PAÍS

Louçã, o Palhaço

Nos últimos vinte e cinco anos, nunca houve ninguém em Portugal que fosse tão mimado, tão incensado, tão elogiado, tão lambido, tão levado ao colo e tão carregado em ombros de tudo o que é jornalista e órgão de comunicação social como esse tal de Francisco Louçã.

Com toda a imprensa burguesa, reaccionária em extremo como se sabe, a empurrar por trás, Louçã foi posto à cabeça de um bloco de oportunistas, baptizado de Bloco de Esquerda, de que se safou logo que pôde, foi levado a deputado da Assembleia da República e até foi colocado numa cátedra ali para os lados de São Bento, no Instituto Superior de Economia e Gestão, sem que ninguém se tivesse apercebido a tempo de que o homem não só não era de esquerda como não passava de um ignorante em matéria de economia e de finanças.

A imprensa tem andado tão babada com o seu menino-prodígio que, no mês passado, enquanto celebrava os quarenta anos do golpe de Otelo e dos seus capitães, foi ao ponto de transformar à sorrelfa o paizinho de Louçã num dos heróis de Abril, quando toda a gente sabe que foram os marinheiros e sub-oficiais da fragata Almirante Gago Coutinho, por um lado, e os obuses da bateria de artilharia de Vendas Novas, colocada no Cristo Rei, em Almada, por outro, quem impediu o comandante – capitão de fragata Seixas Louçã – de bombardear os homens e os carros de Salgueiro Maia no Terreiro do Paço.

Mas a basbaquice da imprensa por Louçã é de tal ordem que não lhe custa nada homenagear como herói de Abril um fascista do antigo regime, desde que seja familiar do sobredito Louçã...

Ora, este produto acabado do jornalismo português de pacotilha – Louçã - de forma indirecta, e durante a presente crise, levantou-se contra o PCTP/MRPP aí por 2012, ao acusar uma das fracções do Bloco de ter cometido o crime de seguir o nosso Partido, ao defender o não pagamento da dívida e a saída do euro.

Desde que, em 16 de Junho de 2012, atacámos, numa conferência realizada na cidade do Porto, o Syrisa e o seu aliado português – o BE -, por não se atreverem a defender a saída do euro e o não pagamento da dívida, Louçã não tem feito outra coisa senão escrever, só ou acompanhado, resmas de papel que têm um único objectivo: explicar como se deve pagar honradamente a nossa dívida, de modo a mantermo-nos no Euro e na União Europeia a todo o custo.

Mas eis que, no último domingo, na Mesa Nacional do Bloco de Esquerda, Louçã terá admitido, segundo notícia circulada pelo jornal i, que “a saída do euro pode mesmo tornar-se na única solução para o País”.

Não acredito! Será possível que o animal tenha dito semelhante coisa?!

Mas acho que sim. Disse mesmo!

É que Louçã não passa de um palhaço! Até domingo passado, Louçã sempre defendeu a permanência de Portugal no euro e o pagamento honradinho e integral da dívida pública.

Começou, aliás, por defender, no consulado de Guterres, a adesão de Portugal à moeda única, muito embora criticasse as negociações da adesão, que teriam prejudicado o País. “Mas essa entrada era inevitável”, alegou então o catedrático Louçã.

Em Maio de 2011, fez agora três anos, numa troca pública de ideias com Jerónimo de Sousa, Louçã, com aquele ar de convicta certeza que nunca abandona mesmo quando diz as maiores alarvidades do planeta, pretendeu ter esmagado, com a sua autoridade professoral, o pouco ilustrado Jerónimo, atirando-lhe a matar: "Recuso a saída do euro, porque isso seria catastrófico"; "Ficaria tudo mais caro, desvalorizaria salários e pensões e faria com que as pessoas que têm créditos à habitação passassem a pagar muito mais".

Não se encontraria em parte alguma da Europa um pequeno-burguês mais explícito...

A saída do euro era pois “inaceitável”.

Em Março de 2012, Louçã publicou, em colaboração com a discípula Mariana Mortágua, um livro com 240 páginas, intitulado "A Dividadura – Portugal na crise do euro”, a explicar por que é que Portugal não podia nem devia sair do euro, e acrescentando uma estreia mundial em matéria de imaginação: "Portugal estava a ser empurrado para sair do euro pelos idiotas úteis da senhora Merkel"...

Nem mais! A Alemanha é que queria empurrar-nos, a nós e à Grécia, para fora do euro... A Alemanha, que enriqueceu os seus bancos com a dívida gerada pelo euro na destruição da economia portuguesa!

Naquela altura, a palavra de ordem do palhaço Louçã era esta: resistir, resistir, resistir à saída do euro!

Sair do euro era, segundo o catedrático do Quelhas, fazer cair sobre os portugueses os pesados encargos da crise; sair do euro, "era socializar as perdas gigantescas do capital financeiro". Sair do euro era uma catástrofe!...

Na Dividadura, escreveram Louçã e Mortágua:"sair do euro é a pior de todas as soluções e só pode ser imposta por vontade do directório europeu", em suma, por vontade da Alemanha.

Muito embora admitindo na Mesa Nacional do Bloco de Esquerda do último domingo que a saída do euro pode mesmo tornar-se na única solução para o País, Louçã não sentiu necessidade de justificar este completo virar de casaca da sua tão arreigada política da não saída do euro.

