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Partido

Entrevista do Camarada Alexandre Caldeira ao Diário de Notícias


Foto Alexandre Caldeira



“Não pagar a dívida pública da Região e do País”




O PCTP/MRPP  vai apostar no contacto directo com os eleitores, mas também nas formas tradicionais de comunicação. Foto Joana Sousa/Aspress

Aos 65 anos, depois de mais de 30 de militância no PCTP/MRPP, Alexandre Caldeira, comerciante na área da restauração em Santa Cruz, aceita encabeçar a lista de candidatos do partido às eleições regionais, com uma certeza: depois de muitos anos sem fazer política na Região, o PCTP vem para ficar.

A constituição da lista foi complicada, pelo medo e pelo facto de o PCTP ser um partido pequeno?
Não foi. Foi feito um trabalho de ligação às massas profundas, com o objectivo de arranjar elementos do povo que tivessem os princípios mínimos das ideias do PCTP/MRPP: foram os pescadores, as bordadeiras, as donas de casa, os operários, a hotelaria... Fizemos uma lista de pobres, de gente humilde, séria, de gente que é o povo e que não são aquelas listas dos doutores, dos senhores.

Seguramente já acompanhou outros processos eleitorais. Nota-se diferença na aceitação das pessoas contactadas para serem candidatas?
De certa forma sim. Com a queda do ‘jardinismo’, que o povo impôs, o povo sente-se mais aliviado e mais predisposto à luta e à mudança de facto que é preciso ser instaurada.

Há quanto tempo começou a preparação da candidatura do PCTP?
Há 15 dias, três semanas, no máximo.

Um sinal de que não houve tanta dificuldade… Peço que, antes das ideias, me diga qual é o vosso objectivo eleitoral?
Nós pretendemos uma representação parlamentar.

Se elegerem um deputado já é bom?
Vamos para a representação parlamentar.

Quais são as ideias-chave da candidatura?
Gostaria de referir o grande orgulho na lista que apresentamos. Temos uma lista de pessoas que se disponibilizaram e que representam os sectores mais pobres e humildes da sociedade madeirense. Os outros terão orgulho em apresentar as listas dos capitalistas, dos ‘Pestanas’, dos ‘Sousas’ e nós não.

Essa crítica é dirigida a todas as forças que se candidatam ou mais direccionadas a alguns partidos?
Ao PPD, ao CDS ao PS e a outras forças…

Maioritariamente aos partidos mais representados?
Sim, sim.

Mas estava a revelar o sentido da candidatura.
Exactamente. Viemos para ficar. Estivemos cerca de 30 anos sem fazer trabalho político, mas agora voltámos.
Vamos ter com as pessoas e perguntamos quais os problemas que sentem, quais os seus anseios. O povo também tem ideias, que são o que vamos levar para a ALM.

O povo é mesmo sabedor. É isso?
Exactamente e o PCTP-MRPP vai dar-lhes voz. Não prometemos nada. O povo é que vai exigir o que pretende.
Outros prometem. Há dias viu um candidato a dizer que vai arranjar vôos mais baratos, como a SATA. E porque não os arranjou até agora? Viu um indivíduo a fazer uma encenação de teatro, de um indivíduo que foi a Lisboa discutir com um ministro que é da cor dele…

PSD e CDS?
Sim, uma encenação com Pires de Lima, parecendo que estava tudo chateado. Estas promessas balofas são ridículas. Eles têm estado na Assembleia e no Governo e os problemas do povo nunca foram resolvidos.
O senhor não faz a mínima ideia do que são os problemas do Porto Santo. Metem dó. Fome, miséria, isto é a realidade das coisas.
Esta gente só pensa nos ‘Pestanas’. O Pestana paga 73 cêntimos à hora na hotelaria. Mas tem todas as benesses da burguesia ‘jardinista’.

Falou no Porto Santo. É porque conhece melhor ou porque a situação é mais complicada?
Fomos lá arranjar a candidatura, arranjámos sete candidatos, que é importante…

Estou a tentar perceber se a situação no Porto Santo é, no vosso entendimento, pior do que a da Madeira.
É pior.

Por causa da dupla insularidade?
O Governo faz um contrato com os tubarões, que é o caso dos ‘Sousas’, do barco o Lobo Marinho. Metem o navio na doca a arranjar e não têm um transporte alternativo para dar às pessoas do Porto Santo, quando o contrato diz que deve haver uma alternativa. Onde está ela ou a exigência do Governo?

