmanos da África e do Médio Oriente. Estamos perante marxistas-leninistas-maoistas que não são nem marxistas, nem leninistas nem maoistas, mas meros lacaios do imperialismo.

As forças armadas francesas têm estado a participar todos os dias, durante vinte e seis anos, numa guerra imperialista num teatro de operações cada vez mais vasto, que vai do Atlântico à Ásia Central, e os militantes do Partido Comunista de França (m-l-m) e do Comité (m-l-m) da Bélgica não só nunca denunciaram a participação dos seus países nessa guerra, como têm sempre ocupado o lugar e desempenhado o papel de lacaios do imperialismo.

Para estes fidalgos do marxismo-leninismo-maoismo, que vivem, como viverá porventura o nosso Lúcio, à sombra do filósofo Alain Badiou, as contradições fundamentais do mundo actual não são a contradição entre a classe operária e a burguesia e a contradição entre os operários de todos os países, povos e nações oprimidas do mundo contra o imperialismo. Para eles, franceses e belgas m-l-m, a contradição actual no mundo é entre o imperialismo e o fundamentalismo islâmico, confundindo assim contradições de classes ao nível mundial com uma contradição entre o imperialismo e a ideologia religiosa dos povos árabes e muçulmanos atacados e ocupados pelo imperialismo!...


Ora, o imperialismo também tem uma ideologia – a ideologia reaccionária burguesa do imperialismo – da qual fazem parte múltiplas ideologias de índole religiosa, assim como os povos árabes e muçulmanos, objecto da opressão militar actual do imperialismo, também têm uma ideologia, da qual fazem parte múltiplas ideologias de tipo religioso.

Na guerra que o imperialismo tem estado e continua a mover aos povos árabes e muçulmanos da África e do Oriente Médio, há também uma guerra ideológica intensa e sem quartel entre os agressores e os agredidos. Na guerra ideológica movida pelos imperialistas aos povos árabes e muçulmanos, o alvo é o terror e o fundamentalismo islâmicos, precisamente porque o terror, promovido no caso concreto pelo islamismo jiadista, é a arma mais demolidora que os povos e nações oprimidas podem utilizar contra a babel infernal do armamento imperialista. Com a utilização de uma arma especial – a coragem extrema – que nenhuma força imperialista consegue roubar aos povos explorados e oprimidos, os imperialistas deixaram de poder dormir e viver tranquilos nos covis onde se acoitam.

Conhecemos todos os parâmetros e argumentos desta luta ideológica há muito tempo, desde a segunda guerra mundial, para não irmos mais longe, onde os aviadores kamikaze japoneses eram para os nipónicos um vento divino e para os ianques um vento do diabo. Mas quem acabou por usar o terror supremo foram os ianques, lançando bombas atómicas em Hiroshima e Nagasaki, sobre um povo inocente e desarmado.

Ora, os marxistas-leninistas-maoistas da França e da Bélgica vêm agora tentar impor-nos o consumo de uma teoria a todos os títulos reaccionária: que o que estaria por detrás dos ataques a Paris naquela sexta-feira, 13 de Novembro, seria uma ideologia medieval – o fundamentalismo islâmico – que há muito tempo teria estado a organizar o seu quartel-general no bairro de Molenbeek, em Bruxelas. Esta reactivação do fundamentalismo islâmico seria o produto da destruição do capitalismo comprador pelas guerras movidas pelo imperialismo. Ao atacar a Líbia, a Síria, o Iraque e o Afeganistão, entre outros, o imperialismo – ocultando eles o imperialismo francês, europeu e americano – destruiu o capitalismo comprador nesses países, e a Idade Média teria voltado à superfície, com as suas ideologias medievais, como a ideologia da jiade (guerra santa) e do fundamentalismo islâmico. A nossa luta – a luta dos marxistas-leninistas-maoistas franceses e belgas – dizem eles, deve ser contra o fundamentalismo islâmico, não contra o imperialismo…

Reparem os meus estimados leitores e leitoras muito bem na incoerência reaccionária do raciocínio destes marxistas-leninistas-maoistas de pacotilha: se o imperialismo, nomeadamente o francês e europeu, destruísse à bomba o capitalismo comprador na Líbia, na Síria, no Iraque, no Afeganistão, etc., e com isso ressuscitasse nesses países as relações de produção medievais e a ideologia religiosa medieval da jiade e do fundamentalismo islâmico, quem seria responsável por tudo isso senão o imperialismo?!... Essa seria mais uma razão para atacar o imperialismo, e não para o deixar à solta.