Compreende-se que Louçã não tenha acrescentado mais nada, porque tudo quanto pudesse e devesse acrescentar só faria dele um palhaço ainda mais inarticulado. É que tudo se centraria na questão da dívida, se Louçã quisesse apresentar as devidas explicações pelas quais se transformou no domingo passado, para usar as suas próprias palavras, num idiota útil de Frau Merkel...

Há três anos que Louçã vive sob o pesadelo da dívida. Ele próprio escreveu em Novembro de 2011, pouco depois da Tróica ter tomado Portugal de assalto:
"Cuidado com o monstro. A dívida pública portuguesa é grave e perigosa, e a dívida dos bancos é igual à dívida do Estado".

Nesta altura, Louçã ainda não se lembrara de juntar ao monstro, a dívida das empresas públicas e a dívida das autarquias, porque então o monstro não o deixaria dormir um único dos últimos dias da sua vida.

Damos de barato que Louçã, tendo sido levado à cátedra ao colo dos jornalistas e aos ombros dos órgãos de comunicação social, não passará de uma nulidade académica; mas bastar-lhe-ia saber somar e conhecer os números do produto interno bruto português, mais os cinco artigos do tratado orçamental, para poder extrair a conclusão de que a dívida pública portuguesa – o monstro (note-se que a palavra foi, nesse sentido, usada pela primeira vez em Portugal por Cavaco, sendo muto significativo da sua matriz ideológica que Louçã a tenha adoptado sem rebuço) – era totalmente impagável.

Qualquer analfabeto, mesmo que se chamasse Louçã, era obrigado a extrair esta conclusão da natureza e alcance da nossa dívida em 2011, quando a Tróica aqui chegou para impor o cumprimento do memorando de entendimento, e não precisaria de esperar pelo último domingo, quando a dívida pública alcançou o tecto inimaginável de 226 mil milhões de euros, 140% do produto interno bruto.

Em suma: em 2011 não poderia haver um único português que não tivesse o dever de concluir que a dívida pública não poderia ser paga por um país com a nossa economia, e obrigado a cumprir os tratados e acordos europeus.

Ora, nos últimos três anos, ao mesmo tempo que abandonou a direcção do Bloco e prepara intensamente a ocupação de um bom tacho nas instituições económico-financeiras internacionais ao lado do primo Gaspar, Louçã tudo tem feito para mobilizar o País para o pagamento da dívida e permanência no Euro.

Em Abril passado assinou, com mais 74 subscritores, o Manifesto dos Cretinos, propondo, em plena campanha eleitoral europeia, a reestruturação da dívida, com vista ao seu pagamento.

Ainda nas vésperas do sufrágio eleitoral para o parlamento europeu, Louçã subscreveu um manifesto intitulado Um Outro Caminho Para a Europa, produzido por uma auto-designada Rede de Economistas Progressistas Europeus – abreviadamente Europen – em que propugnava não apenas a continuação de Portugal na zona Euro, como o reforço de toda essa zona, com um imposto comum europeu para os lucros de todas as empresas e um parlamento exclusivo para a zona do Euro...

Mas eis que quinze dias depois de defender o euro com unhas e dentes, vem agora dar o dito por não dito e avançar com a doutrina da saída de Portugal do euro, sem todavia conceder aos seus irmãos mesários uma explicação, sumária que fosse, para uma tal mudança de atitude.

Há demasiados pinóquios na política portuguesa. Sócrates, Coelho, Portas, Seguro, Louçã, avançam hoje com uma proposta política e amanhã com a proposta contrária. Como pode o povo acreditar em tais palhaços?!

Esta crítica dirige-se, como é evidente, aos dirigentes políticos que, no mesmo contexto global, avançam com uma política hoje e amanhã com o seu contrário. O que é inadmissível é que um dirigente político, do Bloco ou de quem quer que seja, ande três anos a pedir-nos que paguemos a dívida pública e nos mantenhamos na zona euro, insultando como idiotas úteis de Ângela Merkel, políticos, entre os quais se contam dirigentes políticos competentes, estudiosos e sérios, que lutam denodadamente pela saída do euro e pelo não pagamento da dívida, e vem, sem qualquer autocrítica e sem pedir desculpas, atacar a luta desses políticos, que afinal sempre tiveram razão.

Crítica que não é nem tem de ser endereçada aos homens e mulheres do povo que, cada vez em maior número, vêm aderindo às teses revolucionárias do não pagamento da dívida e da saída do Euro, como forma de resolver os problemas postos ao povo pela miséria da política austeritária da Tróica e seus lacaios.

Durante três anos, através de livros e em toda a espécie de actividade política, Louçã e o Bloco empurram uma parte dos trabalhadores portugueses para os braços do governo de traição nacional Coelho/Portas, para os braços da Tróica, de Gaspar e de Durão Barroso, tudo porque para o Bloco e para Louçã, fundamental era pagar a dívida, determinante era permanecer no Euro.

Afinal, em que ficamos, ó Palhaço?!

Seja como for, a derrota da política de Louçã e do Bloco sobre a dívida pública e sobre o Euro representa uma importantíssima vitória para o actual movimento democrático e patriótico português.


Espártaco