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Manifesto do Partido Comunista - Notas de Estudo     por Arnaldo Matos

 

XI

 

Publicado em Fevereiro de 1848, parece evidente a influência do movimento operário europeu das décadas de 30 e de 40 do século XIX no pensamento de Marx e de Engels e na redacção do Manifesto, como se viu nas notas de estudo anteriores. Mas a questão que agora se põe é esta: teve o Manifesto alguma influência nas grandes revoluções europeias de 1848 e 1849?

 

Manifesto, por um lado, é o produto das mesmas contradições económicas, sociais, políticas e culturais que geraram as revoluções europeias em 1848 e 1849, e, por outro lado, desempenhou um certo papel político junto da classe operária, que participou em todas essas revoluções, muito embora não fosse a única das teorias socialistas que as agitaram.

Em 1848 e 1849, a Europa inteira foi acossada por um poderoso movimento revolucionário à escala de todo o continente. Tratou-se de um movimento revolucionário global, de carácter liberal e nacionalista, com uma participação muito activa mas desigual dos proletários de todos os países europeus, movimento revolucionário que resultou da junção da crise económica generalizada do antigo regime com a primeira grande crise – de crescimento – do novo regime capitalista, perante as primeiras dificuldades de expansão.

O movimento revolucionário europeu de 1848 e 1849 ficou conhecido como a Primavera dos Povos e saldou-se por mais de 50 revoluções, insurreições, sublevações e levantamentos que, em poucos meses, eclodiram em quase todos os países da Europa continental.

Primavera dos Povos começou com a revolução de Paris, de 23 de Fevereiro de 1848, a que se seguiu a revolução de Estugarda, no dia 29. A 2 de Março, em Munique; a 3, em Breslau, a 7, em Berlim; a 11, em Praga, exigindo a independência da Checoslováquia; a 12, em Budapeste, a reclamar a independência da Hungria; a 15, tentativa de assalto ao palácio imperial em Viena; a 18, a revolução de Milão e a proclamação da República de São Marcos, em Veneza; no mesmo dia ainda, os polacos revoltaram-se em Pozman e os romenos reúnem a sua assembleia nacional; a 26, em Madrid e a 29 em Barcelona. A 25 de Abril, erguem-se barricadas em Cracóvia; a 15 de Maio, insurreição em Nápoles; e de 26 a 28, jornadas de luta nas ruas de Viena. No mesmo dia, levantamento em Dublin; a 12 de Junho, nova insurreição em Praga e a 23, outra revolução em Paris.

E até em Portugal, José Estêvão, Oliveira Marreca e Rodrigues Sampaio organizaram a Conspiração das Hidras, que ganhou este curioso nome pelo facto de que cada vez que um dos seus membros era preso, logo surgiam dois ou três outros companheiros para ocupar o seu lugar.

Este era o espectro que rondava a Europa, o espectro do comunismo, adivinhado por Marx e Engels no preâmbulo do seu Manifesto.

Não é possível examinar aqui todas as lições deste espectacular movimento revolucionário, onde o proletariado dos países europeus participou activamente e que, em parte, foi derrotado às mãos de Guizot e de Metternich, tal como parece que Marx e Engels adivinhavam no parágrafo primeiro do Manifesto…

Note-se que é a novidade de um movimento revolucionário global dos operários, naquela altura de todas a nações da Europa, que leva Marx e Engels à formulação antecipada da notável síntese ideológica fundamental do internacionalismo proletário: proletários de todos os países, uni-vos!, chave com que fecha o texto do Manifesto.

 

09.03.2016

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