E – já agora – parece que os marxistas-leninistas-maoistas da Bélgica e da França não sabem que as religiões dominantes na Europa são setecentos anos mais velhas do que o medieval fundamentalismo islâmico. Se o islamismo é uma ideologia medieval, então o cristianismo é uma ideologia escravocrata.

Deixemos pois bem claro aquilo que os pretensos marxistas-leninistas-maoistas de Alain Badiou esqueceram: os inimigos actuais do proletariado revolucionário são a burguesia, o capitalismo e o imperialismo; não são nossos inimigos os povos e nações oprimidas do mundo, nem as suas ideologias, por mais retrogradas que possam parecer aos lacaios do imperialismo na França e na Bélgica. A verdade é que foi muitas vezes em nome dessas ideologias de cariz religioso que os povos árabes e muçulmanos desferiram contra o imperialismo ianque, gaulês e inglês golpes militares demolidores, como os de Nova Iorque, Washington, Londres e Paris, nos últimos quinze anos.

Não tentem pois os falsos marxistas-leninistas-maoistas da França e da Bélgica desviar a atenção dos comunistas e dos proletários revolucionários dos seus países para o combate ao alvo do fundamentalismo islâmico, porque o alvo dos comunistas franceses e belgas é o alvo do movimento comunista e proletário internacional - é o imperialismo ianque e seus lacaios, como o imperialismo francês, entre outros.

O marxismo-leninismo-maoismo francês e belga é um produto putrefacto do chauvinismo e do patrioteirismo reaccionário burguês… Falta-lhes muito pouco para nos virem dizer que o imperialismo francês, inglês, europeu e americano invadiu e ocupou a Líbia, a Síria, o Iraque, o Afeganistão, o Chade, o Níger, o Quénia, o Burkina Faso, o norte de África e o Magrebe, o Oriente Médio, para libertar esses povos do fundamentalismo islâmico medieval e, já agora, e de passagem … do petróleo e do gás natural!

Examinemos agora a estranha análise de classes e os fundamentos ideológicos e políticos com base nos quais os renegados marxistas-leninistas-maoistas de França e da Bélgica intentam justificar a sua conduta política de bufos, colaboradores, agentes e lacaios do imperialismo francês, europeu e americano e, do mesmo passo, procuram desculpar as bárbaras agressões e a guerra de rapina desses mesmos imperialismos contra os povos árabes e muçulmanos da África e do Oriente Médio.


A tese dos vendidos discípulos de Alain Badiou é esta:

 O projecto islamista é uma ideologia sintetizada, expressão de forças feudais que estiveram em vias de relativamente se libertarem da relação com o capitalismo burocrático.

Assim, quando Sadam Hussein foi deposto no Iraque, o capitalismo burocrático foi igualmente posto de lado e as forças feudais puderam desenvolver-se livremente. Tal foi também directamente o caso em certos países onde o petróleo e o gás natural existiam em abundância. Ao contrário de países como, por exemplo, na América do Sul, houve no Médio Oriente países sem capitalismo burocrático realmente formado, apenas forças feudais que se modernizaram. Os actuais investimentos do Emirato do Catar consistem precisamente num capitalismo burocrático para o feudalismo. Há aqui uma convergência entre fracções da burguesia dos países imperialistas e as petro--monarquias da Arábia Saudita e do Catar.

Não obstante, aparecem neste processo organizações como a Alcaida e o Estado Islâmico que são as fracções mais radicais deste feudalismo. Eles constroem estruturas que desenvolvem segundo a sua estratégia tendo como fim produzir em toda a parte condições ideais para o feudalismo, tanto economicamente como cultural e politicamente. Tal é naturalmente impossível e, por isso, tudo conduz à barbárie e ao niilismo.

É assim falso pensar que tais movimentos fundamentalistas não seriam senão fenómenos marginais espontâneos, que não existiriam senão pelas acções armadas. A sua rectaguarda deve ser entendida de maneira correcta, porque de outro modo poderia pensar-se que se trataria de aventureirismo individual (cfr. texto integral em francês no portal lesmaterialistes.com).

