EDITORIAL
Homenagem ao Camarada João Camacho
Arnaldo Matos
Com muito brilho, profunda emoção e entusiástico empenho de todos os participantes, realizou-se sábado à tarde, em Lisboa, na sede do Partido, à Avenida do Brasil, a sessão política de homenagem ao camarada João Camacho, membro do Comité Central, fundador do Partido no Congresso de Dezembro de 1976, e militante com mais de quarenta anos de actividade ininterrupta, falecido, para grande desgosto de todos nós, no passado dia 6 de Fevereiro, depois de prolongada e incurável doença heroicamente suportada e combatida.
A sessão de homenagem foi promovida pela Célula Martins Soares, responsável pela sede do Partido na Avenida do Brasil, da qual célula João Camacho foi secretário até ao seu decesso.
Às 15H00 da tarde de sábado, estavam presentes no local da sessão cinquenta camaradas de João Camacho, entre militantes e amigos do Partido, dezassete mulheres e trinta e três homens.
Lurdes Camacho, companheira do camarada homenageado, deu-nos a honra de presidir à sessão, usando da palavra imediatamente antes do autor destas linhas, a quem coube encerrar o evento, em nome do Partido.
Abriu a sessão o camarada Carlos Paisana, membro do Comité Central do Partido, naquela mesma tarde eleito para substituir João Camacho no cargo de secretário da Célula Martins Soares. Muito emocionado, fazendo aliás jus aos muitos anos de amizade e luta compartilhados com Camacho, Paisana escolheu e disse meia dúzia de poemas da pena do homenageado, que ainda teve tempo de se revelar um poeta de muito mérito, numa linha de combate pouco conhecida de um homem que parecia não pretender mais que consagrar-se como editor e livreiro comunista, o que nunca seria pouco.
Já sob a direcção do novo secretário Carlos Paisana, a Célula Martins Soares prestou uma especial homenagem ao poeta João Camacho, editando uma brochura de quarenta páginas com cinquenta curtos poemas do homenageado, distribuída gratuitamente no próprio dia da reunião.
Falou, em segundo lugar, o camarada Pedro Leite Pacheco, membro do Comité Central e secretário regional do Partido nos Açores, que salientou o papel do homenageado nos trabalhos que levaram à realização do I Congresso dos Comunistas Açorianos, em Maio do ano transacto, e lhe dedicou um poema que já tivemos ocasião de publicar no Luta Popular Online.
A organização do Partido nos Açores esteve representada na sessão de homenagem por três militantes açorianos: Pedro Leite Pacheco, da ilha de São Miguel, e Ludovina Gomes e Diana Minhoto, da Terceira.
A camarada Ludovina também pegou da palavra, num brilhante e emotivo improviso, onde salientou as extraordinárias qualidades de líder modesto, mas empolgante, do camarada Camacho. Relatou-nos as conversas que teve com João Camacho durante o Congresso, que iam da luta contra os traidores e rachados liquidacionistas até à melhor maneira de cozinhar a feijoada…
No pouco tempo em que esteve nos Açores – menos de uma semana- integrado na brigada do Comité Central, João Camacho, já muito doente, mas invencível, conquistou a inteligência e os corações dos nossos camaradas açorianos. São extremamente comoventes as fotografias de João Camacho a ensinar os jovens comunistas açorianos a colarem os cartazes do I Congresso Regional do Partido, nos muros do arquipélago.
O Maciço Central enviou também uma representação de três camaradas (Viriato, Café e Fonseca), dirigida pelo secretário regional, que fez um elogio comovente dos contactos que teve com João Camacho, sobretudo na reunião onde foram apresentadas e discutidas as Teses da Urgeiriça. Foi Camacho quem filmou e gravou pessoalmente todas as intervenções da reunião e teve ainda tempo para obter fotografias únicas dessa assembleia memorável. Viriato, que também é poeta (José Cruz), dedicou um poema ao camarada falecido, que já veio publicado no nosso jornal.
A organização do Partido em Setúbal enviou também uma pequena representação, sob a direcção do secretário Regional (Fernando Firmino, Helena, Lima, Sousa, Carlos Gomes, Manuela Parreira, Vila Boa, Seixas e Leonel Coelho).
O discurso de Firmino foi muito apreciado pela sua objectividade e elegância, que encheu de confiança os militantes do Partido presentes, quanto ao progresso das nossas forças na região.
Tomou seguidamente a palavra a camarada Maria Paula, também do Comité Central, em representação das brigadas de luta contra o liquidacionismo e pela reorganização do Partido, que sublinhou a coragem e combatividade do homenageado na luta contra os oportunistas e revisionistas, dentro e fora do Partido.
Em representação da organização do Partido no distrito de Lisboa, discursou com convicção e segurança a camarada Cidália Guerreiro, membro do Comité Central do Partido, que fez uma descrição pormenorizada das qualidades políticas de João Camacho, da sua dedicação ao Partido e à Revolução, da sua coragem indómita e da lição que nos deu a todos sobre o modo como enfrentou e lutou contra a doença que o vitimou: “A doença nunca afastou Camacho do combate revolucionário”.
Foi então a vez, por que todos ansiávamos, de Lurdes Camacho, que a todos nos comoveu com as memórias políticas do seu companheiro, do seu amor ao Partido, da coragem e valor com que sempre enfrentou o inimigo, as suas polícias e até as balas do cobarde exército colonial e do Copcon. Estas palavras, mais que ouvidas, foram bebidas pelos participantes na sessão de homenagem, na qual também esteve Paulo Camacho, irmão do homenageado, sempre discreto e comovido.
A sessão encerrou com algumas palavras minhas sobre as nossas tarefas para a refundação do partido comunista marxista operário e pelo notabilíssimo papel que nessa tarefa desempenhou o nosso querido camarada João Camacho, sobretudo no período em que mais o atingiu a doença , lutando contra a canalha liquidacionista sem dó nem piedade.
O Comité Central deliberou instituir uma Escola de Estudos do Partido sob a designação de Universidade João Camacho.
A sessão solene de homenagem a João Camacho saldou-se por uma grande vitória política para a linha que Camacho sempre defendeu.
Honra a João Camacho!
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