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Partido

Manifesto do Partido Comunista - Notas de Estudo     por Arnaldo Matos

 

XII

 

Nas Notas de Estudo sobre o Manifesto do Partido Comunista até agora publicadas, o nosso Jornal tem dado a conhecer, com justo relevo, a grande importância do movimento revolucionário do proletariado europeu na primeira metade do séc. XIX, ligando o surgimento do Manifesto ao progresso revolucionário da classe operária e à primeira revolução industrial. Mas, no campo teórico, já eram conhecidas as ideias fundamentais do Manifesto, ou aparecem aí pela primeira vez?

 

A resposta à questão suscitada remete directamente para o preâmbulo do próprio Manifesto. Esses pequenos seis parágrafos que compõem a página 47 do livro da Editora Bandeira Vermelha merecem mais atenção do que a leitura rápida que geralmente lhes dedicamos: “um espectro ronda a Europa: o espectro do comunismo”.

No fundo, o que Marx e Engels nos querem dizer naquele pequeno prólogo é isto: vivemos numa Europa onde rebentam revoluções, levantamentos e insurreições quase todos os dias; todos os partidos, os do poder e os da oposição, acusam-se uns aos outros de comunistas; todas as forças da velha Europa se uniram numa Santa Aliança para derrotar os comunistas; ora, se toda a gente reconhece que o comunismo é uma força, então cabe aos autênticos comunistas dizerem, perante o mundo inteiro, o que é o comunismo, e isso é o que hoje farão com a publicação do seu Manifesto do Partido Comunista.

O Manifesto aparece pois como a primeira declaração de princípios do comunismo científico contra o comunismo utópico e o socialismo reaccionário. E aparece enquanto programa simultaneamente teórico e prático de um partido: o partido da classe operária, ou melhor dito, o partido do proletariado, quer dizer, da classe operária consciente da sua missão histórica, como classe em si e para si.

Primeira síntese global dos princípios do comunismo científico, mesmo assim esses princípios não aparecem de chofre e pela primeira vez no Manifesto do Partido Comunista, visto que o sistema teórico desses princípios já havia sido formulado por Marx, algumas vezes em escritos conjuntos com Engels, antes da edição do Manifesto em fins de Fevereiro de 1847.

Como já o aflorámos noutra Nota, a primeira formulação do comunismo por Marx surge nos Manuscritos Económico-Filosóficos – também conhecidos como Manuscritos de Paris – redigidos entre Abril e Agosto de 1844, na capital francesa, quase três anos antes da publicação do Manifesto e num tempo em que ainda não se havia proporcionado o famoso primeiro encontro com Engels, em Bruxelas. Os Manuscritos Económico-Filosóficos, todavia, só vieram a público em 1923, na então União Soviética, e têm constituído um dos mais discutidos e comentados textos fundadores do marxismo.

O mais longo dos três cadernos dedicados à economia política contém os primeiros estudos de Marx sobre a alienação do trabalho – o trabalho assalariado – em todas as suas formas, mas sobretudo quanto à alienação no produto, no processo e no objecto do trabalho no sistema capitalista. O comunismo é abordado sobretudo no terceiro manuscrito.

Marx interrompeu a redacção dos Manuscritos para enfrentar as exigências práticas das lutas sociais nos círculos revolucionários alemães em França, que haviam entretanto criado a Liga dos Justos, a que Marx pertenceu.

Marx desencadeou então, mas agora conjuntamente com Engels, um ataque fulgurante e impiedoso, num estilo sarcástico demolidor, contra as concepções erróneas idealistas dos seus amigos Jovens Hegelianos, num livro publicado em Francoforte, em 1845, com o título A Sagrada Família e o subtítulo A crítica da crítica crítica.

Marx punha a nu o oportunismo daqueles ideólogos pequeno-burgueses que depositavam esperanças na burguesia liberal para a condução do movimento revolucionário na Alemanha, lembrando que, para a realização das ideias justas, era preciso uma força política nova que as impusesse, que essa força só poderia ser o proletariado e que a nova ordem seria o comunismo.

A Sagrada Família não foi um livro de grande sucesso na altura. Porém, Lenine, mais tarde, salientaria a influência desta obra que, na sua muito justa opinião, lançou as bases para o que veio a ser – precisamente no Manifesto – o comunismo científico revolucionário materialista.

Na próxima Nota, continuaremos a examinar onde e como surgiram os princípios teóricos que constituíram a essência do Manifesto do Partido Comunista.

 

 12.03.2016

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