Os quatro parágrafos acabados de transcrever, traduzidos da declaração conjunta, comprovam, antes de tudo e sobretudo, que os pretensos marxistas-leninistas-maoistas de França e da Bélgica não fazem a mínima ideia do sistema económico característico dos países do Médio Oriente, produtores de petróleo, e da natureza das classes e da luta de classes que aí existem. Para eles, os países em causa seriam países onde dominariam as relações de produção e de troca feudais, matizadas com um “capitalismo burocrático para o feudalismo”. O próprio Iraque, depois da liquidação de Sadam Hussein, teria regressado ao feudalismo, pois o capitalismo burocrático teria desaparecido com o desaparecimento de Sadam…

Entendamo-nos: todos os países árabes e muçulmanos do Médio Oriente, produtores de petróleo – Iraque, Irão, Arábia Saudita, Catar, Dubai, Omã, Iémene, Jordânia, Síria, Kuwait, etc. – são todos países capitalistas, países onde o sistema das relações de produção e de troca dominantes é o sistema de produção e de troca burguês. O facto de esses países serem enquadrados num regime político proveniente muitas vezes das monarquias teocráticas medievais – as petro-monarquias -, não significa que o sistema económico seja o sistema feudal, pois essa superestrutura política monárquico-religiosa não é incompatível com a infraestrutura económica burguesa de base.

O assassinato de Sadam Hussein e da sua camarilha dirigente, quando da invasão imperialista na segunda guerra do Golfo, não alterou o sistema económico dominante no país, pesem embora as destruições colossais das forças produtivas, dos meios e dos instrumentos de produção impostas pelos bárbaros bombardeamentos das forças invasoras, incluindo as francesas e belgas. Também quando a Wermacht nazi dominou a França e a Bélgica, o sistema económico capitalista da Bélgica e da França não retrogrediu ao sistema económico feudal, anterior à revolução de 1789.

A natureza socio-económica do actual sistema político do Iraque manteve-se a mesma até hoje, e não regressou, como pretendem os marxistas-leninistas-maoistas da França e da Bélgica, ao sistema de produção feudal. Então - como hoje - o Iraque tem uma economia fortemente dependente das receitas do petróleo, com os outros restantes sectores produtivos marginalizados, e altamente consumista, dependendo fortemente das importações.

Como consequência, mantiveram e até cresceram substancialmente os extractos burgueses compradores “acumulando riquezas enormes de dinheiros públicos através da corrupção, grandes contratos com o Estado, especulação, contrabando de fundos e outras actividades parasitárias” (cfr. nota do Partido Comunista do Iraque sobre o Estado Islâmico, de 29.09.2014).

Se quanto ao sistema económico dominante no Iraque os pretensiosos marxistas-leninistas-maoistas da França e da Bélgica carecem em absoluto de razão, pior lhes sucede ainda com a sua total ignorância do que se passa no Catar.

O desenvolvimento económico capitalista do Catar nos últimos vinte anos foi tão gigantesco que o petróleo e o gás já só representam hoje 50% do PIB (Produto Interno Bruto) do país. Desde 2004, a política económica catariana é focada nos sectores não dependentes do petróleo e de gás natural, nomeadamente nos campos da educação e do conhecimento internacionais. O Catar é aliás um dos grandes financiadores do moribundo imperialismo francês.

Claro, o Catar é um emirado absolutista, dirigido pela Casa de Thani desde meados do século XIX, mas tal não significa que o país viva no sistema económico feudal e que esteja presentemente a construir, como pretendem os m-l-m franceses e belgas, “um capitalismo burocrático para o feudalismo”.


As relações do imperialismo com os países do Médio Oriente são de duas espécies: apoio às petro-monarquias e aos regimes absolutistas, com instalação de bases militares nos seus territórios (Arábia Saudita, Catar, Iraque, etc.), por um lado, e, por outro, invasão e ocupação militar dos países que se opõem à presença imperialista (Líbia, Síria, Iraque, Afeganistão, etc.). Tudo com a finalidade de manter o controlo sobre o petróleo, o gás natural e as reservas estratégicas minerais da zona.

