EDITORIAL
Um Desfile Militar Ridículo para Enganar Papalvos
Arnaldo Matos
Com uma semana de avanço, o Governo, a Presidência da República e as Forças Armadas de Portugal celebraram hoje o centenário do Armistício, isto é, do acordo entre beligerantes que pôs termo às operações militares da I Grande Guerra Mundial, a 11 de Novembro de 1918.
A forma encontrada para celebrar o Armistício e homenagear as Forças Armadas Portuguesas foi um desfile de 4500 homens e mulheres das forças armadas e das forças de segurança, pela Avenida da Liberdade abaixo, entre o Marquês de Pombal e a Praça dos Restauradores, passando diante do Monumento aos Mortos da Grande Guerra.
O conhecido percurso das marchas de Lisboa…
A antecipação de uma semana na celebração portuguesa do centenário do Armistício deve-se ao facto de que o governo, o presidente e uma representação militar portuguesa estarão no próximo dia 11 de Novembro em França, onde vencedores e vencidos da guerra mundial inter-imperialista de 1914-1918 celebrarão conjuntamente aquela efeméride.
Mas a antecipação veio mesmo a calhar, pois um desfile tão vistoso como o de hoje permite encher de poeira os olhos do povo português e fazê-lo esquecer a crise política e militar por que passam a Tropa, o Governo e o Presidente da República, na sequência do Roubo de Tancos.
Para ocultar a crise, nada como o desfile de tropas e polícias. Amanhã, talvez já ninguém afirme que Marcelo sempre esteve informado do roubo das armas em todos os seus pormenores. E que também falou com o director da Polícia Judiciária Militar. E que o Chefe da sua Casa Militar lhe deu a conhecer o memorando. E que concordou com a encenação de recuperação das armas. Um desfile, com António Costa ao lado, também salva o goês das alhadas em que anda metido.
É que o colorido e movimentado desfile militar, se passa por diante do Monumento aos Mortos da Guerra, como realmente passa, aqueles que todavia verdadeiramente homenageia e perante os quais se curva são os figurões que se encadeiram ali mesmo ao lado dos mortos para receberem adulações dos vivos: o Marcelo, o Costa, os ladrões de Tancos, os comandos militares, os chefes políticos actuais.
Ao invés do que sobre ele se proclama, o desfile militar de hoje não celebra a paz nem honra os mortos: o desfile de hoje procura, única e simplesmente, legitimar a morte de 7500 operários e camponeses que foram mandados morrer, como carne para canhão, na Flandres, nos desertos do Sul de Angola, nas savanas das margens do Rovuma, em Moçambique.
Os 7500 mortos e bem assim os 20 000 feridos num contingente de mais de 100.000 trabalhadores portugueses, despachados para a primeira grande guerra mundial dos imperialistas, não morreram por Portugal nem pelos portugueses; morreram pelos imperialistas e pelo modo de exploração capitalista.
É por isso que o desfile de hoje se fez para esquecer a crise política e militar que abala Portugal de norte a sul e de lés a lés, a partir do Roubo de Tancos, e que deixou nas lonas Marcelo e Costa. E, de passagem, para convencer os papalvos a criarem e a deixarem seguir os seus filhos a morrer na guerra como mercenários, nestas novas e contínuas guerras do imperialismo americano, francês, alemão em África, no Médio Oriente, no Afeganistão, na Europa e um pouco por todo o resto do mundo.
O desfile da Avenida encobre, pois, três crimes: o crime da participação dos operários e camponeses portugueses na guerra de 1914-1918; o crime do Roubo de Tancos e da crise política aberta devido à incompetência de Marcelo e de António Costa; e o crime de preparar a opinião pública para aceitar o envio de novos contingentes de carne para canhão de Portugal para as guerras imperialistas em curso.
O desfile de hoje pode fazer choramingar de baboseira os velhos combatentes do Império, ainda não compenetrados dos golpes de que foram vítimas. Mas não enganarão os operários e trabalhadores dos nossos dias. É que estes rejeitam frontalmente o papel que lhes reservam Marcelo, Costa e os capitalistas portugueses: não querem ser nem serão mais lacaios do imperialismo como foram os que se viram forçados a fazer e morrer na I Grande Guerra Mundial e em todas as guerras colonialistas portuguesas.
Aliás, por agora já nem exército existe em Portugal. Com efeito, para juntar 4500 homens num desfile militar, tem de se ir buscar 2500 polícias e guardas republicanos. As Polícias têm presentemente o dobro dos efectivos das Forças Armadas. Um dia destes, a polícia prende as forças armadas e põe os generais a engraxar-lhes as botas.
Desfiles de militares e polícias? Deixem-se disso!
Aconselho todos os operários e camponeses a olharem com atenção para as forças que viram desfilaram hoje Avenida abaixo. Se subtraírem o contingente de polícias e de guardas, o Exército português nem um exército chega a ser. É a vergonha dos exércitos. Governos e chefes militares já nem precisam de armamento para as suas tropas. Das terrestres, as forças Armadas têm de considerar-se desarmadas, pois com aquele armamento não vão a lado nenhum. Parece, aliás, que Marcelo, Costa e Cravinho nem sequer estão preocupados com isso: eles são como os negreiros do século XV; têm homens para vender aos imperialistas, mas o armamento corre por conta dos compradores. Ainda chegaremos a vê-los vender soldados nus, contanto que os paguem bem…
O desfile, em todo o caso, sempre deu para ver que os últimos ministros da Defesa trocaram a arma da cavalaria pelos equídeos da GNR, e a arma da artilharia pelas espingardas de canos cerrados dos conjuntos cino-técnicos.
Dar Voz a Quem Não Tem Voz
Oeste
Um exemplo de liquidação do SNS
Recebemos de um nosso leitor a carta que expressa a preocupação quanto ao previsível encerramento do hospital de Torres Vedras e que, abaixo, transcrevemos na íntegra
Exmos Srs,
Meu nome é Patrick Francisco, tenho 46 anos, e sou residente em Torres Vedras.
Tomei a liberdade de deixar aqui uma reflexão sobre uma questão fundamental para os cuidados de saúde na Região Oeste de Portugal.
Um dos temas que tem suscitado grande preocupação entre os torrienses e em toda a Região Oeste, está relacionado com o acesso aos serviços hospitalares. Até agora, a Região Oeste tem sido servida por 3 Hospitais, nomeadamente em Torres Vedras, Caldas da Rainha e Peniche.