INTERNACIONAL

Guerra do Povo à Guerra Imperialista

No seu blogue Que o Silêncio dos Justos não Mate Inocentes, o camarada Luís Júdice publicou um ensaio de enorme actualidade sob o título Guerra do Povo à Guerra Imperialista, chamando a atenção para o facto de que no mundo actual as guerras imperialistas se desenvolvem em duas frentes inevitavelmente: na frente dos países coloniais e semicoloniais agredidos e no interior do covil dos próprios imperialistas. Em qualquer dessas frentes, a guerra movida pelo imperialismo transformar-se-á em guerra civil revolucionária, que conduzirá à libertação dos povos oprimidos pelo imperialismo, à libertação da classe operária e a destruição do imperialismo.

Júdice ataca os oportunistas e revisionistas que acham que os operários devem defender o imperialismo e condenar como terroristas os actos de guerra levados a cabo no interior do próprio Estado imperialista, como sucede com os liquidacionistas de Garcia Pereira e Conceição Franco, hoje agentes claramente assumidos dos próprios imperialistas e das polícias secretas.

Aqui se transcreve o ensaio de Luís Júdice:

“Desde os tempos de Lenine que o imperialismo é caracterizado como estádio supremo do capitalismo e fautor de guerra e morte. A burguesia, no seu afã de rapina e dominação, subjuga e humilha povos e nações, exaure os seus recursos e riquezas e exporta os seus excedentes industriais, obsoletos e descontinuados.

Esta necessidade de, por um lado, subjugar mercados e assegurar o domínio dos recursos energéticos e das matérias-primas e, por outro, a nível político, as zonas de influência imperial, levaram, no último século e meio, a três grandes conflitos mundiais e a uma globalização sem precedentes dos conflitos regionais.

Durante a I e a II Grandes Guerras Mundiais, os conflitos decorriam numa frente única e entre as nações envolvidas. Dada, por um lado, a destruição massiça resultante desses conflitos em casa própria – estaremos certamente bem informados sobre a morte de milhões de elementos do povo e a destruição de centenas de cidades e milhares de fábricas por essa Europa e pelo mundo fora -, e a vitória da concepção marxista-leninista-maoista de transformar as guerras imperialistas em guerras revolucionárias, populares – como o comprovam as Revoluções Russa de 1917 e a Revolução Chinesa de 1949 – a lição que a burguesia e toda a sorte de potências imperialistas aprendeu então foi a de que, de futuro, deveria transferir esses sangrentos conflitos para o quintal dos outros.

É neste novo contexto que povos e nações de todo o mundo se vêem obrigados a empunhar armas – porque, tal como dizia Mao, o poder está na ponta da espingarda –, e levar a cabo guerras pela sua independência e autodeterminação contra o imperialismo americano, o imperialismo soviético e outras potências coloniais.

Contudo, tais conflitos continuavam a caracterizar-se por ocorrerem numa só frente de combate, apesar de o imperialismo e o social-imperialismo começarem a demonstrar, face às derrotas infligidas por esses povos e nações, não passarem de autênticos tigres de papel.

Com a derrota das revoluções soviética e chinesa às mãos de cliques de traidores que enveredaram por sistemas do capitalismo monopolista de Estado e promotores de uma nova burguesia, o imperialismo tornou-se ainda mais agressivo e, prosseguindo o princípio que sempre acalentara da independência e soberania limitadas, passa a policiar o mundo e a intervir militarmente sempre e onde considera estar em causa a sua influência, isto é, sempre que os seus interesses, a sua acção de rapina, dominação e humilhação são postos em causa.

Mas, o que diferencia a situação actual das épocas acima descritas é um novo facto, um novo desenvolvimento. A famigerada globalização – tão cara ao imperialismo e aos imperialistas –, ao promover, por um lado, a bascularização da economia, promoveu, por outro, uma migração massiva e constante de trabalhadores de nações empobrecidas pela guerra e pela rapina, para as nações ditas dominantes e promotoras dessa rapina, guerra e destruição.

Se as primeiras gerações de migrantes e refugiados foram assimilados pelas nações de acolhimento, já as segunda e terceira gerações, com um maior acesso à formação intelectual, científica e cultural e à informação, passou a integrar aquilo a que os governos imperialistas classificam como movimentos radicalizados. Uma classificação que serve para escamotear que, desta vez, os radicais que se opõem ao genocídio de que os países de origem dos seus pais são vítimas por parte de toda a sorte de potências imperialistas são, agora, cidadãos das potências agressoras.

Uma afirmação que serve para escamotear o seu desespero e fraqueza, demonstrativa de que o imperialismo tem pés de barro e de que é possível aos povos e nações oprimidas derrotá-lo em toda a linha, quer na frente externa, quer na frente interna.

Trata-se, pois – e é essa a diferença qualitativa em relação aos conflitos anteriores –, de uma guerra travada em duas frentes. A frente do país ou nação invadida pelas potências imperialistas – americanos, alemães, franceses, britânicos, russos, etc. – e a frente que muitos dos filhos daqueles que foram forçados a migrar para esses países imperialistas constituiram nos mesmos. O caso da França é paradigmático. Actualmente, 15% da população francesa é de origem muçulmana.

Em países como a Bélgica, a França, a Grã-Bretanha, mas não só, esta frente de conflito pode, rapidamente, ressultar em guerras cívis. Neste contexto, os marxistas-leninistas têm de saber organizar a classe operária e os seus aliados para transformarem as guerras imperialistas e as guerras cívis que delas podem resultar, em guerras revolucionárias que imponham democracias populares, no caminho para a conquista de sociedades socialistas, livres da rapina, do ódio, da morte e da humilhação que caracterizam o imperialismo, estádio supremo do capitalismo!

Tanto mais quanto este é um dos pontos que está a dividir os operários no movimento comunista internacional, onde as correntes oportunistas e revisionistas defendem que os operários devem apoiar as “suas” burguesias, isto é as classes dominantes das potências imperialistas agressoras, contra o “terrorismo”, atacando e renegando a permissa marxista de “Proletários de Todos os Países, Povos e Nações Oprimidas do Mundo, Uni-vos!”

     28.06.2016

Luís Júdice