Dentro desta política imperialista, o islamismo só é mau se não for o islamismo dos seus aliados, as petro-monarquias. É nesta base que o islamismo da Arábia Saudita e do Catar, financiadores de dinheiro e armas ao Estado Islâmico, é um islamismo amigo dos imperialistas ianques, ingleses, franceses e alemães, enquanto que o islamismo líbio, sírio ou do Estado Islâmico é bárbaro, terrorista e medieval para o imperialismo americano, inglês, francês e alemão e para todos os seus lacaios, incluindo os marxistas-leninistas-maoistas da França e da Bélgica.

Ora, todos os argumentos dos m-l-m franceses e belgas, consistindo na qualificação do fundamentalismo islâmico como reaccionário, retrógrado, terrorista, medieval e feudal, têm unicamente por objectivo convencer o proletariado da França e da Bélgica de que teria por dever político combater esse fundamentalismo islâmico e não o dever de combater o imperialismo, nomeadamente o francês; que, no fundo, teria por obrigação política atacar os proletários, povos e nações oprimidas do mundo e, assim, defender e proteger os interesses dos imperialistas exploradores e opressores desses países, povos e nações…

Tal é o que querem os marxistas-leninistas-maoistas da França e da Bélgica, os quais, apesar do qualificativo maoista que ostentam no nome das suas organizações, renegam a essência do próprio maoismo, pois a essência do maoismo é o novo internacionalismo proletário definido por Mao Tsetung: a aliança incindível do proletariado de todos os países com a luta dos povos e nações oprimidas do mundo inteiro contra o imperialismo.

Não existe pois nenhum projecto islamista, nem o islamismo, mesmo na sua versão de fundamentalismo islâmico, é uma ideologia sintetizada, como pretendem os marxistas-leninistas-maoistas da França e da Bélgica no seu esforçado papel de lacaios do imperialismo.

O islamismo, sobretudo nas suas vertentes fundamentalistas, é uma ideologia de fundo religioso cujo objectivo é preparar a consciência e o espírito dos povos árabes e muçulmanos para resistirem vitoriosamente aos ataques dos seus inimigos.

Os jiadistas franceses, nascidos em França, e belgas, nascidos na Bélgica, atacaram Paris inebriados naquela ideologia. Ora, aquela ideologia, para um comunista, é uma ideologia reaccionária, como o são as ideologias cristã ou judaica. Mas a verdade é que, à falta de melhor – e melhor seria uma ideologia internacionalista proletária revolucionária que não se manifesta ainda nos dias de hoje na França ou na Bélgica dos Alain Badiou – que, à falta de melhor, dizíamos, deu todavia para mobilizar as consciências e os espíritos que desferiram em Paris um poderoso e demolidor ataque no coração do imperialismo francês.

É por isso que organizações como a Alcaida e o Estado Islâmico não são, como pretendem os marxistas-leninistas-maoistas de pacotilha da declaração conjunta, “as fracções mais radicais do feudalismo” árabe-muçulmano. Essas organizações não são produto do fundamentalismo islâmico, muito menos medieval; são antes exércitos armados organizados e mentalizados para, com escassos meios bélicos mas com indomável coragem, infligirem golpes mortíferos ao terrorismo armado – e cobarde – dos imperialistas.

Quem não tem cão caça com gato. Se os povos árabes e muçulmanos invadidos, explorados e oprimidos pelo imperialismo não dispõem ainda de um exército revolucionário proletário internacional nos seus países agredidos e ocupados – exército que terão certamente um dia! – pois a verdade é que o gato com que agora se vêem obrigados a caçar tem infligido às arrogantes potências imperialistas, nomeadamente ao moribundo imperialismo francês, derrotas demolidoras.

Pois fiquem os m-l-m belgas e franceses sabendo: mesmo que os povos e nações oprimidas do Médio Oriente não disponham da panóplia armamentista dos imperialistas, aparecerão sempre Alcaidas e novos Estados Islâmicos preparados para desferir novos golpes de morte nos locais, nos sítios e nos pontos onde o imperialismo agressor se julgaria mais impune, confortável e seguro.

Não há pois nada de barbárie ou de niilismos na violência do fundamentalismo islâmico, mas apenas uma luta – uma guerra – assimétrica, de vida ou de morte, com meios desiguais, da qual sairão a final vencedores, com menor número de meios bélicos embora, os povos e nações vítimas da agressão imperialista, e acabarão vencidos esses mesmos agressores imperialistas, por mais incomensurável que pareça o arsenal de meios e sistemas de guerra ao seu dispor.

