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INTERNACIONAL

Às 21H00 de sexta-feira, as três brigadas e os oito homens estão no seu teatro de operações – na margem direita do Sena, na cidade de Paris, capital da França, coração da Europa – e movimentam-se para os seus objectivos.

Primeiro objectivo: o Estádio de França, já nos arredores da cidade, para os lados de São Dinis, área antiga dos bidonvilles (bairros de lata) dos emigrantes portugueses. A brigada é composta por três jiadistas, que todavia não conseguem entrar no estádio, a abarrotar com 80 000 espectadores, que assistiam ao jogo de futebol que se disputava entre a França e a Alemanha, sob a presidência de François Hollande. Os jiadistas optam por fazer explodir os cintos no exterior do estádio, imolando-se aos três, dois deles perto da entrada do recinto desportivo, às 21H20 e às 21H30, provocando a morte a dois cidadãos de Paris, um dos quais de nacionalidade portuguesa, Manuel Colaço Dias, taxista, de 63 anos, alentejano de Corte do Pinto, no concelho de Mértola. O terceiro jiadista fez-se explodir às 21H53, um pouco mais distante do estádio, na Rua La Corríge, em frente da loja Mc Donalds.

Segundo objectivo: às 21H25, com disparos de Kalashnikov, 14 mortos nas esplanadas do café Le Carrillon e do restaurante Le Petit Cambodge, já dentro da cidade de Paris e a cerca de vinte Kms do Estádio de França. Não se sabe quantos jiadistas participaram na missão do segundo objectivo, nem se conseguiram ou não retirar do local da operação.

Terceiro objectivo: às 21H32, com disparos do mesmo tipo de espingarda automática, cinco mortos e seis feridos graves no terraço da Boa Cerveja e no restaurante Casa Nostra, na rua de La Pompiére, não muito longe do segundo objectivo, e que poderia ter sido atacado pelo mesmo ou pelos mesmos jiadistas que atacaram o objectivo anterior. Sejam ou não os mesmos, não se sabe se conseguiram ou não retirar do local (ou locais) da acção.

Quarto objectivo: às 21H36, na Rua Caronne, n.º 92, com disparos de Kalashnikov, dezanove mortos e catorze feridos no terraço da La Belle Equipe, provocado, não se sabe se por um ou por dois atiradores, mas que muito provavelmente não serão os mesmos (ou o mesmo) que atacaram (ou atacou) o segundo objectivo, pois seria quase impossível fazer em quatro minutos o percurso entre os dois objectivos. Não se sabe se o ou os jiadistas, autores deste tiroteio, lograram ou não retirar do local da operação.

Quinto objectivo: às 21H46, na esplanada da cervejaria Comptoir Voltaire, já perto da Praça da República, um jiadista fez-se explodir, sem todavia provocar vítimas.

Sexto objectivo: às 21H49, na sala de concertos do Bataclan, quatro jiadistas armados de espingardas automáticas AK47 e com cintos explosivos, desencadearam um tiroteio e tomaram reféns, que amontoaram no fosso da orquestra até à meia-noite e quarenta minutos, momento em que a RAID, brigada de elite da polícia de intervenção, entrou na sala de concertos e matou um dos quatro jiadistas que efectuaram o assalto ao sexto objectivo, tendo os outros três feito imediatamente explodir os seus cinturões. O resultado saldou-se por noventa e quatro mortos, contando também os quatro jiadistas, e centenas de feridos.

No total contado pelo procurador-geral de Paris, após a operação do Bataclan, morreram 129 cidadãos parisienses, três dos quais de nacionalidade portuguesa, e ficaram feridas 352 pessoas, noventa e nove das quais em estado grave.

Sabe-se, para já, que um dos jiadistas mortos é cidadão francês, filho de pai argelino e de mãe portuguesa, três outros serão cidadãos franceses residentes na Bélgica, e dos quatro restantes, todos mortos, nada se sabe, por enquanto apenas a circunstância de que a polícia terá encontrado junto do corpo esfacelado de um deles um passaporte ou bilhete de identidade sírio, que entretanto já foi reconhecido como falso.

