CampanhaFundos202206

IBAN PT50003502020003702663054   NIB 003502020003702663054

PAÍS

As Primárias do PS

Nas eleições internas de ontem para a escolha do candidato do Partido Socialista a primeiro-ministro, António Costa, o desafiante, com 68% dos votos expressos, esmagou António José Seguro, o desafiado, que logrou apenas 32% da votação.

Costa, um sujeito de maus fígados que, no seu discurso de vitória, não encontrou espaço para uma palavra de homenagem ao seu adversário, embandeirou em arco com os seus acólitos pela noite fora, mas seria melhor que tivesse ficado calado, pois mal sabe o que o espera.

Contra a corrente, como é meu hábito, aí ficam os meus comentários sobre o que ninguém parece ter visto na noite de ontem.
 

1. O Fiasco das Primárias

Inscreveram-se, exclusivamente para votar nas primárias do PS, 248 475 cidadãos, dos quais, em números redondos, 90 000 militantes e 150 000 simpatizantes, números, como todos os que neste texto se reportarem ao partido socialista, extraídos do sítio informático do PS (www.ps.pt).

Se Costa, em vez da rábula de devolver à assistência do Forum Lisboa o cravo vermelho que Seguro o acusa de lhe ter roubado, olhasse bem de frente para aqueles números, mesmo não sendo muito inteligente, haveria de perguntar-se: se se inscreveram expressamente para votar nas primárias 248 475 militantes e simpatizantes, por que é que só votaram 174 516, ou seja, por que é que não votaram 73 909 simpatizantes e militantes?

Ou, ainda de outra maneira: por que é que só votaram 70% dos inscritos e por que é que não votaram 30% dos que se deram ao trabalho de se inscrever para votar nas primárias?

A resposta é simples, e assim a queira entender o fugaz vencedor da noite: 30% dos socialistas, que se inscreveram com o propósito de votar ou em Costa ou em Seguro, não votaram em nenhum deles, abstiveram-se, porque, no decurso da campanha, nenhum dos candidatos mostrou ter um programa político capaz de resolver os ingentes problemas do nosso País e do nosso Povo, isto é, um programa político capaz de merecer os seus votos!

Não vou aqui vangloriar-me de que os 30% de abstencionistas seguiram porventura o conselho que lhes facultei no meu escrito sobre os Dupond e Dupont portugueses, mas a verdade é que 75 000 dos inscritos, propositadamente para votar, propositadamente não votaram!...

Seria bom que Costa entendesse a mensagem clara desses 75 000 não votantes: eles são a esquerda do partido socialista, os homens e mulheres da classe operária e da juventude trabalhadora e estudantil que, com os seus próprios olhos, puderam certificar-se, durante toda a campanha eleitoral das primárias, que nem Seguro nem Costa são candidatos da esquerda.

Neste sentido, as primárias foram um fiasco também para Costa. Trinta por cento do eleitorado do PS poderá não votar em Costa nas próximas eleições legislativas. Ver-se-á!
 

2. Porque é que Seguro caiu?

Nos dias 27 e 29 de Maio passado, já lá vão mais de quatro meses, logo após a contagem dos votos das eleições europeias, publiquei neste jornal dois artigos que traçaram, com enorme antecedência, o destino de Seguro.

No primeiro artigo, com o título Seguro Ganhou ou Perdeu as Eleições?, mostrava como o então secretário-geral do PS tinha saído completamente derrotado no acto eleitoral para o parlamento europeu; e no segundo, com o título Porque é que Seguro Caiu?, mostrava que o secretário-geral do PS estava definitivamente enterrado, desde o dia 29 de Maio de 2014.

E foi o que acabou por acontecer…

Resumirei os actos políticos essenciais que levaram à derrocada de Seguro ontem, mas já prevista há mais de quatro meses, porque são fundamentalmente os mesmos que levarão à derrocada de Costa, o vencedor de ontem, mais mês menos mês.

O mais grave de todos os erros de Seguro foi a sua total incapacidade de criticar, sem ambiguidade, a política de Sócrates no Poder, que arrastou o País para a situação em que se encontrava em 2011. Costa, que foi o número dois do governo socratista, tem seguido até agora o mesmo caminho e prepara-se para continuar a política de Sócrates, muito embora com algumas breves alterações.

Seguro caiu, porque sem sequer ter exigido a submissão a referendo, assinou, com o governo de Passos Coelho/Portas, o Tratado Orçamental, que liquidou totalmente a possibilidade de salvar o País da dívida. Costa vai pelo mesmo caminho.

Seguro e todo o grupo parlamentar do PS abstiveram-se na votação do primeiro orçamento de Vítor Gaspar, atitude com a qual, na altura, Costa concordou.

Seguro opôs-se a que os deputados do PS requeressem a fiscalização constitucional daquele orçamento e, na ocasião, Costa não se demarcou de Seguro.

Seguro, com o correr do tempo, tornou-se num lacaio de Cavaco, que chegou a negociar com o presidente umas eleições antecipadas para Junho deste ano, caso Seguro aprovasse os orçamentos rectificativos de 2013.

Costa não chegou a tanto, mas, se algum dia entrar em São Bento, irá negociar com o PSD (talvez de Rui Rio) uma revisão da Constituição e liquidará, em nome de uma pseudo-reforma, o chamado Estado Social, ou seja, o Serviço Nacional de Saúde, a Segurança Social e o Ensino Público.