Contudo, para os apregoados marxistas-leninistas-maoistas da França e da Bélgica, os ataques desferidos em Paris pelos jiadistas franceses, nascidos em França e sem dupla nacionalidade, não teriam constituído uma resposta à agressão do imperialismo francês, como também não teriam constituído resposta ao cobarde imperialismo americano os actos de guerra desencadeados em Nova Iorque e Washington, ou ao imperialismo inglês, os desencadeados em Londres. Para os vendilhões do marxismo-leninismo-maoismo que assinaram a Declaração Conjunta franco-belga, os ataques dos cidadãos franceses deferidos na Capital do seu próprio país são um acto violento de guerra emergente do desmoronamento do capitalismo e consequente renascimento do feudalismo (?!...) na África e no Médio Oriente. Por isso, não haveria justificação política nem ideológica para atacar o imperialismo francês: o ataque deveria ser desferido mas era contra o fundamentalismo islâmico!... Então esta corja não é uma caterva de lacaios a soldo do imperialismo?!...


Não creiam os meus estimados leitores e leitoras – e em especial, não o creia o velho companheiro Lúcio – que invento os disparates teóricos, políticos e ideológicos da canalha franco-belga que assinou a Declaração Conjunta de 17 de Novembro de 2015. Eu cito-os uma vez mais, para que não tenham nenhuma dúvida em acreditar-me:

“Este aumento de agressividade – referem-se eles aos ataques de Paris – não é de modo nenhum ‘anti-imperialista’ (estas aspas são deles, declarantes conjuntos) mas somente (aqui os negritos são meus) o produto da crise do capitalismo e a tendência consecutiva da guerra imperialista. É absolutamente lógico – ah, a lógica destes badiouistasque o feudalismo não possa avançar senão onde as contradições inter-imperialistas forem as mais fortes, como em África e no Médio Oriente”.

Eu sei que a leitora e o leitor não entendem, mas a culpa não é minha. O que estes vendilhões do marxismo-leninismo-maoismo no mercado francês e belga pretendem dizer--nos é isto: os ataques a Paris não são anti-imperialistas, mas o produto da crise do capitalismo e a tendência consecutiva da guerra imperialista… Então: são ou não são anti-imperialistas?!... Não, não são, acodem eles: são o produto do feudalismo… Assim, a classe operária francesa e belga é chamada a lutar contra o feudalismo (!...), não contra o capitalismo nem contra o imperialismo… Será que teremos de lembrar a estes cretinos conjuntos ou conjunto de cretinos que já não há feudalismo, nenhum sistema de produção feudal nem na Europa nem no Médio Oriente nem aliás no Mundo? Onde é que viram eles, esse sistema de produção feudal no Catar actual?

O Catar é o país mais rico do mundo, ou seja, com o maior produto interno bruto per capita: 102 000 dólares por pessoa e por ano, em média. É isto feudalismo?

O emirado do Catar tem uma população de 2 milhões de habitantes, dos quais 1,5 milhões são trabalhadores migrantes. Trabalhadores migrantes, pagos com um salário correspondente à venda da respectiva força de trabalho, uma relação de produção e de troca fundadora do sistema de produção capitalista e não do sistema de produção feudal. É isto feudalismo?! Os declarantes conjuntos confundem o regime político reinante – uma monarquia absoluta –, com o sistema de produção e de troca dominante, porque este é um sistema de produção e de troca capitalista, com uma burguesia compradora como classe dominante (e reinante)…

Permitam-me os meus dilectos leitores e leitoras que vos patenteie a tradução de dois pequenos parágrafos em que os marxistas-leninistas-maoistas franceses e belgas lambem as botas ao imperialismo, como reles lacaios sem vergonha. Dizem os declarantes conjuntos:

“Queremos igualmente sublinhar que esta tendência – a tendência do regresso ao feudalismo - está cheia de contradições, pois depende em substância do desmoronamento do capitalismo.