É um tratamento de favor?
Claro. Objectivamente. Alguém exigiu alguma coisa, há algum processo em tribunal, houve tarifas de avião mais baixas? Não, rigorosamente nada.

A crítica é só a quem decidiu ou também aos demais partidos, apesar de também falarem no assunto?
A maioria, que vai ao Porto Santo, é para passar férias e alguns falam porque é moda, porque têm férias e praia, mas os problemas reais não são tratados.

É uma ilha esquecida por esses partidos?
Absolutamente. Perfeitamente esquecida.

As sete pessoas candidatas é uma forma de dizer que a ilha convosco não será esquecida?
Não será mesmo. Pode ter a certeza absoluta. Vamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que seja preservado o princípio da dignidade humana.

Peço que retome a linha das principais ideias da candidatura.
Há uma ideia, que passa por resgatar a autonomia e reforçar a democracia e o progresso social, que são também o nosso lema da campanha.

Resgatar a autonomia é o quê?
Até agora, a autonomia não passou da transferência de poderes do Estado para a burguesia ‘flamista’. A autonomia deve ser um verdadeiro movimento cultural para o povo da Madeira e ao serviço deste.
Alberto João Jardim, quando chegou ao Governo, tinha 9.475 desempregados. Agora vai embora com 22.703 desempregados.

A Madeira está pior agora?
Muito pior. Deixa três vezes mais desempregados e um total de 18%, o que equivale a ser a Região com maior percentagem de desempregados do País.
Sobre a dívida, a nossa posição é o não pagamento da dívida pública da Região e do País, usando, quanto à RAM, o dinheiro da dívida de 1,6 mil milhões para financiar o desenvolvimento económico.

1,6 mil milhões, que dívida é essa, uma vez que a dívida da Região é de 6,3 mil milhões?
A dívida pública.

A dívida da Região é de mais de seis mil milhões, mas independentemente do montante, a vossa solução é não pagar. Paga o Estado ou ninguém paga?
Não pagamos.

Nessa lógica, eu não deveria pagar ao banco o dinheiro que pedi emprestado.
E porque não? Qual é o problema de não pagar a dívida ao banco? Eu acho que se o senhor fica desempregado, fica sem a casa, o governo deve pagar a casa. Isto é tudo muito... As famílias com rendimento inferior ao Salário Mínimo Nacional devem receber da Segurança Social da Região um subsídio para o pagamento da água e da electricidade e ficar isentas do pagamento das taxas de saúde e dos medicamentos.
A Segurança Social deve assegurar uma refeição diária nas escolas às famílias desempregadas. A RAM deve negociar com os bancos uma moratória para os funcionários públicos que contraíram empréstimo para compra da casa e que ficaram sem ela, devido ao desemprego.

Mas uma moratória não é não pagar. Não estou a perceber a sua lógica de uns não pagarem a dívida e outros pagarem.
Vamos lá a ver. Nós não temos nada que pagar a dívida contraída pelo Governo Regional. Porque é que havemos de pagar?

Porque foi o Governo eleito, bem ou mal, pelos madeirenses, que actuou em nome desses mesmos madeirenses.
Exacto. Continuamos a ser escravos de uma dívida, a gente não sai das grilhetas desta situação. Tenho uma vaga ideia de que, há muitos anos, houve um senhor que chegou à Madeira e pagou a dívida toda da Madeira. 31 milhões, não foi?

Não, foi muito mais.
Está a ver? O que é que isso resultou? Afinal podem pagar. E porque é que não podem pagar agora?

Então o Estado assumiria a dívida da Região?
Claro.

É que disse que nem a Região nem o Estado devem pagar as dívidas. É essa concretização. Mas se é a vossa ideia…Falou na candidatura dos mais pobres. Quais têm sido os problemas que as pessoas mais vos transmitem?
Os desempregados, por exemplo. Um dos desempregados, com quem a gente contactou, ficou sem o carro, sem a casa, não tem trabalho… praticamente vive das esmolas dos pais, da mulher, que trabalha a dias.
Os problemas são o emprego, o comer, vê-se gente a dizer que não têm dinheiro para comer, vê-se um desânimo terrível, não têm perspectivas e não vêem ninguém a criá-las. É um desassossego terrível que se passa com esta gente.

