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COVID-19: Anatomia de um crime anunciado!

Primeiro colocaram em causa os números que denunciámos no nosso artigo – Prossegue a política assassina do confinamento – suavizado ou não! – relativo ao número de consultas, cirurgias e tratamentos oncológicos que foram suspensos por determinação da DGS e do Ministério da Saúde, no quadro da “emergência sanitária” provocada pelo COVID-19.

Numa notícia da RTP1, emitida no seu telejornal do passado dia 22 de Maio, e a propósito de uma audição à Ministra da Saúde, Marta Temido, na Comissão Parlamentar de Saúde, esta, dirigindo-se aos deputados dos vários partidos com representação naquela Comissão, revelava, sem filtros, números que demonstravam que a haver qualquer exagero da nossa parte, era por defeito e não por excesso.

Depois, acusaram-nos de alarmistas por termos evidenciado que aquelas decisões tinham provocado um outro tipo de pandemia, não COVID-19, responsável por 4 mil mortes a mais do que em período homólogo do ano passado.

Pois bem, é um estudo publicado na revista científica da Ordem dos Médicos que esclarece que o número de mortes registado em Portugal pode chegar a um valor que representa cinco vezes mais do que aqueles que foram atribuídos ao COVID-19. Números que, como tem sido óbvio, nada têm a ver com os “dados oficiais”!

Os autores do supracitado estudo, publicado pela supracitada revista, e que foi levado a cabo por especialistas do Instituto de Medicina Preventiva e Saúde Pública e do Instituto de Saúde Baseada na Evidência, da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa que alertam, desde logo, para o facto de “o excesso de mortalidade de Março e Abril” não poder “...ser comparado com Fevereiro, nem sequer com os anos homólogos”, mas antes “ter como referência os meses de férias”, durante os quais se regista uma redução de actividade e circulação de pessoas e uma queda da mortalidade por acidentes de viação.

Um dos autores do estudo, António Vaz Carneiro, considera que “...o estado de emergência em que Portugal tem estado levou a várias medidas restritivas com impacto, por exemplo, na redução da mortalidade por acidentes de viação ou de trabalho e também a uma quebra no número de outras infecções características desta época do ano ou de alturas de menor isolamento social, que devem ser descontadas dos resultados analisados”.

Por isso, conclui este autor, “...o número de mortes a mais identificadas é ainda maior do que se pensava, ao não se considerar esta quebra nos óbitos na estrada ou de trabalho”

O que é relevante, é o facto de este estudo agora divulgado apresentar dados muito superiores aos estimados, na semana anterior a este estudo, pelo Barómetro COVID-19, da Escola Nacional de Saúde Pública que, mesmo assim, já havia apontado para um excesso de mortalidade de 1255 óbitos, dados que, no entanto, só contemplavam o período entre 16 de Março e 14 de Abril.

Ora, no estudo agora publicado na Acta Médica, a revista científica da Ordem dos Médicos, os seus autores utilizaram bases de dados públicas para estimar o excesso de mortalidade por idade e região, entre os dias 01 de Março e 22 de Abril, e propuseram níveis ajustados ao período de estado de emergência em vigor, tendo concluído que tudo apontava para um excesso de mortalidade entre 2400 e 4000 mortes.

Uma das conclusões que se pode inferir deste estudo é a de que, dado o espaço temporal limitado a que se reporta, quanto mais prolongado no tempo for o estudo, e não se tendo registado, no essencial, qualquer alteração do quadro que, segundo os autores, terá levado a este excesso de mortes, maior será o excesso de mortes a registar num futuro próximo.

Outros números igualmente preocupantes indicados por este estudo e que, segundo os seus autores podem “justificar” este excesso de óbitos, são os seguintes:

•    Entre 1 de Março e 22 de Abril houve menos 191 666 doentes com pulseira vermelha nos hospitais
•    Menos 300 159 com pulseira laranja
•    E menos 160 736 com pulseira amarela

Não surpreende pois que, tendo como referência a mortalidade nas 24 a 48 horas após a admissão nos hospitais antes da pandemia, “...estas quebras correspondem a um potencial de pelo menos 1291 mortes, sendo 79 em doentes triados com pulseira vermelha, 1206 com pulseira laranja e 6 com pulseira amarela, conclui o estudo.
Com “...uma quebra colossal no número de doentes que vão à urgência...”, como denuncia o Bastonário da Ordem dos Médicos, a que não será alheio o facto de se terem registado em Março deste ano menos 246 mil episódios de urgência – por comparação com período homólogo do ano passado –, a combinação entre as decisões da DGS e do Ministério da Saúde em suspender consultas médicas e de enfermagem hospitalares, cirurgias e tratamentos oncológicos, e o medo induzido nos utentes sobre o risco que corriam ao dirigir-se às urgências das unidades hospitalares de referência, em serem infectados por COVID-19,foi certamente responsável por este quadro criminoso.
António Vaz Carneiro, um dos autores do estudo que estamos a citar, conclui de forma brilhante e assertiva que “...para qualquer plano futuro imediato do Serviço Nacional de Saúde, temos de passar da gestão de risco da infecção covid, para uma gestão de risco global (covid e não-covid) para evitar este excesso dramático da mortalidade”. Apesar de, no essencial, estarmos de acordo com esta apreciação, não poderemos deixar de reafirmar o princípio que há muito defendemos de que, não será com quem provocou o problema que se encontrará a solução.
Pelo que reiteramos a imperiosa e urgente necessidade da demissão, quer de Graça Freitas, Directora-Geral da Saúde, quer da ministra que tutela a DGS, a Ministra da Saúde Marta Temido.

26Jun2020

LJ

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