EDITORIAL
Honra ao Camarada João Preguiça!
Arnaldo Matos
Morreu o Homem. Morreu o Comunista.
Mas não morrerá nunca o exemplo da sua coragem indómita, da intrepidez do seu génio, da lealdade transparente, do amor aos pobres, do respeito aos ciganos, da confiança no proletariado, da honra dos camaradas.
Tinha setenta e três anos, a perfazer no próximo dia 3 de Outubro, mas morreu hoje, quando a manhã vinha vindo nos braços da aurora, nos cuidados continuados do hospital de Serpa.
Foi abatido por um cancro.
O funeral realizar-se-á amanhã, ao meio-dia, no cemitério de Pias. Estarei lá, com o cajado que ele me ofereceu no dia em que lhe faltaram as forças para poder continuar a usá-lo.
Estou a falar do João Baptista Ramos Preguiça.
Preguiça foi toda a vida um homem digno e de carácter e um grande combatente comunista.
Antes do 25 de Abril, Preguiça esteve imigrado dez anos na Suíça, onde, enquanto operário e como assalariado rural, se destacou sempre nas lutas pelos direitos dos seus camaradas de trabalho.
Regressa a Pias, sua terra natal, logo após a revolução de Abril, aderiu ao MRPP e tornou-se militante do Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses (PCTP).
Volteando sempre a bandeira do marxismo e do proletariado, tomou corajosamente lugar na frente de combate contra a traição revisionista do PCP de Cunhal e contra a ditadura social-fascista. Preguiça esteve às portas da morte, no fim dos anos 70 do século passado, quando foi cobardemente agredido pela cacicagem de Barreirinhas Cunhal, que lhe fizeram uma espera na estrada de Serpa.
Camponês pobre que era e sempre foi, Preguiça viveu de forma modesta e austera, granjeando sempre a solidariedade e o apoio das massas, não apenas em Pias, mas em Valdevargo, Aldeia Nova de São Bento e no Baixo Alentejo mais profundo.
Em Agosto de 1995, Preguiça levou a cabo praticamente sozinho, abandonado pela clique oportunista do bando da arara Garcia Pereira, uma jornada política de enorme envergadura, que mobilizou o país inteiro, de norte a sul e de lés-a-lés. Colocou-se João Preguiça à frente do seu macho o Inteligente, e da carroça, acompanhado pela pequena cadela a KGB, e pôs-se a caminho de São Bento, onde exigiu a demissão do energúmeno Cavaco Silva e, de passagem, liquidou todas as hipóteses de sucesso da candidatura presidencial do professoreco de Boliqueime.
Para além das inúmeras lutas que travou contra os liquidacionistas e todos aqueles que liquidaram a reforma agrária pela qual sempre se bateu, o camarada Preguiça encabeçou sempre as listas eleitorais do nosso Partido pelo círculo de Beja, tendo o Partido continuamente obtido aí as suas maiores votações percentuais a nível nacional.
O camarada João Preguiça foi um dos primeiros camaradas a assumir uma inequívoca posição contra o bando liquidacionista de Garcia, Conceição Franco e Domingos Bolhão, que tentaram afastá-lo da posição de cabeça de lista pelo círculo de Beja nas eleições legislativas de 2015, a que se opôs unicamente o autor destas linhas, que ameaçou cortar totalmente com o Partido, se a tentativa de afastar o camarada Preguiça fosse coroada de êxito, o que efectivamente não aconteceu, e, ao invés, levou à expulsão do grupelho liquidacionista das nossas fileiras.
João Preguiça morreu quando já era membro do Comité Central do PCTP/MRPP.
A vida do Camarada Preguiça constituiu até ao fim dos seus dias – e constituirá sempre – um extraordinário exemplo de sacrifício, coragem, bravura, persistência, tenacidade, intransigência e dedicação permanente ao Partido, à classe operária, aos assalariados rurais, ao marxismo e ao comunismo.
Tenho pena que o meu esforço para levar o camarada João Preguiça ao I Congresso Regional do Partido nos Açores não tenha sido coroado de sucesso, por oposição dos médicos. Mas o Comité Central comprou as viagens e reservou o hotel para o camarada João Preguiça e para o enfermeiro que o acompanharia a Ponta Delgada. Infelizmente não pudemos levá-lo, como era seu e nosso desejo.
Preguiça mostrou uma grande felicidade pelos êxitos do Partido nos Açores.
Honremos a memória do camarada João Preguiça e saudemos o seu exemplo!
Saibamos seguir o seu exemplo de Homem e de Comunista.
A classe operária nunca te esquecerá, João!
Lx.27JUN17