Além da falta de bens essenciais é a falta da esperança?
Exactamente.
Deveríamos também exigir a máxima autonomia para o povo. Os limites são as Forças Armadas e a representação externa.
Gostava também de levantar outra questão. Vivemos durante 40 anos num regime cripto-fascista, em que as pessoas não falam contra o Governo com medo das represálias e defendemos a democracia verdadeira com liberdade de direitos e em que os cidadãos sejam ciosos dos mesmos.

Mas se não encontraram medo na constituição das listas, como é que existe medo de represálias por falar?
Era o que eu dizia atrás, de que havia mudança.
Há mudança e é preciso continuar…
Exactamente. É preciso acabar de vez com o medo. Para isso é preciso que o povo abra os olhos e não pense que o ‘miguelismo’ já não é o ‘jardinismo’. É a continuidade do ‘jardinismo’, que o ‘miguelismo’ vai aplicar. Foi amigo do ‘jardinismo’, foi subserviente do ‘jardinismo’, foi quadro dele e vai continuar.

O maior risco democrático na Madeira é essa continuidade de ‘mais do mesmo’?
Sem dúvida nenhuma, a cara muda-se, mas a política mantém-se. Não tenha dúvidas.
Atrás deles está o outro que pensa que consegue resolver o problema, que é o caso do CDS, que está a tentar pescar em águas turvas do PPD. O que é que um e outro fizeram em prol da liberdade e democracia do povo madeirense? Praticamente nada.
No desenvolvimento económico, temos uma estrutura baseada na hotelaria e no turismo, mas com dinheiros públicos para esse sector, como as festas do Pêro, da Vindima e do Carnaval. O que cá fica é muito pouco.
A Madeira não deve ter só uma indústria e industrializar-se com indústrias leves não poluentes. Queremos que se instalem energia eléctrica renovável, design, vestuário. Devemos aprender com as ilhas do canal sendo os apoios da Região a nível fiscal, como a isenção do IRC, durante um largo período de tempo, para que criem empregos e paguem salários.

Pedia-lhe sucintamente, mais algumas ideias-chave.
Nas pescas, os governos regional e nacional aceitaram vender os barcos e agora não temos nada para pescar.

É possível voltar a apostar nas pescas e na construção de barcos e dar voz aos pescadores?
Sim. Qual foi a política que os partidos, na ALM, desenvolveram no apoio aos pescadores? Praticamente nada.
O problema da ‘xara’. Agora vieram todos dizer ‘aqui del rey’, mas o problema é que a União Europeia aprovou há dez ou 15 anos e agora é que eles se lembraram.
A ministra, que é o CDS, só agora é que se lembra e manda bocas ao representante que tem cá… é tudo uma falsa questão. A Cristas não fez nada, nem na agricultura.
E nas Selvagens? Ela e o Aguiar Branco estão a enterrar e a vender as Selvagens aos espanhóis. Eles querem tirar-nos as Selvagens e eles alinham. Veio aqui o Branco e o que é que ele veio aqui fazer? Gastar dinheiro do erário e dizer: estejam descansados que vamos entregar as Selvagens aos espanhóis. Não tenham dúvidas quanto a isso. Esta história do Aguiar Branco é por causa do petróleo e do gás natural, que estão lá, e para abocanhar a quota marítima que lhes interessa e de que maneira.

Um último ponto. Como é que vai ser a campanha do PCTP, contacto directo com o povo?
Exactamente. Vamos trabalhar em inquéritos nos sectores mais críticos, ver o problema dos guardas florestais, dos bombeiros… O que fizeram com o dinheiro que veio do continente sobre as cheias, a 20 de Fevereiro. Correr essas casas, falar com essa gente, saber o que fizeram ao dinheiro. Esse dinheiro todo. Um milhão… quanto é que foi?

Mil e 80 milhões.
Exactamente. O que é que fizeram a esse dinheiro? Foi para a Marina do Lugar de Baixo? Para sustentar os amigalhaços do senhor Cunha e Silva? Ninguém fala sobre isto.

Por acaso, se há tema que é falado é o da Marina do Lugar de Baixo.
O que é que o Albuquerque vai dizer sobre isso?

Mas gostaria de saber como vai ser a campanha. Vão ter cartazes?
Sim. Ainda não estão fixados, mas vamos ter, com as ideias-chave da campanha.



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