EDITORIAL
O Papa, a Juventude e a Legionela!
Arnaldo Matos
Como todo o Planeta já sabe, pois foi anunciado pelo Papa urbi et orbi no domingo passado na cidade do Panamá, a próxima edição das Jornadas Mundiais da Juventude realizar-se-á, em Lisboa, no Verão de 2022.
Em Lisboa, “na margem norte do Tejo, em frente ao Mar da Palha”, como esclareceu o Cardeal Patriarca, num tempo em que o material e o espiritual da capital do País estão em mãos de tripeiros…
Mais concretamente, as JMJ terão lugar em 90 hectares de terreno, que haverão de ser requalificados e reconstruídos no Parque Tejo, no concelho de Lisboa, e na margem esquerda do Trancão, freguesia da Bobadela, concelho de Loures.
Os 90 hectares de terreno da margem norte do Tejo, onde se estima que venham a concentrar-se um Papa e dois milhões de jovens, incluem ou são contíguos de zonas do município de Vila Franca de Xira que, entre 7 e 21 de Novembro de 2014, foi vítima de um surto da doença do legionário.
Provocado por bácterias do género Legionella, o surto da doença afectou 375 pessoas e matou 12 delas. A Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou então como “ uma grande emergência de saúde pública” o surto de legionela em Portugal.
O surto de legionela teve origem em torres de refrigeração da Empresa Adubos de Portugal; o caso está ainda em juízo, cinco anos depois, e os doentes e familiares dos mortos ainda não receberam as indemnizações a que têm direito.
As torres de refrigeração dos Adubos de Portugal, que aliás não reconheceu ainda a sua responsabilidade no crime, ficam perto e a lés-nordeste dos 90 hectares de concentração do Papa e dos jovens em 2022.
Um terço dos ventos anualmente dominantes varrem a área das torres de refrigeração das várias fábricas instaladas no local e despejam o varrimento sobre os terrenos da concentração e das celebrações papais.
A realização das JMJ em Lisboa em 2022 obriga o Estado Português a retomar desde já a fiscalização mensal de todas as torres de refrigeração que circundam a área ocupada pelo evento, fiscalização que deixou de existir por decisão criminosa da Tróica e do governo de Passos Coelho.
E os serviços de inspecção judiciária devem ordenar ao tribunal do processo o julgamento imediato dos responsáveis pelo surto de 2014 e a condenação nas indemnizações aos dontes e familiares dos mortos.
Ninguém trará o Papa e dois milhões de jovens para um (mesmo que só hipotético) difusor de legionela.
E não digam que não vos avisei a tempo. Fui ver o local e sei do que falo.
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