EDITORIAL
Quem é que disse que o governo caíu?
Na véspera de São Martinho, a Assembleia da República rejeitou, por 123 votos contra 107, o programa do XX governo constitucional, o segundo de traição nacional da coligação fascista da direita com a extrema-direita, encabeçado pela dupla de traidores Coelho/Portas.
Embandeiraram em arco o centro e a esquerda parlamentares, o que até se compreende, pois foi a primeira vez que em São Bento saíu derrotado o mais sinistro e reaccionário dos governos que houve em Portugal, depois da longa noite fascista de Salazar e Caetano.
Também nós nos regozijámos com a derrota da coligação dos traidores Passos Coelho e Paulo Portas, lembrando todavia aos meus leitores que ele só chegou até aos dias de hoje por duas razões: porque teve em Belém um presidente reaccionário que o apoiou, violando todos os dias a Constituição da República que jurara defender e ajudado pelo Tribunal Constitucional, e porque o PCP e a Intersindical, eles também atraiçoando o povo, desconvocaram a manifestação para a passagem apeada da Ponte 25 de Abril, incutindo nas massas populares a ideia da inutilidade e do fracasso da luta pelo derrubamento do governo.
A partir dessa traição dos social-fascistas do PCP de Jerónimo e da Intersindical de Arménio Carlos, a classe operária, até aí cheia de força e determinação no derrubamento do governo PSD/CDS, desarmou e recolheu a penates.
Hoje, toda a classe operária vê e compreende que tão maus ou piores que os traidores que estão no governo são aqueles traidores que se ocultam no seio da luta das massas.
Seja como for, não deixou de ser uma grande alegria para as massas populares a derrota infligida à coligação da direita com a extrema-direita no dia 10 de Novembro na Assembleia da República.
Desatou então toda a imprensa, ecoando as primeiras declarações do PS, do PCP e do Bloco, que o governo caíra.
Ora, aqui é que está o erro, e erro da maior gravidade. Com efeito, o governo Coelho/Portas não caíu coisíssima nenhuma; o governo está e vai continuar lá, em São Bento, por mais alguns sete meses, como já alertei no meu editorial escrito neste mesmo sítio no dia 23 de Outubro, apelando à mobilização das massas para Belém e à preparação de uma greve geral nacional pelo derrubamento de Cavaco, pela defesa da democracia parlamentar e pela aceitação do governo que tiver maioria na Assembleia da República, mesmo que seja uma maioria frágil e transitória, como não poderá deixar de ser.
Deixei bem claro que nem o governo da coligação PSD/CDS, nem o governo do PS, com as muletas do PCP e do Bloco, são governos que devam merecer o apoio da classe operária e do povo trabalhador. Os dois governos são, na essência, um só e o mesmo governo: o governo da Tróica, o governo da austeridade, o governo do desemprego e dos baixos salários, o governo da emigração, dos credores estrangeiros e do pagamento de uma dívida impagável, o governo da imposição do euro e do tratado orçamental, o governo do imperialismo, do capitalismo monopolista europeu e da Europa alemã, o governo dos boshes, de Ângela Merkl e de Schäuble.
A aliança do PCP e do Bloco com o PS de António Costa em nada alterará a situação de opressão, de exploração, de fome e de miséria em que vivem o povo trabalhador e a classe do proletariado em Portugal. O PCP de Jerónimo, o Bloco de Catarina e a Intersindical de Arménio Carlos têm unicamente uma função a cumprir nesta aliança com António Costa: lavar o esterco das cavalariças do PS, para que o cheiro nauseabundo do oportunismo de Costa não incomode durante uns tempos a pituitária dos operários.
De momento, contudo, devemos estar dispostos, operários e todo o povo trabalhador, a obrigar Cavaco a cumprir a Constituição, primeiro com uma concentração nacional em Belém, a exigir a demissão imediata de Cavaco; e, depois, com uma greve geral nacional, pelo tempo necessário a que se vejam respeitados os poderes democráticos da Assembleia da República.
Costa anda por aí a dizer que não há crise; haveria mas era gente que quer fabricar uma crise.
Coitado do Costa!... Não há crise?! Pois, desde o 25 de Novembro de 1975, que nunca estivemos tão perto da guerra cívil… Como é que não há crise?!
13.11.2015
Arnaldo Matos