De um lado, a França luta no Mali contra os islamistas, que são apoiados pelo Catar. Do outro lado, a França abre as portas ao Catar pelo ângulo da exoneração de impostos e dum largo apoio político. O Catar comprou imobiliário de luxo, hóteis, o clube de futebol Paris Saint Germain, faz valtuosos investimentos em grandes empresas francesas (EADS, Suez, Lagardère, Veolia), enquanto que a França se tornava no maior fornecedor de armas do Catar. Bolsas de estudo, prémios culturais de 10 000 euros, etc., são igualmente distribuídos pelo Catar. Estas contradições práticas existem também no campo ideológico (…).”

Reparem bem os leitores e as leitoras nesta linguagem de lambe-botas do imperialismo francês, posta em Declaração Conjunta pelos auto-proclamados marxistas-leninistas-maoistas franceses e belgas: “A França luta no Mali contra os islamistas”…

Toda a gente sabe, menos os lacaios m-l-m da Gália e da Flandres, que não é a França, mas o imperialismo francês que, com as suas tropas, invadiu o Mali e o ocupou, contra a vontade do povo muçulmano do quinto maior país da África, rico em ouro, e o terceiro mais rico em urânio, de que a França não dispõe no seu território europeu.

Ora as forças militares do imperialismo francês não lutam contra os islamistas: agrediram e ocuparam o território do Mali e estão a ser escorraçadas pelo povo do Mali, maioritariamente muçulmano. Os islamistas do Mali é que lutam corajosamente contra o atacante imperialista francês!

Os patifes que se apresentam na Declaração Conjunta como marxistas-leninistas-maoistas ocultam que o moribundo imperialismo francês já interveio quarenta vezes, nos últimos cinquenta anos, contra países africanos independentes, sendo o único país colonial que mantém sob o seu controlo militar todas as suas antigas colónias africanas, com excepção de Marrocos, da Argélia e da Tunísia.


Só faltava mais esta: que sejam os auto-proclamados marxistas-leninistas-maoista do Partido Comunista de França (m-l-m) a defender o imperialismo francês e a tentar fazer passar como luta contra os islamistas a agressão e ocupação dos povos e nações oprimidas da África Saariana e Sub-saariana.

Quanto à peregrina ideia de que o Catar teria contradições importantes com o moribundo imperialismo francês, é conversa de opereta, pois o Catar tem suportado a bancarrota francesa desde Sarkozi até Hollande. A maior base militar do imperialismo americano do Golfo está hoje no Catar, e é utilizada pelos aviões franceses que estão a bombardear o povo sírio e o Estado Islâmico, quando toda a gente sabe que o Catar financia com dinheiro e com armas, conjuntamente com a Arábia Saudita, o mesmo aludido Estado Islâmico.

E como não poderia deixar de ser para oportunistas, chauvinistas e lacaios do imperialismo, como o são os pretensos marxistas-leninistas-maoistas da Bélgica e da França, a Declaração Conjunta termina com a prosápia das recomendações da Gália e da Flandres aos proletários, povos e nações do mundo:

  • • “Eis porque os comunistas apelam às revoluções democráticas nos países semi-coloniais semi-feudais e às revoluções socialistas nos países
        imperialistas”;
  • • “Os islamistas são uma expressão do feudalismo e, por isso, as suas acções carecem de perpectivas, são mortíferas e niilistas”;
  • • “O imperialismo deve ser derrubado nos países imperialistas, da mesma maneira que o feudalismo e o capitalismo burocrático devem ser
       derrubados nos países oprimidos”;
  • • “Guerra popular até ao comunismo!”.

Estas quatro conclusões apelativas da Declaração Conjunta é que realmente não passam de um projecto de uma ideologia sintetizada, para usar uma expressão dos próprios m-l-m franceses e belgas, um projecto de ideologia que intenta misturar os interesses políticos fundamentais da revolução proletária com os interesses essenciais do imperialismo e da guerra imperialista, os interesses dos agressores com os interesses dos povos e nações oprimidos, agredidos e ocupados, os interesses do capital com o interesses do trabalho, em suma, os interesses da revolução com os interesses da contra-revolução.

