Ensaio
- Publicado em 26.10.2020
Contributo para o Debate "A nova direita e a subjectividade reaccionária"
1. “Portanto, a ideia de que comunistas devem apenas ‘disputar’ o eleitorado do liberal-fascismo não é compatível com a realidade social e material.”
2. “Para os comunistas, é urgente compreender que esta subjectividade pequeno-burguesa reaccionária não pode ser combatida por via do “progressismo nos costumes” tão apregoado pela grande burguesia, pelos sectores culturais intelectuais, e pelo Partido Socialista, pelo Bloco de Esquerda, e pelo Livre. Os casos pontuais de ‘reconversão’ a posições mais moderadas, ou mesmo progressistas, são sempre estatisticamente irrelevantes. As consequências deste tipo de posicionamento idealista são graves, porque enquanto se disputam sectores reacionários no plano ideológico, abandonam-se os sectores objectivamente progressistas e anti-fascistas.”
3. “A quem cabe revolucionar a actual ordem social? Às classes revolucionárias, e não a quem alimenta a fé, e o interesse material, no seu suposto direito a pertencer às classes mundialmente dominantes e a usufruir dos seus privilégios, apoiando se necessário, a direita abertamente fascista.”
1. Isto, evidentemente, a pensar-se estritamente no quadro da “disputa” eleitoral democrático parlamentar burguesa! Raciocínio redutor face ao universo mais abrangente da luta das classes que constituem a nossa sociedade.
2. O “progressismo dos costumes” referido pode resumir-se no resultado do aumento crescente dos capitais, assunto bem estudado por Marx: a situação material do operário melhora mas em detrimento da sua situação social: “O abismo social que o separa do capitalista aumenta” ver por exemplo Travail salarié et capital, p.38, Éditions du Progrès, Moscou, 1971. Tal verificação pode bem ser objecto de melhor ponderação pelos mais apressados basbaques do “progresso”, e no terreno próprio da sua condição económica!
3. Quanto a pertencer ao topo da exploração e da riqueza basta o argumento sensato do número: quantos passam a vida na miragem do euromilhões, todas as semanas com sonhos mirabolantes se lhe sair a sorte grande, e fim de semana de desilusão até à morte? E a quantos a sorte lhes sai em comparação com aqueles milhões a quem sempre nada lhes coube? Por outro lado mesmo a servil assunção de lacaios cada vez menos tem suporte social, tal o turbilhão que a progressão do capital impõe. Com o gigantesco aumento do capital agiganta-se também a massa proletária e proletarizada num movimento imparável de mudança que consciência adversa alguma poderá conter definitivamente.
Cumprimentos,
(RAA, 26Out2020)
Pedro