EDITORIAL

As Presidenciais Francesas

Realizou-se ontem o sufrágio da segunda volta das eleições presidenciais em França. Concorreram os dois mais votados candidatos da primeira volta: Emmanuel Macron, antigo ministro demissionário de economia do primeiro governo do presidente François Hollande, Macron que fundou entretanto um movimento político da direita liberal, designado En Marche!, e Marine Le Pen, da Frente Nacional, partido político de extrema-direita, chauvinista e racista, fundado no começo dos anos setenta pelo pai da candidata.

O partido socialista francês, de François Hollande, praticamente desapareceu nestas eleições, pois o seu candidato, Benoît Hamon, teve apenas 6,3% dos votos na primeira volta. François Hollande, cujas sondagens sobre popularidade chegaram a ser inferiores a 4%, não concorreu a um segundo mandato presidencial, obviamente para evitar uma derrota humilhante.

Macron venceu a primeira volta do sufrágio presidencial com 24,10%, enquanto que Marine Le Pen alcançou então 21,30%. No sufrágio realizado ontem, isto é, na segunda volta, Macron foi eleito com 66,10% dos votos expressos, contra 33,50% da candidata da extrema-direita, Marine Le Pen.

O partido socialista franceês de François Hollande apelou ao voto em Macron, como o mal menor, em relação ao mal maior que seria Le Pen. Ou seja, Hollande e o partido socialista apelaram ao voto no representante da direita liberal reaccionária, que aliás já haviam incluído no primeiro governo do actual presidente socialista como ministro da economia, em alternativa ao voto em Marine Le Pen.

Tristérrima alternativa a que conduziu a política reaccionária de direita seguida por Hollande, em obediência às necessidades da aliança do imperialismo francês com o imperialismo alemão.

Todos os partidos ditos de esquerda apelaram, na segunda volta, ao voto em Macron, sempre segundo os ditames da porca teoria oportunista do mal menor.

Mas a questão central é outra: o que é que têm feito os partidos da esquerda francesa para que o seu eleitorado possa seguir uma política revolucionária de classe autónoma e independente?

Como todos sabem, esses partidos ditos de esquerda, no domínio da presidência de François Hollande, não fizeram outra coisa senão apoiar cobardemente a política reaccionária de guerra do imperialismo francês na África e no Próximo e Médio Oriente, e o desemprego, os cortes salariais e os aumentos de impostos sobre os trabalhadores no interior do país. Por outro lado, esses partidos ditos de esquerda apoiaram a política interna terrorista de François Hollande e do partido socialista francês, que se caracterizou por alterações constitucionais que liquidaram os direitos e garantias fundamentais dos cidadãos franceses, permitindo a prisão sem culpa formada e os assaltos a residências pelas polícias sem qualquer mandato judicial.

Sob a presidência de François Hollande e a vigência dos governos ditos socialistas, o partido do velho Jean Jaurès transformou-se num partido de lacaios do imperialismo francês, chegando ao ponto do chefe do Governo Manuel Valls propor que os socialistas franceses apagassem a expressão socialismo no programa e no nome do seu partido.

A França elegeu ontem um presidente de direita, lacaio e agente do imperialismo francês e inimigo jurado dos operários e desempregados franceses e dos cidadãos da França, sejam de sangue árabe ou de ideologia religiosa muçulmana.

As consequências do apelo da chamada esquerda francesa ao voto num candidato presidencial da direita como o mal menor, que seria o voto no candidato da extrema-direita, estão à vista: daqui a cinco anos, quando se repetirem as eleições presidenciais em França, vai ser inevitavelmente eleita a previsível candidata Marine Le Pen, da Frente Nacional.

Com todos os partidos e movimentos políticos a votarem no mal menor, Emmanuel Macron subiu de 24% dos votos na primeira volta, para 65,3% na segunda volta. Mas a ameaça da futura vitória da extrema-direita agravou-se: a Frente Nacional passou a ser o maior partido da oposição em França e a sua votação directa subiu de 21,36% na primeira volta, para 34,70% na segunda.

Chamo especialmente a atenção dos meus leitores para a dimensão e o significado do voto popular de protesto que se pode extrair da abstenção e dos votos brancos e nulos.

A abstenção alcançou o nível record de sempre, posterior às eleições de 1969, vai para cinquenta anos. Nas eleições de ontem abstiveram-se 12 milhões de franceses, mais do que um quarto (25,5%) de todos os cidadãos inscritos.

Os votos nulos e brancos subiram a 4,2 milhões de votos, ou seja, 12% do eleitorado inscrito. Há pois mais de 16 milhões de franceses que não se deixaram iludir pela teoria oportunista do mal menor. E é aí que está a verdadeira esquerda operária revolucionária.

As últimas eleições presidenciais francesas mostram como os partidos ditos socialistas e os falsos comunistas estão a desaparecer do quadro político da Europa. Nos países europeus, como aliás em todo o mundo, os comunistas e os proletários devem unir-se e organizar-se para rejeitar o imperialismo e as suas teorias reaccionárias da guerra imperialista e do mal menor, para lutarem à frente de todos os povos pelo comunismo e pela revolução mundial proletária.

Nem Hollande, nem Macron, nem Le Pen! Proletários de França, uni-vos! Sim ao partido comunista da classe operária revolucionária! Proletários de todos os países, uni-vos!

08Mai17

Arnaldo Matos