A questão, porém, é esta: quando os imperialistas norte-americanos, franceses e ingleses, cada um deles por si ou todos em conjunto, nomeadamente através de alianças militares como o é a Nato, invadem e ocupam pela força das armas os países e nações árabes e muçulmanas da África e do Médio Oriente, ricos em petróleo, gás natural e em outras reservas estratégicas, qual é a atitude política que devem assumir os operários, povos e nações agredidos face aos agressores imperialistas e qual é a conduta política que devem adoptar o proletariado de todos os países, incluindo o proletariado dos países imperialistas agressores, e os povos e nações oprimidas do mundo? Devem ou não os comunistas de todos os países, incluindo os dos países imperialistas agressores, levantar-se como um só homem contra os agressores imperialistas, em defesa dos povos e nações agredidos, qualquer que seja o regime político reinante nos países e nações vítimas da opressão, ocupação e rapina imperialista?

É evidente que os comunistas e proletários de todo o mundo, incluindo os comunistas e proletários dos países imperialistas agressores, devem erguer-se em defesa dos povos e nações oprimidas do mundo inteiro. Mas a reaccionária Declaração Conjunta é um exercício de estilo para tentar incutir a ideia de que, nos países imperialistas agressores, o proletariado e o povo não devem lutar contra os interesses imperialistas da sua burguesia.

Para os patifes reaccionários da Declaração Conjunta, nos países imperialistas os comunistas e o proletariado apelam – não fazem, apenas apelam – à revolução socialista, e enquanto não fizerem a revolução socialista, para a realização da qual nem sequer apelam, nada farão para impedir que a sua burguesia imperialista deixe de agredir, ocupar e rapinar os proletários, povos e nações oprimidas do mundo inteiro… Haverá maiores lacaios do imperialismo do que os traidores m-l-m da França e da Bélgica? Não, não há com toda a certeza!

O que é todavia mais escandaloso é que os lacaios franco-belgas do imperialismo nem sequer reconhecem aos povos e nações agredidos e ocupados pelo imperialismo o direito a lutarem contra a agressão e a ocupação dos seus territórios; não, esses povos só têm o direito e o dever de fazerem as suas revoluções democráticas internas, mas sempre sem se rebelarem, de armas na mão, contra o imperialismo francês. E muito menos contra Paris.

Para os contra-revolucionários do PCF (m-l-m) e C (m-l-m) da Bélgica, lambe-botas do imperialismo francês, belga, americano e inglês, o imperialismo deve ser derrubado nos países imperialistas. Porém, se cidadãos franceses, nascidos em França e já sem possibilidade de dupla nacionalidade, decidem atacar o imperialismo no seu covil de Paris, justamente nos sítios da cidade onde a classe média gasta o dinheiro roubado no Mali, na Nigéria, na Burkina Faso, na Guiné e no Oriente Médio – aqui d’el rei – gritam os falsos m-l-m da cidade, aqui em Paris ninguém toca… Os jiadistas franceses são uma expressão do feudalismo, dizem eles. Não, reles lacaios e falsos marxistas-leninistas-maoistas: os jiadistas franceses são uma expressão da luta dos povos e nações do mundo contra o imperialismo francês. Nada mais. Vós, militantes do PCF (m-l-m) e C (m-l-m) B, é que sois uma expressão do feudalismo, uma expressão ideológica sintetizada dos interesses da burguesia e da classe média do imperialismo francês!

É por aí que quer seguir o Lúcio, velho companheiro de luta, operário emigrante combativo, comunista corajoso e indomável, até ter deixado a fábrica onde foi explorado uma vida? Será que também achas que, nos dias de hoje, como os reaccionários discípulos de Alain Badiou o pensam, nos países imperialistas, é a guerra popular, e não a revolução proletária, que levará ao comunismo?

Levanta-te Lúcio, não te deixes abater!

 

02.02.2016

Arnaldo Matos

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Comentários   

 
# Quibian Gaytan 20-05-2016 06:34
Saludos comunistas,
Tengo a bien informarles que, en entrada del blog Luminoso Futuro del 20 de febrero de 2016, hemos publicado bajo el rubro Partido Comunista de los Trabajadores Portugueses: MENSAJE DEL CAMARADA ARNALDO MATOS AL CAMARADA LÚCIO su desenmascaramie nto de los reclamados Marxistas-Lenin istas-Maoístas franceses y belgas. De seguido el enlace: https://drive.google.com/file/d/0Bwo68T7ecF55NzhsRTRCaU9jYkk/view?usp=sharing
 

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