Seguro pretendeu impor uma nova lei eleitoral, que eliminaria a representação parlamentar da esquerda, mas Costa tem também uma lei dessas em carteira.

Finalmente, e para ficarmos apenas pelo principal, Seguro foi até ontem um lacaio das instituições europeias e do capitalismo alemão, caminho para onde irá seguir o Costa.

Bem vistas as coisas, Seguro caiu pelos mesmo motivos pelos quais cairá, mais dia menos dia, o Costa.
 

3. Costa, o Calado…

Costa conseguiu a proeza de ver-se eleito candidato do PS a primeiro-ministro, sem prometer uma única medida concreta aos seus eleitores.

Costa foi eleito abanando, mas só para depois das eleições primárias, uma agenda para a década. Claro que o actual presidente da câmara de Lisboa nunca concretizou a sua agenda para a década. Mas é fácil perspectivar o que seja.

Como a década, em 2015, já irá a meio, a agenda oculta de Costa é para cavalgar duas décadas: a década de dez e a década de vinte do século XXI. No fundo, são os tais trinta anos de que falou Cavaco no prefácio do VIII volume dos seus discursos de analfabeto, o tal prefácio que sustenta que Portugal só pode chegar a pagar a dívida em trinta anos, se todos os anos crescer 4% ao ano o seu produto interno bruto…

É claro pois que a agenda do Costa para a década é a agenda para pagarmos a dívida externa no número de décadas que forem necessárias. Não é nem será uma agenda para o desenvolvimento; é uma agenda para o empobrecimento e para a austeridade.

Com Costa ter-se-ia mais impostos – notem que Costa nunca disse, ao contrário de Seguro, que não aumentaria os impostos, se fosse primeiro-ministro.

Costa pensa chegar às próximas eleições legislativas, provavelmente em Setembro de 2015, sem se comprometer com as medidas essenciais reclamadas pelo povo: restituição dos cortes da segurança social, restituição dos salários cortados e roubados, escola pública gratuita, serviço nacional de saúde gratuito para os trabalhadores, pobres e idosos e revogação do código do trabalho, com regresso ao código anterior.

Costa é o nosso Hollande. Trinta por cento dos militantes e simpatizantes do PS já perceberam isso, e abstiveram-se nas primárias de ontem.

Costa quer uma maioria absoluta para poder formar um governo de direita sozinho, como aconteceu com o primeiro governo Sócrates.

Mas, se não tiver – como não irá ter – a maioria absoluta, aliar-se-á ao PSD.

A questão que a partir de hoje os socialistas devem pôr a Costa e obrigá-lo a responder é a de saber se Costa estará ou não disposto a mandar às ortigas a sua agenda para a década (qual década?) e a maioria partidária de um só partido, substituindo essa tralha reaccionária por uma frente democrática e patriótica, unindo todas as pessoas e forças políticas susceptíveis de serem unidas na luta contra a direita e para salvaguardar a independência, a democracia e o desenvolvimento económico do País, com repúdio total da dívida.

Costa tem de ser vivamente combatido desde já, tal como o fizeram os 30% de militantes e simpatizantes socialistas que não quiseram nem Costa nem Seguro.

Costa é um perigo para a democracia, a independência e o desenvolvimento económico e social de Portugal.

Vai manter-se calado o mais que puder, para poder enganar toda a gente. Temos de o desmascarar, sem dó nem piedade.
 

4. A Inconstitucionalidade das Primárias

Tal como resulta da Constituição, a democracia portuguesa é uma democracia de partidos políticos. Os partidos definem, nos seus órgãos próprios, designadamente os congressos, a sua política e o seu programa, escolhem os seus representantes e participam nos actos eleitorais previstos na Constituição da República e nos Estatutos Regionais.

São os militantes, nos respectivos órgãos, quem dirige e formula a política partidária. Não são os simpatizantes.

Nas eleições primárias de ontem, pode ter-se dado o caso de o candidato a primeiro-ministro ter sido escolhido pelos simpatizantes contra os militantes. E isso seria a condenação fatal do regime partidário consagrado na Constituição.

Os partidos do arco da traição – PS, PSD, CDS – que têm dirigido o País nos últimos trinta e sete anos, são execrados pelas massas populares, porque sempre as enganaram, aldrabaram e roubaram.

Percebe-se que esses partidos, cada vez mais isolados das massas, recorram a todos os subterfúgios para as trazer aos partidos que elas abominam cada vez mais.

Mas a Constituição não prevê esse sistema de primárias, nem o pode nunca legitimar.

Tal como foram postas em prática por Seguro e pelo PS, as primárias são a negação dos partidos.

Seguro já estará em casa a lamber as feridas como cão abandonado, pois bem sabe que Costa não foi eleito pelos militantes do PS, mas sobretudo pela tribo dos seus simpatizantes da undécima hora.

Seguro já aprendeu a lição. O próximo a aprendê-la será o Costa.

Mas lá que as primárias são inconstitucionais, são sim senhor!


Espártaco

Leia também:
DUPOND E DUPONT
Porque é que Seguro Caiu? 
Seguro Ganhou ou Perdeu as Eleições?

 

pctpmrpp 01

 

Partilhar

Comentários   

 
# Carlos Pais 01-10-2014 17:07
O Gandhi de Lisboa? Ficarei à espera de conhecer as suas promessas eleitorais porque ninguém as conhece.
 

Adicionar comentário


Código de segurança
Actualizar

Está em... Home País POLÍTICA GERAL As Primárias do PS