O Estado Islâmico reivindicou a operação de Paris, assim como já tinha reivindicado a destruição do avião comercial russo, com 224 passageiros a bordo, sobre o Sinai, em 31 de Outubro passado.

A operação que acima deixámos sucintamente descrita é uma grande operação militar, que significou uma importante vitória para as forças do Estado Islâmico e uma clamorosa derrota para o governo de François Hollande, para todas as forças armadas e policiais da França e sobretudo para os respectivos serviços de informação. Hollande, Manuel Valls, Laurent Fabius, todos os dirigentes actuais da França podem berrar tudo o que quiserem contra os jovens jiadistas que, durante três horas, puseram Paris a ferro e fogo, que mesmo assim não conseguirão nunca ocultar a vergonha e a raiva que causaram à França e aos franceses e a perplexidade que suscitaram ao mundo com a derrota que oito jovens infligiram às mais poderosas forças armadas e policiais da Europa continental.
Falemos um pouco das causas e da envergadura desta derrota.

Em primeiro lugar, ver-se-á muito em breve a verdade que François Hollande mais teme revelar: que os oito jiadistas que puseram Paris a ferro e fogo eram todos ou quase todos cidadãos franceses da primeira, da segunda e da terceira gerações de imigrantes em França, ou seja: eram cidadãos franceses de pleno direito. Muçulmanos, é certo, mas franceses.

Com efeito, não haverá ninguém de bom senso que julgue que o Estado Islâmico conseguiria infiltrar oito jiadistas da Síria, do Iraque ou do Magrebe em França, para atacar Paris com a limpeza com que Paris foi atacada.

Quando se souber que os oito jiadistas eram todos ou quase todos cidadãos franceses, o proletariado primeiro, mas depois todo o povo francês, irão perguntar ao oportunista e reaccionário Hollande: Mas o que é isto?

Ao atacar com as suas tropas e aviões as populações muçulmanas do Mali, da Nigéria, do Chade, da Líbia e da Síria, para já não falar do Iraque e do Afeganistão, Hollande está a lançar as sementes de uma guerra civil na própria França.

É que 10% da população francesa actual é de credo muçulmano. Há, assim, oito milhões de muçulmanos em França; considerando que, por razões de vária ordem, incluindo religiosas e de outras índoles ideológicas, a taxa de crescimento da população muçulmana francesa é muito mais alta do que a taxa de crescimento da restante população; dentro de trinta ou quarenta anos, metade da população francesa é de origem e credo muçulmanos; se a política de Hollande e da França continuar a ser a do moribundo imperialismo francês actual, de ataque aos crentes e muçulmanos para usurpar-lhes o seu petróleo, Hollande estará a transformar a França não num barril de petróleo, mas num barril de pólvora.

Entendamo-nos: o que se viu sexta-feira em Paris não é verdadeiramente um ataque do Estado Islâmico, mas o começo de uma guerra civil que ronda as entranhas da França.

Perguntem ao General Eanes, que leu os mesmos livros que eu em estratégia e táctica militares, desde Lao-Tsé e Clausewitz a Schwarzkopf e Collin Powel: quanto custa em homens, material, apoios e dinheiro a operação militar desencadeada sexta-feira em Paris? Quanto custa a logística de uma tal operação?

Em dinheiro, custará à volta de cinquenta milhões de euros, e esse dinheiro poderá ter vindo, todo e exclusivamente, do Estado Islâmico. Mas o resto – e o resto é muito, é quase tudo! – em casas de apoio, em locais de retirada, em meios de locomoção, em armas, em explosivos e em homens, não vieram da Síria, ou do Iraque, ou da Líbia, ou do norte do Mali. Todo o resto estava e está em França; em Paris, nos subúrbios e em toda a França.

Para apoiar a secção dos oito jovens jiadistas que morreram, é preciso uma unidade militar de 50 homens só para a logística. Esses 50 homens são franceses do Hexágono; não vieram da Síria, da Líbia ou do Iraque. As armas e os explosivos, as munições também estavam em França. Nada disso, nem homens de apoio, nem dinheiro, nem armas, nem casas de cobertura vieram nos insufláveis dos refugiados sírios ou magrebinos.

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